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'Vaquinhas' não rendem 1% do teto das campanhas nas eleições 2018

Soma das arrecadações virtuais dos principais presidenciáveis chega a R$ 957 mil; limite de gasto este ano é de R$ 105 mi nos dois turnos

31 jul 2018 - 05h12
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O total arrecadado pelos presidenciáveis com o financiamento coletivo é inferior a 1% do total que uma campanha pode gastar nas eleições 2018. Segundo levantamento feito pelo Estado, a soma total da arrecadação virtual, disponível desde maio, foi de R$ 957.173 - número contabilizado até esta segunda-feira, 30. O valor é uma fração ínfima do teto de gastos previsto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para uma eleição presidencial, que é de R$ 70 milhões, acrescido de R$ 35 milhões caso haja segundo turno.

Assim, na primeira eleição geral em que doações de empresas para campanhas políticas estão proibidas, o financiamento deverá ocorrer pelo dinheiro dos fundos partidário e eleitoral.

Segundo analistas, a disseminação da ideia de doação entre os brasileiros ainda levará tempo. Para o diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Murilo Gaspardo, o primeiro entrave para o modelo da "vaquinha online" está na cultura. Segundo ele, o brasileiro não tem o hábito de doar. Além disso, a crise político-econômica e os casos de agentes públicos envolvidos em corrupção colaboram para que os eleitores não doem.

"Se às vezes a pessoa não quer nem votar, quanto mais dar dinheiro", diz. Para ele, alguns partidos menores tendem a levar vantagem, já que estão com a imagem menos desgastada do que as grandes siglas.

Isso pode explicar o sucesso da arrecadação de Marina Silva. A vaquinha online da pré-candidata da Rede começou no domingo, 22, e, em apenas cinco dias, foi capaz de ultrapassar a meta inicial de R$ 100 mil em doações. No total, já são R$ 158.553 graças à contribuição de 1.259 pessoas.

Outra vantagem está na identidade ideológica da Rede, capaz de atrair mais simpatizantes dispostos a fazer uma doação, explica o coordenador do curso de especialização em marketing político da Universidade Metodista de São Paulo, Kleber Carrilho. "Só doa quem enxerga identificação programática ou partidária em uma campanha. Na Rede isso ocorre graças ao apelo da sustentabilidade, deixando o partido mais próximo da sociedade."

Essa mesma relação pode ser observada com o PT, com o PSOL e PSTU, aponta o professor. "No caso do PT, é uma sigla que perdeu seu poder nos últimos anos com a Lava Jato e teve importantes quadros condenados, mas foi capaz de retomar certo prestígio com a narrativa do Lula Livre", avalia.

Mesmo condenado e preso na Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o campeão das vaquinhas virtuais até agora. São R$ 440.819 arrecadados, vindos de 4.657 doadores.

Atrás dele está João Amoêdo (Novo), que recebeu R$ 265.086 de seus 2.059 doadores, seguido de Marina. Guilherme Boulos (PSOL) conseguiu 214 doações que totalizam R$ 28.450, enquanto Manuela d'Ávila (PCdoB) tem R$ 43.931,65. Entre todos os pré-candidatos com sistema de doação online, Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) são os únicos que não divulgam o total arrecadado. Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles não lançaram plataformas de arrecadação online.

Valores. Murilo Gaspardo, da Unesp, ressalta a importância de não comparar os valores conquistados por cada um dos postulantes ao Palácio do Planalto. Para ele, essa equivalência não existe. "Considere o tamanho do PCdoB ou do PSOL em termos de estrutura partidária. Os valores deles podem parecer pequenos, mas não são. É preciso considerar o tamanho da sigla."

Para o professor de ciências políticas do Instituto Presbiteriano Mackenzie Maurício Fronzaglia, as doações online devem se popularizar mais, mesmo com o resultado pouco expressivo até o momento. "Tem limites e não vai atrair todo mundo porque as pessoas precisam estar envolvidas, serem engajadas politicamente. Mas tende a evoluir no médio prazo e nas eleições seguintes." / COLABOROU MARIANNA HOLANDA

Estadão
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