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Quais são os cursos que preparam profissionais para a transição verde? 'Risco de ficar obsoleto'

Instituições voltadas ao ensino tecnológico têm procurado atualizar currículos e ampliar a oferta de cursos na área ambiental

30 out 2025 - 06h10
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Quatro em cada 10 postos de trabalho criados no mundo até 2040 estarão em setores que contribuem para a preservação ou restauração do meio ambiente. São os chamados "empregos verdes", que podem contribuir com R$1,5 trilhão para a economia das cidades nesse período, segundo análise da rede global C40 Cities divulgada no fim de setembro.

Agarrar essa chance, porém, depende de investimentos significativos na força de trabalho. Sem esses investimentos, o relatório estima que até seis milhões desses empregos podem ficar vagos, com impactos na economia e na transição verde.

Com as tecnologias avançando cada vez mais rápido e a chegada ao Brasil de novas indústrias - ou a incorporação de processos sustentáveis em áreas consolidadas -, a formação de profissionais para essas atividades já é uma demanda urgente.

"A gente está num risco muito grande de ficar obsoleto nesses novos mercados", Gustavo Heidrich Oliveira, oficial de Educação do Unicef no Brasil e coordenador do programa 1 milhão de oportunidades.

Etec em São Paulo; mercado está receptivo, com efetivação de estagiários e novas oportunidades surgindo.
Etec em São Paulo; mercado está receptivo, com efetivação de estagiários e novas oportunidades surgindo.
Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO / Estadão

Como muitos desses novos segmentos têm entrado no País através de capital estrangeiro, ele vê a possibilidade de que os novos postos sejam ocupados por profissionais vindos de fora, privando jovens brasileiros (sobretudo os mais vulneráveis) dessas oportunidades.

As instituições voltadas ao ensino técnico e tecnológico têm procurado atualizar seus currículos e ampliar a oferta de cursos na área para suprir essa demanda.

No Centro Paula Souza, rede pública de ensino técnico e tecnológico do Estado de São Paulo, os tecnólogos (curso superior de curta duração, com foco em habilidades específicas para atender às demandas do mercado de trabalho) ligados à sustentabilidade mais procurados hoje são os de Gestão Ambiental, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Hidráulica e Saneamento Ambiental, Gestão de Energia e Eficiência Energética, além de cursos ligados ao agronegócio sustentável.

A oferta de cursos pelo CPS nesta área se fortaleceu na última década. "A demanda vem crescendo de forma contínua, acompanhando a expansão das políticas públicas e de oportunidades no mercado verde", disse ao Estadão o coordenador acadêmico pedagógico das Fatecs, André Luiz Braun Galvão.

Os cursos desenvolvem competências estratégicas para a economia de baixo carbono, como gestão de recursos naturais, uso de tecnologias limpas, licenciamento ambiental, integração de dados ambientais e aplicação de normas de governança ambiental, social e corporativa (ESG).

Uma das unidades do centro, a Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) de Rio Claro implantou neste ano um curso tecnológico focado no ESG. A instituição prevê ampliar a oferta de cursos e vagas voltados a energias renováveis, economia circular, saneamento e outros. Em 2024, o Centro Paula Souza formou mais de 1.800 profissionais com competências verdes: 245 tecnólogos no eixo de Ambiente e Saúde, 426 em Recursos Naturais e 1.165 em Controle e Processos Industriais. A rede ainda trabalha, nos cursos superiores de tecnologia, projetos de extensão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, encabeçados por professores que realizam pesquisa em setores "verdes". "Já faz parte da cultura", diz o coordenador pedagógico das Fatecs.

Requalificar profissionais do mercado

Um levantamento feito pela REC!, startup brasileira especializada em recrutamento, ouviu 60 headhunters e recrutadores com experiência no setor de energia renovável de maio a setembro de 2025. Deles, 74% enfrentam dificuldades para contratar profissionais na área. Os cargos mais demandados identificados pela pesquisa foram: engenheiros e engenheiras de projetos, Analistas de Operação e Manutenção (O&M), Especialistas em Armazenamento de Energia, Técnicos e técnicas em Energias Renováveis e Analistas de Novos Negócios (Hidrogênio Verde, Crédito de Carbono).

Para Marcello Souza, gerente de relações com o mercado do Senai São Paulo, além de formar novos profissionais para áreas emergentes, é preciso inserir as "habilidades verdes" nos cursos e perfis profissionais já atuantes.

