PUBLICIDADE

"Fui descobrindo um picareta", diz empresário que denunciou pastor em esquema do MEC

Edvaldo Brito revelou como funcionava os pedidos por propina no chamado 'gabinete paralelo'

27 jun 2022 - 09h57
(atualizado às 09h59)
Compartilhar
Exibir comentários
Fachada do Ministério da Educação em Brasília
Fachada do Ministério da Educação em Brasília
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado / Estadão

Responsável pela denúncia do 'gabinete paralelo' de pastores que desviava dinheiro do Ministério da Educação (MEC), o empresário Edvaldo Brito revelou como funcionava os pedidos (e as pressões) por propina no esquema investigado pela Polícia Federal na Acesso Pago, operação que levou a prisão o ex-ministro da pasta Milton Ribeiro, além dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, ligados a Jair Bolsonaro (PL). Todos já estão soltos.

“Eu descobri que o ministro tinha um gabinete itinerante. Os técnicos do FNDE iam para um determinado município, organizavam um evento em parceria com os municípios, e aí todos os outros municípios eram atendidos”, contou Edvaldo em entrevista para o programa Fantástico desse domingo, 26.

Os recursos obtidos pelos prefeitos são do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), destinados à reforma e construção de escolas e creches, por exemplo.

O empresário decidiu procurar os pastores para levar o gabinete itinerante para sua cidade, Nova Odessa, no interior de São Paulo. O encontro aconteceu no mês de maio de 2021 em um hotel em Brasília. Ali, ficou acertado um evento no município.

“Naquele momento, eu estava falando com um pastor, um pastor que ajudava as pessoas. Porque o que eu conheço é isso", relatou.

Na sequência, Edvaldo recebeu convite para ir até Brasília gravar um vídeo com Milton Ribeiro, então chefe do MEC. Naquele dia, o empresário recebeu o primeiro pedido de dinheiro da parte de Arilton.

“O próprio Arilton disse: ‘Olha, eu preciso que você faça uma doação. É para uma obra missionária’. Eu falei: ‘Tudo bem. E de quanto é essa doação?’, aí ele falou: ‘Ah, por volta de R$ 100 mil reais é a doação’. Eu falei: ‘É muito. Eu não tenho. Eu não tenho condição. Mas eu tenho amigos, pessoas, empresários que costumam investir na obra e que eu vou pedir a doação’.”

Após a transferência do dinheiro, Edvaldo foi novamente procurado por Arilton, que dessa vez pediu pagamento da passagem de avião para realizar o evento em Nova Odessa. A partir daí, o empresário começou a desconfiar do que estava acontecendo.

"Ele pressionava [pelo dinheiro], dizia que, se eu não pagasse, ele não viria, não teria culto", disse. "Daí eu comecei a descobrir um cara não-cristão; um picareta", definiu.

Bolsonaro, à direita, ao lado do pastor Arilton Moura. Em segundo plano, o pastor Gilmar Santos. No plano de fundo, o ex-ministro Milton Ribeiro, da Educação
Bolsonaro, à direita, ao lado do pastor Arilton Moura. Em segundo plano, o pastor Gilmar Santos. No plano de fundo, o ex-ministro Milton Ribeiro, da Educação
Foto: Pastor Gilmar Santos/Instagram / Estadão

O empresário acabou pagando as passagens aéreas e se surpreendeu com um novo pedido do pastor. "Ele queria mais R$ 10 mil", detalhou. "Quando falei que já havia feito doações, ele falou: 'Pague do seu bolso, seu filho do demônio'".

Em setembro daquele ano, Edvaldo viajou então para Brasília e encontrou Milton Ribeiro para fazer a denúncia. "Ele disse que era muito grave, pior do que ele imaginava e que levaria o caso para a CGU [Controlaria-Geral da União]". Em março deste ano, reportagens foram publicadas denunciando o esquema.

Entenda

Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, Arilton Moura e Gilmar Santos compunham um "gabinete paralelo" suspeito de agilizar liberação de verbas para prefeituras em troca de propina.

Em conversas gravadas que vieram a público, o ex-ministro Milton Ribeiro admitiu que priorizava o atendimento a prefeitos que chegam ao ministério por meio dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Falando a dirigentes municipais dentro do ministério, Ribeiro afirmou, na ocasião, que seguia ordem do presidente Jair Bolsonaro.

Na gravação, Milton Ribeiro diz que a liberação de recursos foi um "pedido especial" de Bolsonaro. "Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar (Santos)" - Arilton Moura e Gilmar Santos estavam presentes na reunião. "A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar".

O prefeito Gilberto Braga (PSDB), de Luís Domingues (MA), revelou que o pastor Arilton Moura chegou a pedir pagamento em ouro para liberar recursos da pasta destinados à construção de escolas e creches em municípios. Segundo Braga, o pastor cobrava outros R$ 15 mil apenas para abrir protocolos de demanda no ministério. Depois que a demanda fosse atendida, outro valor era solicitado, o que poderia variar de caso a caso.

Gilmar e Arilton estiveram em pelo menos 22 agendas oficiais do Ministério da Educação desde o começo de 2021, sendo 19 delas com a presença do então ministro Milton Ribeiro.

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade