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Ex-militar da ditadura argentina é condenado nos EUA

2 jul 2022 - 14h06
(atualizado às 14h30)
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Roberto Guillermo Bravo foi condenado a pagar US$ 27 milhões a familiares de vítimas do "massacre de Trelew". Em 1972, Bravo e outros militares executaram 16 prisioneiros políticos em uma base militar na Patagônia.Um júri no estado americano da Flórida considerou nesta sexta-feira (01/07) um ex-oficial da Marinha argentina responsável pelo assassinato de um grupo de prisioneiros políticos em seu país de origem, episódio conhecido como "Massacre de Trelew", em agosto de 1972.

Roberto Guillermo Bravo vive nos EUA desde 1973
Roberto Guillermo Bravo vive nos EUA desde 1973
Foto: DW / Deutsche Welle

O processo tramitou na esfera civil. Ao final, o ex-oficial Roberto Guillermo Bravo, de 79 anos, foi condenado a pagar mais de US$ 27 milhões em danos às famílias de quatro das vítimas.

Bravo e outros oficiais militares foram acusados de matar a tiros 16 prisioneiros políticos desarmados e ferirem gravemente outros três na base militar de Trelew, na Patagônia, na madrugada do dia 22 de agosto de 1972. O massacre ocorreu durante a ditadura de Alejandro Agustín Lanusse, no regime conhecido como "Revolução Argentina".

Guillermo Bravo, que vive nos EUA desde 1973 e tem cidadania americana, permaneceu calmo ao ouvir o veredicto. "Estou feliz por eles", disse mais tarde à agência de notícias AP ao deixar a sala de audiências.

Massacre de Trelew

Na versão oficial dos acontecimentos, o massacre ocorreu quando 25 guerrilheiros de esquerda foram baleados enquanto tentavam fugir de uma prisão.

Foi somente depois que a Argentina retornou à democracia em 1973 que três sobreviventes do massacre revelaram que os guerrilheiros foram executados pelos militares depois de serem recapturados sem oferecer resistência.

Os três sobreviventes foram posteriormente sequestrados e assassinados pelos militares após o golpe que instaurou novamente um regime militar na argentina entre 1976-83, na chamada "Guerra Suja".

Durante o julgamento de cinco dias em Miami, o júri analisou provas que mostraram que, na madrugada de 22 de agosto de 1972, Bravo e outros oficiais militares acordaram 19 prisioneiros adormecidos, os alinharam e abriram fogo. Do grupo de 25 prisioneiros que realizou a fuga, apenas seis conseguiram chegar ao Chile, à época sob a presidência de esquerda de Salvador Allende.

Justiça para as famílias

O caso foi levado à Justiça americana por parentes de Eduardo Cappello, Ruben Bonet e Ana Maria Villarreal de Santucho, que foram mortos no massacre, além de familiares de Alberto Camps, que foi um dos três sobreviventes.

O júri também ouviu depoimentos sobre a perseguição sistêmica das famílias das vítimas que se seguiu ao massacre.

"Esperamos que o veredicto de hoje proporcione uma medida de justiça para nossos clientes, assim como para os ativistas, advogados e muitos outros na Argentina que lutaram tanto e tão duramente", disse Claret Vargas, advogado que representa as famílias.

Bravo era até então o único oficial militar que não tinha enfrentado a Justiça pelo seu papel no massacre. Três outros ex-oficiais que participaram da chacina já haviam sido condenados na Argentina à prisão perpétua.

Os EUA rejeitaram anteriormente um pedido da Argentina para extraditar a Bravo. Ele deixou o país em 1973 e se tornou cidadão americano em 1987.

O processo civil contra a Bravo foi iniciado com base numa lei americana que permite a apresentação de processos na esfera civil contra residentes dos EUA por atos cometidos em outras jurisdições.

ss/nm /jps (AP, EFE)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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