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Defesa diz que Adelio agiu sozinho e motivado por 'discurso de ódio' de Bolsonaro

Acusado de ataque a Bolsonaro vai para presídio federal

7 set 2018 - 18h05
(atualizado às 19h53)
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JUIZ DE FORA - Acusado de ter atacado o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) à faca, Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho e por motivação política. Dentre os motivos estaria o "discurso de ódio" do deputado federal e candidato à presidência nas eleições 2018. É o que sustenta a defesa do acusado, que nesta sexta-feira, 7, participou da audiência de custódia que definiu que Oliveira será transferido para um presídio federal.

"Ele (Adelio) salienta que agiu de forma solitária. Aquele dolo, aquela intenção, era só dele. Não estava mancomunado, não havia concurso de pessoas", disse o advogado Zanone Manoel de Oliveira Júnior, um dos quatro que defendem o acusado. Segundo Oliveira Júnior, o grupo aceitou defender Adélio "por questões de igreja e familiares".

Os advogados dizem que o enquadramento na Lei de Segurança Nacional e a transferência para um presídio federal foram corretos, mas afirmam que há "atenuantes" que deverão ser levados em conta ao longo do processo. Um deles seria uma possível condição de insanidade mental.

"Nós queremos analisar o estado da psique do nosso constituinte, mas nós já estamos numa situação 'confortável'. Nosso constituinte é confesso. Ele não nega autoria em momento algum e não traz qualquer partícipe, qualquer coautor para os acontecimentos", disse Oliveira Junior.

Segundo o advogado, até mesmo a motivação política do atentado serviria como atenuante. "A própria motivação política, o próprio discurso de ódio da vítima. Ele (Bolsonaro) trazia, até como meta de campanha... Nosso constituinte (Adélio) é negro, se considera um negro, e aquela declaração de que um negro não serviria sequer pra procriar, atingiu de uma forma avassaladora a psique de nosso constituinte", afirmou Oliveira Júnior, citando fala de Jair Bolsonaro em palestra na Hebraica do Rio, em 2017. A declaração foi motivo de pedido de processo por parte da Procuradoria Geral da República.

"O discurso foi o combustível. Se tudo na vida existe uma causa, um porquê, esse discurso do candidato, da vítima, é que desencadeou essa atitude extremada do nosso cliente", insistiu o advogado.

A Justiça Federal de Juiz de Fora (MG) decidiu manter a prisão de Adélio Bispo de Oliveira. Caberá ao Ministério da Justiça decidir para qual instituição do País o acusado será removido. A previsão é de que a transferência ocorra no máximo até este sábado, 8.

A manutenção da prisão aconteceu após audiência de custódia realizada nesta sexta-feira na sede da Justiça Federal de Juiz de Fora. A audiência aconteceu a portas fechadas - jornalistas não tiveram acesso nem mesmo ao pátio onde está instalado o edifício.

Líder do PSL na Câmara, o deputado Delegado Francischini acompanhou a audiência, que durou cerca de uma hora, e repassou a informação aos jornalistas. Segundo o parlamentar, Adélio Oliveira, que chegou em um comboio, foi representado por quatro advogados. Nenhum dos defensores do acusado apareceu para dar declarações.

A transferência para um presídio federal foi um pedido da bancada do PSL e teria tido aceitação de todas as partes na audiência - inclusive do Ministério Público e dos defensores de Oliveira. Todos teriam concordado que a prisão em uma instituição federal é uma forma de manter a segurança do acusado.

Desde quinta-feira, o deputado Francischini tem acompanhado de perto as investigações da Polícia Federal. "No depoimento da madrugada ele (Adélio) reconheceu que a motivação foi política e religiosa, e foi por isso que a Polícia Federal não indiciou como crime comum de tentativa de homicídio, mas sim na Lei de Segurança Nacional", ressaltou. Durante a audiência desta sexta, a juíza Patrícia Alencar acatou o indiciamento.

O parlamentar insiste que o atentado à faca contra Jair Bolsonaro deve ter tido a participação de mais pessoas, mesmo que indiretamente.

"Foram encontrados quatro aparelhos celulares, mais um laptop (com Adélio ou na pensão onde se hospedava). Não casa com a imagem, com o que a gente vê dessa pessoa. Ele passou por várias cidades nos últimos dias e estamos tentando casar as agendas do Bolsonaro, para ver se ele não esteve nas mesmas cidades", sustentou Francischini. "Ele não tem tamanho para ser um autor sozinho de um atentado contra a vida do Jair Bolsonaro."

Estadão
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