PUBLICIDADE

Em Mogi das Cruzes, candidato tenta acabar com hegemonia de grupo político há décadas no poder

Caio Cunha, do Podemos, reúne até setores da esquerda para derrotar Marcus Melo (PSDB), que tenta reeleição e tem apoio de ex-prefeitos

28 nov 2020 - 15h11
(atualizado em 29/11/2020 às 00h59)
Compartilhar
Exibir comentários

Depois de 20 anos sem levar uma disputa à prefeitura para o segundo turno, Mogi das Cruzes tem nas eleições 2020 um candidato que ameaça a hegemonia do grupo político que governa a cidade há décadas. O vereador Caio Cunha, do Podemos, reuniu apoio até de setores à esquerda para tentar uma vitória no pleito. Seu adversário, o prefeito Marcus Melo (PSDB), conta com a maior coligação da disputa e importantes cabos eleitorais do município, como os ex-prefeitos Marco Bertaiolli (PSD) e Junji Abe (MDB).

Apesar de, na Câmara, ser um dos partidos que mais vota com o governo Jair Bolsonaro, o Podemos recebeu o apoio do candidato PT, Rodrigo Valverde, e do PDT na eleição deste ano em Mogi. As divergências ideológicas foram deixadas de lado em prol de uma renovação na cidade, que desde 2000 tem o PSDB na composição da prefeitura, como vice ou cabeça de chapa.

Caio Cunha e Marcus Melo disputam o segundo turno em Mogi das Cruzes
Caio Cunha e Marcus Melo disputam o segundo turno em Mogi das Cruzes
Foto: Facebook / Reprodução / Estadão

"Eu acredito que somente o fato de termos chegado ao segundo turno, após vinte anos, já é muito simbólico. A Câmara de Mogi teve uma renovação de 60%, o que também demonstra que o mogiano está clamando por uma renovação", disse Cunha ao Estadão. Ele negou que, se eleito, vai incluir o PT em seu governo. "O partido não está caminhando com nosso projeto. A pessoa do Rodrigo Valverde, como mogiano, entendeu que a nossa proposta é a melhor para Mogi neste cenário."

A assessoria de Melo negou que exista um grupo político que comande a cidade. "Existe um grupo de pessoas, de vários partidos e várias ideologias, que trabalham buscando melhorar a cidade." E ainda criticou a aliança feita pelo adversário. "Para nós, uma campanha que tem o apoio do PT, do PRTB, lados tão antagônicos na política, não tem nada de renovação."

No primeiro turno, o prefeito teve 42,29% dos votos, uma vantagem de quase 27 mil votos para Cunha, que terminou com 28,31%.

O segundo turno na cidade foi marcado por polêmicas envolvendo os dois candidatos. Atual prefeito, Melo foi filmado participando de uma festa com aglomeração, onde aparece sem usar máscara e em outro momento dividindo um narguilé com jovens.

Depois da repercussão, circularam fotos de Cunha em um bar, também sem máscara. Ao Estadão, o candidato do Podemos disse que permaneceu por meia hora no bar e estava consumindo água no momento da foto, por isso estaria sem máscara. "Não acredito que esse episódio prejudique (a campanha), principalmente porque não aglomerei, não consumi bebida alcoólica, não fumei narguilé e não dividi minha água com ninguém." Já Melo, lamentou o que chamou de "vale tudo" na política. "Um deslize tirado fora de contexto está criando um fantasma, mas o morador de Mogi sabe exatamente como nós enfrentamos isso."

O professor e sociólogo Afonso Pola diz que a cidade vem reelegendo o mesmo grupo político em função da associação entre os bons índices da cidade e a qualidade dessas gestões. O mandato de Melo, no entanto, enfrentou alguns empecilhos, como o aumento do IPTU e a prisão de vereadores suspeitos de corrupção que eram de sua base aliada, segundo o especialista. "Por mais que ele tenha conduzido bem a cidade durante a pandemia, acabou sofrendo processos de desgastes muito intensos."

Caso reeleito, o prefeito deve ter novamente um legislativo municipal com maioria. Cunha teria mais dificuldade, já que há apenas três vereadores de seu partido e um do Solidariedade, de sua coligação.

Independente do candidato eleito, Mogi sai dessa eleição com novos "ânimos", diz Pola. "O próximo prefeito com certeza será mais cobrado pelos vereadores e pela própria população."

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade