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'Chapa estadual baiana não vai passar pela nacional', diz Jaques Wagner

Pré-candidato ao Senado na Bahia sinaliza que chapa do PT no Estado não deve abrir espaço para o PSB

14 jun 2018 - 05h04
(atualizado às 12h55)
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SALVADOR - Apontado como 'plano B' do PT caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato, desista de se colocar como candidato, o ex-ministro e ex-governador da Bahia por dois mandatos Jaques Wagner afirma que vai se candidatar ao Senado.

O petista diz achar "difícil" que a operação Cartão Vermelho, em que a Polícia Federal afirma que ele recebeu R$ 82 milhões em propinas resultantes do superfaturamento na reconstrução da Arena Fonte Nova, atrapalhe sua campanha.

Wagner, que nega as acusações, sinaliza que a chapa à reeleição do governador Rui Costa, da qual ele é o principal articulador, não deve contar com a senadora Lídice da Mata (PSB). Caso se confirme, a posição do PT da Bahia contraria resolução publicada no fim de semana pelo diretório nacional do partido, cuja orientação é alinhar alianças estaduais à nacional, que tem o PSB como prioridade. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o sr. avalia o cenário político local, sem a esperada disputa entre o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o governador Rui Costa?

Eu digo que ele (ACM Neto) fez conceitualmente a coisa certa da forma totalmente errada. A forma foi totalmente atabalhoada, por isso deu um desarranjo do lado de lá. Mas isso não me pertence, porque é do grupo de lá. Falava-se muito que ele tinha pesquisa, que ele estava na frente, mas claramente nas pesquisas tinha uma tendência de afirmação da administração de Rui e de sua liderança política também.

Eu acho que ele foi se consolidando, evidentemente que ele não era um nome conhecido, como eu também não era em 2006, e hoje todo mundo fala que é uma grata surpresa. Vamos completar 12 anos de projeto na Bahia e há uma clara melhoria. A gente tem um trabalho entregue. Hoje temos um um grupo pacificado, unido e forte, com uma mistura de esquerda, centro-esquerda, centro e centro-direita que acaba sendo um pouco um caleidoscópio da sociedade baiana.

Mas esse grupo unido está com problema para incluir Lídice na chapa.

Sim, nós temos como dificuldade a administração dessa segunda vaga para o Senado. Já temos certos e encaminhados Rui e João Leão (vice-governador, do PP), todo mundo acha natural e de direito a minha candidatura. E aí você tem Lídice senadora e o PSD, com (Ângelo) Coronel reivindicando a segunda vaga.

Eu acho que é um bom problema, porque você tem mais jogador do que camisa para escalar o time, mas acho que a gente tem maturidade suficiente. A gente tem conversado, Rui tem conversado com Lídice, eu tenho conversado, a gente tem conversado com Otto (Alencar, do PSD), e eu acho que a gente vai chegar a um denominador comum.

Lídice é um nome conhecido, sempre leal ao projeto e foi muito importante a partir do momento que pesou para o PSB não ir para o lado do golpe. A atuação dela e do senador (João) Capiberibe, do (PSB do) Amapá, foi essencial. São caminhadas diferentes. Ela é do campo da esquerda, foi do PCdoB, e Coronel nunca foi carlista propriamente, fez a campanha de Waldir Pires (PT), mas depois, pela relação dele com Otto, ficou mais do lado de ACM. Mas o original dele foi do lado de Waldir.

A escolha do PSD é pela governabilidade, já que é o maior partido da base aliada?

A demanda do PSD não é pela governabilidade, até porque o PSD está contemplado em vários espaços. Tem federais, um senador, está na Assembleia, na UPB (União dos Municípios da Bahia), tem gente posicionado em todo lugar. Mas eles reivindicam assim também: como que são o maior partido da base e vão ficar fora? E Lídice reivindica pela sua trajetória, pela sua história, e também é pela governabilidade, porque não nos interessa perder ninguém.

São perfis diferentes. Com Lídice, tem a questão da mulher também, porque seria a única mulher na chapa. Eu acho que a gente deixou para discutir isso muito em cima, a gente podia preparar esse jogo, que era previsível. Eu prefiro não fazer nenhuma previsão. Eu acho que, se não for a escolhida, ela vai seguramente dar a opinião dela.

Eu acho que, se não for, provavelmente ela é candidata a deputada federal, porque ela continua na cena federal. A tendência natural é essa. A prefeitura de Salvador é algo muito distante para ficar sendo discutida. A própria eleição de 2018 está incerta.

Lídice fora da chapa não contraria a resolução do partido? Não gera um constrangimento, já que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e outras lideranças já gravaram apoio a Lídice e até Lula disse que ela é a candidata dele aqui na Bahia?

Claro que a chapa estadual baiana não vai passar pela nacional, porque a Bahia tem uma posição consolidada. Eu particularmente não vejo constrangimento nenhum. São declarações de apoio. Do mesmo jeito que, em São Bernardo, Lula falou com ela. Essas manifestações são por tradição de relacionamento.

É claro que as pessoas torcem mais pelo seu time mais íntimo, pela proximidade de ideias. Cada Estado tem sua lógica, ainda que o partido seja nacional. Quando foi dita essa resolução de preferência, não quer dizer exclusividade. A prioridade é porque o núcleo central dos governos do Lula sempre foi PT, PSB, PCdoB e PDT. O PDT agora tem candidato. O PSB ainda não decidiu sua posição nacional. Então a decisão é buscar o apoio do PSB.

