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Polarização alimenta rejeição aos fatos

Participantes do Fórum Estadão-Faap discutiram os limites entre liberdade de expressão e a publicação de notícias falsas nas eleições

11 jun 2018 - 22h16
(atualizado em 12/6/2018 às 10h55)
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A polarização política alimenta a rejeição aos fatos e impulsiona a produção e propagação de notícias falsas, o que pode ser especialmente perigoso em um ano eleitoral. Esse processo resulta em uma tentativa de deslegitimação generalizada da imprensa, na avaliação de especialistas que participaram nesta segunda-feira, 11, do painel "O uso da internet na disputa pelo voto", durante o Fórum Estadão-Faap Campanha Eleitoral e Fake News, em São Paulo.

Os debatedores acreditam que cabe mais à sociedade que ao Estado filtrar essas informações. O professor de Comunicação da USP Eugênio Bucci identifica dois polos de ódio na sociedade que nutrem a propagação das chamadas fake news.

"Fanatismos não toleram os registros dos fatos. No polo de direita e esquerda, há uma intolerância contra o factual. A direita nega o relatório da Comissão (Nacional) da Verdade. Os outros do campo popular negam os casos de corrupção. Há um ódio aos fatos", disse o professor, que também é articulista do Estado. "É notório que os dois lados se recusam a discutir os fatos que na visão deles são desabonadores para eles mesmos."

Esse entendimento da radicalização também aparece na análise do coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fabio Malini. Segundo ele, o discurso polarizado que acompanha as notícias falsas geralmente tem um viés "emocional".

"Nas redes sociais as pessoas acabam só lendo o título dessas fake news, cujo objetivo é afirmar certo tipo de perspectiva ideológica, propagandística." "O que é muito ativado na circulação de informações de política é o envolvimento emocional, que tem a ver com recorte ideológico de quem produz e consome a notícia", disse Malini, responsável por um projeto que monitora dados e redes sociais na universidade.

É importante distinguir, contudo, segundo o professor da Ufes, propaganda e notícia distorcida. A primeira não tem compromisso com a verdade, mas sim, a persuasão. Faz parte do processo político convencer e persuadir. "Hoje circula muita informação e com viés extremamente emocional. A perspectiva do ponto de vista da estratégia digital das campanhas é intensificar isso", disse o professor, no painel moderado pela jornalista Edilamar Galvão, coordenadora do Laboratório de Jornalismo da Faap.

Solução não passa pelo Estado

A solução para evitar a propagação das notícias falsas, segundo avaliaram os especialistas, não passa necessariamente por uma intervenção do Estado. Na semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tomou a primeira decisão com base nas resoluções deste ano contra fake news e mandou tirar do Facebook postagens que acusavam a pré-candidata Marina Silva (Rede) de estar envolvida na Operação Lava Jato.

Malini pondera que o fato de algumas plataformas não terem controle sobre o que é publicado, como é o caso do Facebook, pode ser positivo, no sentido de liberdade de expressão, mas pode acarretar em dano quando uma mentira é mantida no ar.

Para o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Daniel Bramatti, "é complicado deixar na mão da Justiça Eleitoral determinar a supressão de um conteúdo". "Cabe à sociedade, às plataformas que permitem a disseminação do conteúdo estabelecer regras para o que pode circular", afirmou.

A avaliação é de que o trabalho de supressão de conteúdo pode se confundir com censura e esbarra no princípio de liberdade de expressão. Os debatedores concordaram que a zona é cinzenta e seria melhor atribuir esse controle à própria sociedade.

Da Diretoria de Análises de Políticas Públicas da FGV-RJ, Marco Aurélio Ruediger aponta para o risco da propagação de fake news por robôs. "Não acho que essa eleição vá ter sucesso se sairmos apontando dedo, mas sim darmos transparência para informações que não estão corretas", afirmou.

Google, Facebook e Twitter foram convidados para o Fórum, mas disseram que, por motivos de agenda, não poderiam enviar representantes ao evento.

Estadão
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