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Contaminados foram transferidos para o Rio |
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Marcela Mourão/Redação Terra
"Todos os dias eu pegava aquela pedra. Minha mulher tinha pavor e vivia tapando a pedra. Ela detestava e eu amava a pedra. Eu convivi oito dias com aquela pedra. Tomava cerveja e colocava o copo em cima dela".
A "pedra" brilhava e chamava a atenção. Foi por isso que Devair Alves Ferreira se encantou por ela. Até descobrir a tragédia que aquilo estava causando dentro e fora de sua família.
Por mais inocente que pareça, foi assim que ocorreu a contaminação radioativa com Césio 137 em Goiânia, em setembro de 1987, há 15 anos. Uma cápsula, contendo um pó azul, que passava de mão em mão, ia contaminando o ar e as pessoas da cidade até se tornar o segundo maior acidente nuclear do mundo, atrás de Chernobyl, e o pior com material radioativo usado na medicina. Foram mais de 800 contaminados em Goiânia e quatro vítimas fatais, entre elas a mulher de Devair, Maria Gabriela, que tanto pavor sentia do objeto.
Após 15 anos, pessoas ainda lutam para ser reconhecidas como vítimas da tragédia e receber a devida ajuda governamental, no entano, não é possível precisar esse número. A Superintendência Leide das Neves Ferreira (Suleide) informou que algumas pessoas entram com ações nos tribunais, outras, do grupo III, grupo de trabalhadores, lutam para recebimento de pensões (o governo do Estado atribuiu 120 Pensões no valor de R$ 400 para o Grupo de Trabalhadores, funcionários públicos que trabalharam no acidente e que hoje são portadores de doenças graves e crônicas).
Até agora, foram reconhecidas pelo Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN) 120 irradiadas ou contaminadas, que foram divididas em Grupo I (maior exposição) e Grupo II (menor exposição). A Suleide acompanha ainda 517 pessoas no Grupo III (parentes das vítimas e moradores vizinhos de foco). Está em formação (avaliação) o Grupo de trabalhadores no acidente que já conta com 417 (quatrocentos e dezessete) pessoas. A Suleide acompanha ainda os filhos de Grupo I e filhos de Grupo II.
Em dezembro de 1989 foram concedidas pelo governo estadual 105 pensões, reajustadas em julho deste ano para R$ 400 e 800. O último valor contempla 16 pessoas consideradas incapacitadas para o trabalho que exercia anteriormente. O governo federal concedeu 151 pensões que variam entre R$ 186 a R$ 198, a partir de 1996.
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