Um exemplo é o tecnólogo em Gestão da Produção Industrial da instituição, que passou a contar com competências verdes: ensino de técnicas de produção limpa para reduzir resíduos e consumo de energia, de metodologias de avaliação de impacto ambiental de produtos e processos e das premissas de design para a sustentabilidade, considerando todo o ciclo de vida dos produtos.

Diversos outros cursos têm incorporado esses conhecimentos, desde os de mecânica, manutenção e engenharia até os tecnólogos de alimentos e design de moda. Já na pós-graduação, há cursos específicos para as áreas verdes, como Veículos Elétricos e Híbridos, Gestão de Processos de Descarbonização e Gestão de Energia e Eficiência Energética em Sistemas de Climatização. Matrículas cresceram 6% de 2021 a 2025.

A ideia é que técnicos que já estão em determinada indústria ou empresa e conhecem processos e desafios daquele setor, possam desempenhar um papel estratégico na transição verde se tiverem a atualização necessária. Na visão do Senai, voltada à aprendizagem industrial, o tecnólogo com acesso a essas novas habilidades deve apoiar a modernização das empresas.

"É aproveitar a bagagem de experiência (desses profissionais) e colocar mais conhecimento para gerar mudança rápida", define Souza.

Segundo ele, o Senai tem ofertado ao setor produtivo os tecnólogos que trazem essas competências, o que acaba sendo um ganha-ganha: preenche uma lacuna de mercado e serve aos profissionais como desenvolvimento de carreira.

Oportunidade de inclusão

Hoje, cerca de dois milhões de adolescentes e jovens entre 14 e 29 anos atuam em empregos verdes no Brasil, o equivalente a 30% da população que trabalha no setor, segundo o relatório "Habilidades e empregos verdes para adolescentes e jovens no Brasil", lançado pelo Unicef em junho.

A publicação lista sete setores com alto potencial para o desenvolvimento desses empregos no País:

  • Energias renováveis;
  • Arquitetura e engenharia sustentáveis;
  • Transporte e logística de baixo carbono;
  • Gestão de resíduos, reciclagem e saneamento;
  • Agricultura sustentável e produção florestal;
  • Serviços ambientais diversos;
  • Indústria de bens e consumo.

Segundo o estudo, há um total de 6,8 milhões de empregos verdes atualmente no Brasil - quase nove de cada 100 vínculos empregatícios registrados. "Isso mostra como a gente já tem uma uma parte importante da nossa economia voltada para essas atividades", observa Gustavo Heidrich Oliveira, oficial de Educação do Unicef no Brasil.

O primeiro desafio visto pelos educadores é apresentar esse mercado para os jovens, oferecendo formações livres que permitam conhecer essas atividades e se interessar por elas. É esse o objetivo do curso "Seu papel na crise climática", lançado este ano na plataforma do 1 milhão de oportunidades e disponível gratuitamente. Ele parte de conceitos básicos sobre a mudança climática e seus impactos, e mostra caminhos e oportunidades para quem quer ter um impacto positivo no meio ambiente.

Segundo Claudia de La Fuente, coordenadora de Meio Ambiente do Senac São Paulo, esse interesse tem sido recompensado com boas oportunidades. "Os alunos que se dedicam encontram um mercado bastante receptivo. Muitos iniciam em estágios e são efetivados, ou encontram oportunidades em novos segmentos, como o de crédito de carbono ou consultorias de ESG", disse.

No Senac, o portfólio da área ambiental conta atualmente com mais de 50 cursos, entre graduação e pós-graduação, cursos livres, qualificação profissional, habilitação técnica e extensão universitária. Os mais procurados são os de formação direta, como o Técnico em Meio Ambiente e a graduação em Gestão Ambiental, e há demanda crescente por especializações em energias renováveis, bioeconomia e novas tecnologias ambientais.

Mas ainda é necessário melhorar o acesso ao desenvolvimento das habilidades verdes. Para o coordenador do programa do Unicef, ainda faltam opções de formação e de aprendizagem profissional voltadas para esses mercados, o que é agravado pelo fato de a oferta de ensino técnico profissionalizante no Brasil ser muito concentrada nos centros urbanos, principalmente nas grandes capitais.

"Isso precisa ser trazido como um componente curricular dentro das escolas e principalmente na educação técnica profissionalizante, a gente precisa ampliar a oferta de cursos que possam capacitar jovens para esses setores", diz Oliveira.

Ele ressalta que emprego verde não é só o emprego formal, dentro de empresas. "A ocupação verde existe no Brasil desde sempre. As cadeias produtivas do Norte, por exemplo, de açaí, de castanha, são atividades verdes e são muito importantes no Brasil. Tem uma preocupação em como fomentar isso", afirma.

Estadão
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