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EUA autorizam uso de remédio experimental contra coronavírus

2 mai 2020 - 08h52
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Remdesivir tratará pacientes em estado grave. Medicamento mostrou resultado em estudo, mas fabricante adverte que segurança e eficácia do tratamento não foram comprovadas. Anvisa diz que vai se reunir com a farmacêutica.O governo dos Estados Unidos autorizou o uso do medicamento antiviral Remdesivir para tratar pacientes com covid-19 em estado grave, embora a própria fabricante do remédio, a Gilead Sciences, reconheça que ainda não foram comprovadas segurança e eficácia do tratamento.

O Remdesivir, fabricado pela Gilead, é um medicamento antiviral experimental não vendido em farmácias
O Remdesivir, fabricado pela Gilead, é um medicamento antiviral experimental não vendido em farmácias
Foto: DW / Deutsche Welle

O presidente americano, Donald Trump, anunciou que a droga recebeu uma "liberação de emergência" da Administração de Alimentos e Drogas dos EUA (FDA, na sigla em inglês), agência governamental que aprova o uso de produtos de saúde pública.

"É realmente uma situação muito promissora", disse Trump na Casa Branca nesta sexta-feira (01/05), ao lado do CEO da Gilead, Daniel O'Day, e do chefe da FDA, Stephen Hahn.

"[A aprovação] aconteceu na velocidade da luz", disse Hahn, chamando o medicamento de um "importante avanço clínico". "É a primeira terapia autorizada para covid-19, então estamos muito orgulhosos de fazer parte disso." O'Day também se disse satisfeito com a liberação do remédio e anunciou que a Gilead doará 1 milhão de doses.

O presidente americano explicou que o fármaco só será usado para tratar pacientes internados em estado grave, como aqueles com problemas respiratórios que necessitam de oxigênio suplementar e de ventiladores, por exemplo.

Durante a semana, Trump já havia manifestado o desejo de que a FDA, que em teoria é uma agência independente, acelerasse o processo de aprovação do remédio, administrado por via intravenosa.

Em comunicado, a FDA admitiu que há informações limitadas sobre segurança e eficácia do Remdesivir no tratamento do vírus Sars-cov-2, mas disse que embasou a liberação em um estudo clínico recente que mostrou que o medicamento encurta o tempo de recuperação em alguns pacientes.

A pesquisa, realizada nos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, mostrou que 1.063 pacientes internados com covid-19 que receberam Remdesivir tiveram uma recuperação 31% mais rápida, de 11 dias em média, do que aqueles que receberam placebo, recuperados em 15 dias.

Também em nota, a Gilead foi cautelosa e disse que a eficácia do Remdesivir ainda está sendo pesquisada. Além disso, a empresa com sede no estado da Califórnia observou que a dose e a duração do tratamento ainda são desconhecidas. Por enquanto, sob autorização da FDA, o remédio será administrado por cinco ou dez dias, dependendo do estado de saúde do paciente.

A farmacêutica disse ainda que será dada prioridade às regiões mais afetadas. Por isso, espera-se que o medicamento chegue em breve ao estado de Nova York, epicentro da pandemia nos Estados Unidos, que já soma 313 mil casos confirmados e mais de 23 mil mortes.

O vice-presidente americano, Mike Pence, anunciou que 1,5 milhão de frascos do remédio começarão a ser distribuídos aos hospitais do país na segunda-feira.

Anvisa em contato com a Gilead

Após a aprovação da droga nos Estados Unidos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que vai se reunir nos próximos dias com a Gilead para "verificar o interesse e a viabilidade do fornecimento" do Remdesivir no Brasil.

"A Anvisa está em contato com a Gilead, empresa que fabrica o Remdesivir no exterior, a fim de acompanhar a evolução dos estudos do medicamento para o tratamento da covid-19", disse a agência em comunicado.

"A Gilead tem vários ensaios clínicos em andamento para o Remdesivir, com dados iniciais esperados nas próximas semanas. Caso o benefício do medicamento se comprove, a Anvisa possui mecanismos, como anuência de uso em programa assistencial e priorização de registro, para garantir o acesso célere do medicamento à população", completou.

O Ministério da Saúde informou, também em nota, que a Fiocruz participa de uma pesquisa comandada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para testar a segurança e eficácia de uma série de medicamentos contra a covid-19, e o Remdesivir é um deles.

Fracasso em teste experimental

Embora dados clínicos recentes tenham aumentado a esperança de que a droga da Gilead possa ser um tratamento eficaz contra o novo coronavírus, o rascunho de um sumário sobre testes com o medicamento,divulgado por acidente pela OMS recentemente, revelou que o remédio fracassou em um primeiro teste clínico.

O sumário afirma que, em testes realizados na China em 237 pacientes, com 178 medicados e outros 79 em um grupo de controle da doença, não houve melhoras nas condições de saúde nem redução da presença de patógenos no sangue. A aplicação do Remdesivir foi até mesmo interrompida precocemente em 18 pacientes em razão de efeitos colaterais.

À época, um porta-voz da Gilead disse que o texto continha "caracterizações inadequadas do estudo", afirmando que a pesquisa foi encerrada precocemente em razão do baixo número de voluntários, o que a tornaria irrelevante em termos estatísticos.

O Remdesivir, droga experimental não vendida em farmácias, pertence a uma categoria de medicamentos que agem diretamente contra o vírus, impedindo que o patógeno se reproduza, ao contrário de outros que controlam as reações no sistema imunológico.

O novo coronavírus já infectou mais de 3,3 milhões de pessoas no mundo e matou 238 mil. Os EUA são o país mais atingido em números absolutos, com 1,1 milhão de casos confirmados e 65 mil mortes, com grande parte do país em confinamento para conter a propagação do vírus. O Brasil soma 91.589 casos e 6.329 mortes, segundo o Ministério da Saúde.

EK/afp/ap/rtr/efe/ots

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