O sr. foi criticado no PT depois que defendeu a aliança com Ciro Gomes (PDT), dizendo que o PT deveria "abrir mão da precedência". Como está o clima interno agora?

A posição do PT está muito consolidada. O patrimônio de votos nacional é de Luís Inácio Lula da Silva. Não é meu e não é do PT. É óbvio que o PT está associado a ele, mas é dele porque ele ultrapassa o PT. Então, se o patrimônio é dele, não adianta a gente ficar aqui administrando o patrimônio dos outros.

Então quem tem que administrar esse patrimônio é ele, conversando com a direção do PT e com outros partidos. A minha posição é clara. Eu não vejo nenhum movimento a ser feito pelo PT do ponto de vista de nomes. Isso não quer dizer que não possa conversar com outros partidos sobre futuro.

Se vier uma interdição definitiva, nesse momento o PT vai ter que se sentar e pensar o que fazer. Ou substituir por outro nome do PT ou pensar alguém. Por isso que na reunião dos governadores saiu a proposta de ele apontar o vice, que eu pessoalmente acho que não é alguém do PT, porque, se for do PT, vai ter cara de substituto e não de vice. Esse vice vai poder dialogar em nome da chapa e rodar o país.

Quais os nomes que foram citados?

Tem nome para todo o gosto. Tem o próprio Ciro, mas o Ciro tem a candidatura própria dele, não sei se faria esse momento, ele pode achar até ofensivo. Pintou nome de pessoas de centro, o nome do Josué, que é um empresário, mas não é do setor financeiro.

O sr. é um dos principais interlocutores de Lula. O que ele tem feito na prisão?

Ele tem pedido para receber cartas dos governadores com análises da conjuntura. Ele está muito focado no destino da economia e da política brasileiras. Ele está o tempo todo conversando com interlocutores para discutir política, fora o tempo com os advogados. Ele conversou comigo de política, sobre a Bahia, emite opiniões...

E claro que o tempo vai passando e as pessoas vão se angustiando. Eu passo nos lugares e me perguntam: "e aí, vai dar mesmo?". Mas ele está lá fazendo esteira, emagreceu, já leu 20 livros, tem lido muita carta política, continua indignado e está recebendo apoio do mundo inteiro. Eu sei que é difícil acreditar, mas ele nem trabalha sobre substituto. Não tem porque trabalhar.

Em nenhum momento ele sinalizou se é o sr. ou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad?

Não. Primeiro que eu não estou colocando meu nome. O PT coloca meu nome porque nós temos sucesso na Bahia, porque Rui está fazendo um belo governo, então consolidou o que eu deixei. É um caso de sucesso. Mas tem outros. O Wellington é um sucesso no Piauí, o Camilo é um sucesso no Ceará. Se tiver alguém a substituir o Lula, eu já dei minha opinião, acho melhor que não seja do PT. Querendo ou não, se tiver que existir o substituto, não tem naturalidade.

Ele (o substituto) é fruto do Moro, é fruto do STF, que ainda não votou a ADC. Ele não será uma escolha, será a consequência de uma violência. Não tem porque o PT apresentar alguém para ser a consequência de uma violência. Agora eu sei que a maioria do PT quer alguém do partido. Eu acho natural, mas não acho o melhor caminho.

Essa dependência do Lula não é ruim para o futuro do PT?

Repare, eu falei do legado nacional. A gente não construiu uma segunda liderança nacional. Agora não dá para negar que aqui na Bahia a gente construiu um patrimônio que é nosso, o Acre construiu um patrimônio, o Wellington, do Piauí, construiu um patrimônio, o Fernando Pimentel está construindo um patrimônio. Você tem patrimônios do PT localmente, mas o grande patrimônio do PT é dele.

A operação Cartão Vermelho, que investiga suposto superfaturamento em obra da Arena Fonte Nova e pagamento de propina, não atrapalha sua campanha ao Senado?

De jeito nenhum. Eu já fui citado em algumas delações, isso foi para as mãos do ministro (Edson) Fachin, veio para cá, então esse é um processo meramente de investigação. Não tem nem denúncia. No caso da operação que envolve a Fonte Nova, eu quero reafirmar que nenhum delator falou de superfaturamento ou sobrepreço.

Essa conclusão é de uma perícia feita pela PF, segundo a delegada do caso. Estou esperando ela concluir o inquérito, subir o processo para o TRF-1, para aí eu apresentar a minha defesa. Nós fizemos oito anos de governo aqui na Bahia sem nenhum caso de corrupção. Então não vejo prejuízo e não tenho visto inclusive nas pesquisas que têm sido feitas após aquela operação.

Não tem uma queda, não tem uma movimentação na pesquisa que tenha a ver com isso. Acho que o próprio povo já cansou um pouco da espetacularização. A gente diz aqui na Bahia que tudo que é demais é sobra. O pessoal começa a ficar com o pé atrás.

O sr. teme que isso seja usado na campanha?

Eu não acho que na campanha isso vai aparecer. Acho muito difícil. Até porque a classe política como um todo sabe que estão generalizando tudo e enxovalhando. Quem pode atirar a primeira pedra? Não acho que isso vai ser tema da conversa não.

Estadão
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