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"Seminário dos Ratos": resumo da obra de Lygia Fagundes Telles

Melhor coletânea de contos da escritora, obra oscila entre o fantástico e o trágico para retratar a condição humana

6 set 2022 - 11h42
(atualizado em 13/9/2022 às 21h06)
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Quatro anos depois de ter lançado seu romance estruturalmente mais complexo, "As Meninas", Lygia Fagundes Telles publicou sua melhor coletânea de contos: Seminário dos Ratos (1977). São 14 narrativas, entre as quais está aquela que dá nome ao livro.

Foto: Wikimedia Commons/Wikimedia Commons / Guia do Estudante

Da perspectiva da terceira pessoa, "Seminário dos Ratos" mostra os preparativos de um encontro entre governo e estrangeiros para discutir a invasão de roedores na cidade. No entanto, em vez de se preocupar com a questão a ser discutida, o moroso e ineficaz responsável pela organização cuida apenas das aparências. Então, repentinamente, os ratos começam a invadir e destruir o local da reunião momentos antes do início.

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O tom crítico e fantástico da narrativa - também presente no conto "As Formigas" - mostra uma escritora a par das questões de seu tempo, tanto na forma quanto no tema de sua produção. Ao longo da obra, ela varia a linguagem de acordo com o assunto tratado, mas sem nunca abandonar o estilo coloquial e conciso e a ambiguidade constante. "Um conto pode dar assim a impressão de ser um mero retrato que se vê e em seguida esquece. Mas ninguém vai esquecer esse conto-retrato, se nesse retrato houver algo mais além da imagem estática", disse Lygia em uma entrevista, na época do lançamento do livro, a ninguém menos que Clarice Lispector.

Da mesma forma que nos romances, aqui a maior parte das narrações é feita por mulheres. Algumas delas são meninas ou adolescentes, como em "Herbarium e Pomba Enamorada" ou "Uma História de Amor". A evocação que Lygia faz de imagens da juventude é constante. Há o convívio entre memória e consciência em uma atmosfera em geral intimista. As jovens costumam enfrentar ritos de passagem, que terminam em aprendizados.

Para a professora Roberta Hernandes Alves, é frequente na obra da escritora a autorrevelação da personagem "por meio de elementos ocultos que se desdobram para revelar a tragédia humana". Tal resultado seria alcançado com a investigação de narradores em primeira pessoa irônicos, ou que não são completamente ingênuos sobre a própria condição. Já os de terceira pessoa assumem uma visão distanciada, mas não menos irônica, sobre a relação do ser humano com a organização da sociedade.

O estilo introspectivo seria responsável, segundo a crítica Nelly Novaes Coelho, pela capacidade de apreensão dos elementos sem forma física - invisíveis e indizíveis - que estão emaranhados nas interações entre personagens e mundo. É um espelho para o leitor, que se vê retratado e é obrigado a se deparar consigo próprio.

A decomposição do mundo moral, cujos valores estariam abalados, é o pano de fundo para a descrição em profundidade que Lygia faz de suas personagens. Existe em boa parte das vezes certo sentimento do trágico, que se traduz numa mensagem de carpe diem a partir do momento em que se aprende a lidar com ele e a utilizá-lo para a construção de valores individuais e sociais. Em "Seminário dos Ratos", os personagens passam irremediavelmente por esse processo.

Título: Seminário dos Ratos

Autora: Lygia Fagundes Telles

Este texto faz parte do especial "100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira", publicado em 2009 pela revista Bravo!

Guia do Estudante
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