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Software possibilita maior eficiência no ensino de disléxicos

2 jun 2012 - 21h06
(atualizado às 21h08)
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O processo de alfabetização não é simples. São novos signos, fonemas, esquemas ortográficos, significados diversos para coisas que antes eram apenas símbolos em um papel. Além da dificuldade natural que é entrar no mundo das palavras pela primeira vez, há crianças que apresentam defasagem insistente em relação ao ritmo de aprendizagem do restante da turma, o que pode ser um sinal de dislexia. "É uma diferença no processamento de informações", resume Maria Inêz Ocanã De Luca, neuropsicóloga especialista na área.

Os pesquisadores Cíntia Salgado Azoni, Sylvia Maria Ciasca e Ricardo Franco de Lima participaram do projeto da Unicamp
Os pesquisadores Cíntia Salgado Azoni, Sylvia Maria Ciasca e Ricardo Franco de Lima participaram do projeto da Unicamp
Foto: Antoninho Perri/Ascom/Unicamp / Divulgação

A profissional também explica que a dislexia pode ser observada em três níveis: leve, moderada e severa, dependendo do quão complicado é para essa criança a interpretação de signos e textos.

Partindo do problema que é encontrar uma forma de facilitar a alfabetização dessas crianças, Cíntia Salgado Azoni, doutora em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fez sua tese - concluída em 2010 - com o intuito de desenvolver um software para aumentar a absorção das lições por parte dos disléxicos. Agora, os pesquisadores da Unicamp estão implantando melhorias no programa de computador para que seja possível usá-lo também com adolescentes que apresentem as mesmas condições.

A pesquisa, que gerou o Programa de Remediação Fonológica (Prefon), reuniu 31 crianças entre 9 e 12 anos diagnosticadas com o distúrbio. Dessas, um grupo fez uso do software e o outro, primeiramente, não. "O grupo que usou apresentou significativa melhoria. Melhoraram em vários aspectos, como nas habilidades da linguagem, atividades de consciência fonológica, memória e trabalho", conta Cíntia. Ela ressalta que o processo não é de cura, mas de melhoria do quadro geral da criança.

Podendo ser manipulado pela própria criança, mas contando com acompanhamento de um profissional, o programa funciona em qualquer computador. Nele, o aluno é estimulado a realizar diversas atividades, como jogos. Uma parceria com alunos de mestrado do Instituto de Biologia da universidade permitiu o desenvolvimento de atividades para manter a atenção e o desempenho das crianças. Há muitos estímulos visuais e auditivos para auxiliar no aprendizado mais efetivo das lições no processo de alfabetização, e são usadas estratégias de linguagens nas quais as crianças com dislexia têm mais dificuldade, como a rima.

Disléxicos no País

Há parcerias com outros órgãos de ensino, e o projeto teve o apoio do Instituto ABCD. No entanto, não há verba governamental direta nem projeção de implantação do sistema nas redes de ensino do País. Cíntia cita que alguns estudos apontam para uma taxa de 2% de efetivos disléxicos entre os jovens que apresentam dificuldade de aprendizagem. O número é pequeno, mas o diagnóstico também não é simples de ser feito. Ela afirma que no laboratório onde trabalha na Unicamp há uma preocupação em apurar o real problema por meio de uma avaliação interdisciplinar.

A neuropsicóloga Maria Inêz explica que não há uma legislação específica que garanta os direitos dos disléxicos no Brasil. Eles acabam amparados por regras mais genéricas, que tratam de crianças com deficiências de um modo geral. "Algumas escolas trabalham muito bem, outras, nada bem. Há um projeto em andamento para a aplicação de provas orais nessas crianças, mas há certa dificuldade em passar leis desse tipo porque é necessário o reconhecimento de que existe um transtorno e que ele precisa ser tratado e, quando esse reconhecimento existe, o governo tem que propiciar solução", explica.

Já que não há quem efetivamente garanta um tratamento diferenciado para quem apresenta esse distúrbio cognitivo, a vida de quem tem dislexia não é fácil em nenhum nível educacional, seja em ensino fundamental, médio ou mesmo superior. E não é só a falta de recursos e treinamento dos professores que atrapalha. Maria Inêz explica que, como há muita competição entre as escolas particulares no sentido de terem um bom índice de aprovação no vestibular, muitos jovens com dificuldades de cognição são convidados a se retirar dos colégios que frequentam.

A Associação Brasileira de Dislexia, órgão ao qual a neuropsicóloga é ligada, oferece periodicamente treinamento para professores das redes pública e privada que queiram entender melhor os processos de ensino para uma criança com dislexia. Alguns, com valor mais acessível, para incentivar a reciclagem dos profissionais. Mais informações sobre esses cursos podem ser obtidas no site da instituição. site da instituição. "São pequenas diferenças que podem ser feitas em sala de aula, mas que demandam interesse, disposição e tempo dos profissionais", diz Maria Inêz.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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