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Em Pernambuco, pouco espaço para renovação na disputa do governo

Pesquisas locais apontam que a vereadora Marília Arraes (PT), prima de Campos e neta do ex-governador Miguel Arraes, que tenta viabilizar sua candidatura ao governo, poderia chegar no segundo turno

3 jun 2018 - 23h02
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RECIFE - O cenário político em Pernambuco projeta uma campanha pelo governo do Estado com pouco espaço para a renovação. A possibilidade mais provável é que ocorra uma reedição da disputa entre os principais candidatos de 2014, que representam grupos tradicionais da política pernambucana.

O atual governador, Paulo Câmara (PSB), herdeiro político do ex-governador Eduardo Campos - morto em um acidente aéreo em agosto de 2014, quando era candidato à Presidência - tem a missão de levar seu partido ao quarto mandato consecutivo à frente do governo do Estado. Considerado de perfil técnico, Câmara chegou ao governo do Estado ao vencer sua primeira eleição. Foi apresentado na campanha como homem de confiança de Campos, de quem foi secretário de Administração, de 2007 a 2010, Turismo, de 2010 a 2011, e Fazenda, de 2011 a 2014.

O principal nome da oposição é o senador Armando Monteiro Neto (PTB), que representa a quarta geração de sua família na política pernambucana. Eleito para o primeiro cargo público há 20 anos, ele é empresário do setor sucroalcooleiro, bisneto do ex-deputado Sérgio Nunes Magalhães, neto do ex-deputado (estadual e federal) e ex-governador Agamenon Magalhães (1893-1952) e filho do ex-ministro da Agricultura Armando Monteiro Filho (1925-2018).

Um terceiro nome pode mexer no cenário político local. A vereadora Marília Arraes (PT), prima de Campos e neta do ex-governador Miguel Arraes, tenta viabilizar sua candidatura ao governo. Pesquisas locais apontam que Marília seria capaz de levar a disputa para o segundo turno e vencer Paulo Câmara, interrompendo 12 anos de governo do PSB.

Ainda assim, Marília encontra resistência em seu próprio partido. A principal delas parte do senador Humberto Costa, um de seus anfitriões na chegada à legenda, que tenta reaver a aliança com o PSB rompida desde as eleições municipais de 2012 e, desta maneira, pavimentar sua candidatura à reeleição. Para isso, Marília teria que desistir da disputa.

Câmara elegeu-se afirmando que, como secretário, aumentou a eficiência do Estado "transformando gasto ruim em receita boa". Neste ano, tenta a reeleição com o argumento de que venceu a crise econômica sem atrasar salários nem comprometer serviços públicos.

O governador, no entanto, deixou de cumprir promessas para as áreas de saúde, mobilidade urbana, segurança hídrica e educação. E também é alvo de investigação em um dos desdobramentos da Lava Jato, que apura superfaturamento na construção da Arena Pernambuco.

"Todas as pesquisas mostram que Câmara não tem uma gestão bem avaliada, mas ele é favorito para ganhar a eleição por causa da inércia de outras candidaturas competitivas. Outro fator é que ele não tem um governo de identidade própria, é uma administração de continuidade do 'eduardismo', um capital eleitoral ainda muito vivo na cabeça do pernambucano", disse a cientista política Priscila Lapa, professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda.

O alvo da oposição na campanha pelo governo, segundo a analista, deverá ser a segurança pública. De acordo com Priscila, o Pacto pela Vida, plano de redução da violência que era vitrine de Campos, se tornou o telhado de vidro de Câmara, em razão das mudanças na condução do projeto e do número recorde de vítimas de homicídio, em 2017: 5.427.

Na opinião da especialista, esses elementos dão margem às críticas de que o governador "enterrou" o programa, que foi premiado em 2013 pela ONU. São Paulo, cuja a população é quatro vezes a de Pernambuco, teve no ano passado 3.503 vítimas de homicídios, segundo o mesmo levantamento.

"Sobre os retrocessos, Paulo Câmara já está conseguindo nacionalizar a discussão jogando para o governo federal a culpa (pela violência) e blindando sua gestão. É uma estratégia muito característica das eleições deste ano", avaliou a analista.

Dos 21 partidos da Frente Popular de Pernambuco costurada por Campos, que uniu adversários históricos como PCdoB e DEM, em 2014, Câmara por enquanto tem o apoio de pelo menos 16 este ano. O governador manteve em seu palanque o MDB, de Jarbas Vasconcelos, considerado o principal nome da política pernambucana, e pretende atrair o PT - partido que tenta convencer a vereadora petista Marília Arraes a desistir de disputar o governo e concorrer ao Senado ao lado de Humberto Costa, também do PT, que vai tentar a reeleição.

Oposição. Derrotado no primeiro turno na eleição ao governo de Pernambuco em 2014, Armando Monteiro Neto (PTB) refez alianças para a disputa deste ano e retirou da base governista cinco partidos, entre eles, PSDB e DEM. O empresário está se articulando com nomes como o deputado federal tucano Bruno Araújo e o ex-governador e ex-ministro da Educação democrata Mendonça Filho.

Monteiro Neto foi presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na gestão de Dilma Rousseff (PT). "Ele tem muita experiência, é ponderado nos discursos e sabe dialogar. O fato de estar ao lado de antigos adversários prova como a política é complexa e que estão em jogo interesses pessoais, mas também mostra a capacidade dele de formar alianças", analisou o cientista político, Leon Victor Queiroz, da Universidade Federal de Campina Grande.

Nanicos. PSOL e PRP também já apresentaram seus pré-candidatos. O PSOL formará, juntamente com o PCB, um chapa feminina encabeçada pela advogada, historiadora e professora Danielle Portela. Já o PRP lançará coronel Luiz Meira, ex-diretor-geral de Operações da PM. "São candidatos com poucas chances de ganhar, estão na disputa por uma estratégia política de tornar os nomes mais conhecidos, sobretudo em relação ao PSOL. No caso do coronel Meira é para dar palanque a (Jair) Bolsonaro (pré-candidato à Presidência do PSL)", afirmou Queiroz.

Estadão
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