Futura ministra da Alemanha sugere restringir importações da China para pressionar por respeito aos direitos humanos
Annalena Baerbock, que chefiará pasta das Relações Exteriores, quer usar poder de compra da União Europeia para pressionar Pequim a respeitar direitos humanos. Embaixada chinesa reage e pede relação bilateral pragmática.A próxima ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que é necessário colocar limites a países autoritários como a China. Uma das formas de fazer isso, segundo ela, seria restringir, na União Europeia, a importação de produtos chineses, o que seria um "grande problema" para Pequim.
A proposta de Baerbock, que também é co-líder do Partido Verde da Alemanha, foi feita em entrevista ao jornal Die Tageszeitung (TAZ), e provocou uma resposta da embaixada da China em Berlim na sexta-feira (3/12)
Os comentários de Baerbock indicam uma mudança de política no próximo governo alemão, liderado pelo futuro chanceler federal Olaf Scholz, que deverá tomar posse na próxima quarta-feira.
O que disse Baerbock?
A futura ministra das Relações Exteriores defendeu que as críticas da Alemanha sobre a China deveriam ser abordadas claramente.
"O silêncio eloquente não é uma forma de diplomacia no longo prazo, mesmo que tenha sido considerado como tal por alguns nos últimos anos", disse ela ao TAZ, em uma aparente referência ao governo prestes a deixar o poder, comandado pela chanceler federal Angela Merkel.
"Para mim, uma política externa baseada em valores é sempre uma interação entre diálogo e dureza."
A futura ministra das Relações Exteriores disse que, apesar de o diálogo ser um componente central da política internacional, "isso não significa que você tenha que encobrir as coisas ou ficar quieto".
Seu comentário é uma referência às diversas acusações de violações de direitos humanos pela China, incluindo a detenção de cerca de um milhão de muçulmanos uigures em "campos de reeducação" na província de Xinjiang.
Baerbock sugeriu que uma das ferramentas para pressionar Pequim poderia ser restringir a importação de produtos chineses pela União Europeia, dizendo que isso seria "um grande problema para um país exportador como a China".
"Nós europeus deveríamos usar muito mais esse poder do mercado interno comum [da UE]", disse ela ao TAZ.
Baerbock também afirmou ser imperativo que países do mundo inteiro "unam forças" para combater a mudança climática, acrescentando que a crise "só poderá ser superada globalmente e de forma cooperativa".
Qual foi a resposta da China?
Em um comunicado publicado na sexta-feira, a embaixada chinesa em Pequim pediu a "alguns políticos alemães" que "olhem para a China e para as relações sino-alemãs de forma objetiva e holística" e "dediquem sua energia mais à promoção da cooperação prática entre os dois lados".
Sobre as relações entre os países, a embaixada disse que "nossas diferenças e divergências hoje não são de forma alguma maiores do que eram há 50 anos". "Comparadas a essa época, nossas áreas de cooperação e interesses comuns são agora significativamente maiores."
O comunicado também pediu "construtores de pontes ao invés de construtores de muros", e disse que a China estava "pronta para se reunir com o novo governo federal alemão, para desenvolver nossos interesses comuns com base no respeito mútuo, igualdade e benefício mútuo, com o objetivo de colocar as relações (...) em um caminho bom e estável".
"Nossas relações ao longo do último meio século mostraram que é perfeitamente possível superar diferenças ideológicas entre países, evitar jogos de soma zero e alcançar situações de ganho mútuo para benefício mútuo", afirmou a embaixada.
Qual é o estado atual das relações teuto-chinesas?
A administração Merkel foi muitas vezes criticada por priorizar os fortes laços comerciais da Alemanha com a China, enquanto fazia vista grossa às questões de direitos humanos na potência asiática. A estratégia ajudou a China a se tornar o maior parceiro comercial da Alemanha.
Merkel também foi a força motriz por trás do acordo de investimento entre a UE e a China assinado no ano passado, que está atualmente suspenso devido às tensões entre Bruxelas e Pequim.
Merkel alertou contra dissociar Europa da China
Diante da crescente rivalidade econômica e militar, os Estados Unidos, sob o comando do ex-presidente Donald Trump, lançaram uma guerra comercial com a China. No entanto, a Alemanha não se envolveu.
A comunidade empresarial alemã tem desejado há décadas que a China siga se abrindo às empresas internacionais. Contudo, as políticas adotadas pelo presidente Xi Jinping parecem estar movendo o país na direção oposta.
A repressão de protestos pró-democracia em Hong Kong, os "campos de reeducação" em Xinjiang e as ameaças militares de Pequim contra Taiwan desencadearam conversas sobre adotar uma resposta mais incisiva ao crescente autoritarismo da China.