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Para se especializar depois dos 40 anos

Necessidade de atualização e vontade de mudar o rumo da profissão levam estudantes mais velhos a buscar alternativas de pós-graduação

26 fev 2019 - 03h10
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De engenheiro eletrônico a estudante de Marketing, Carlos Castelão, de 40 anos, passou por alguns cursos que serviram de fio condutor para mudanças na sua carreira. Responsável por desenvolvimento de produtos na indústria automobilística, ele foi aos poucos se afastando da área técnica e se aproximando de setores da estratégia de negócios. Hoje, quer dar outro salto nessa direção e, para isso, resolveu se matricular em um curso de MBA.

"A ideia de fazer o curso veio, principalmente, para que eu pudesse conversar com outras áreas", conta o profissional. "Uma coisa importante é o que o curso me dá ferramentas para levar em frente a mudança de carreira."

Escolas que oferecem cursos de MBA, um nicho em que a média de idade baixou nos últimos anos, têm apostado na oferta de modalidades específicas para profissionais mais experientes. É o caso do curso de Castelão na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o MBA Executivo em Marketing. Como o aproveitamento dos cursos depende diretamente da relação entre o conteúdo e o dia a dia no trabalho, algumas instituições criaram opções ainda mais especializadas para esse público. Muitas vezes, as aulas servem para redirecionar estudantes em busca de reciclagem a novas áreas do conhecimento.

São cursos que reúnem estudantes no mesmo nível gerencial no mercado e em momentos de carreira semelhantes. Na ESPM, há desde um MBA focado em tecnologia e inovação - em uma parceria com o Instituto de Tecnologia em Aeronáutica (ITA) - até o estudo da neurociência aplicada ao comportamento de consumo.

"Acaba sendo uma oportunidade para executivos e profissionais que estão já em um momento de carreira mais avançado consigam discutir temáticas de ponta, tendências que vão afetar os seus negócios", diz o pró-reitor de pós-graduação Lato Sensu da ESPM, Tatsuo Iwata. A escola, aliás, concentra boa parte dos cursos na sua unidade no bairro do Itaim Bibi, posicionada ali para facilitar o atendimento a executivos de empresas da região.

No Insper, o aumento da procura entre alunos na faixa dos 40 anos é por cursos de mestrado. O que os coordenadores da escola percebem, nesse caso, é também a perspectiva da mudança de carreira: profissionais com experiência no mercado interessados em tornar-se professores na área de educação executiva, seja em tempo integral ou de maneira paralela a outro trabalho.

Aprendizado. Segundo o coordenador da pós-graduação Lato Sensu do Insper, Guy Cliquet, além de expandir a base de conhecimentos do aluno, o curso de mestrado nessa fase da carreira também serve ajuda a criar métodos para organizar o conhecimento que o profissional traz do mercado.

"Os profissionais de mercado têm uma experiência enorme em lidar com situações práticas, como trabalhar a influência interna na organização. Mas a visão de negócio, por exemplo, às vezes fica limitada às experiências deles", diz Cliquet. "Para ampliar isso, é preciso estudar." A proposta do Insper é manter um portfólio de cursos desenhados para atender as várias etapas de carreira.

A Universidade São Judas Tadeu oferece um currículo de disciplinas comuns nos cursos de MBA, e o estudante complementa a grade com aulas de módulos especializados (com foco em áreas específicas ligadas a gestão, como Finanças e Marketing). "Existem cursos que são mais procurados do que outros por pessoas que têm mais bagagem profissional", explica o professor Adalberto Szabó, coordenador dos MBAs de Gestão Estratégica de Negócios.

Segundo ele, estudantes mais velhos que já passaram por cargos executivos costumam procurar cursos com ênfase adequada a seu momento na carreira, e os motivos pelos quais estudam são diferentes. Se o profissional mais novo faz MBA para mudar de emprego ou obter uma promoção, o experiente geralmente já está inserido. "Ele vai atrás do que falta em termos de conhecimento e habilidades para desempenhar as suas funções de executivo onde já trabalha." 

O consenso é que os desafios de um mercado em constante mutação exigem atualização frequente, até para quem já tem larga experiência na carreira. "Estou há 17 anos formado (na graduação) e fazendo um MBA agora. Com certeza, não será a última escola em que vou passar", diz Castelão.

DEPOIMENTO: 'Me ajudou porque já tinha vivido aquelas situações'

Luiz Abdallah, gerente de Projetos

"O intercâmbio de informações e de relacionamento também é muito importante. Claro, isso para qualquer curso, qualquer atividade e qualquer fase da carreira. Eu tenho 57 anos, mas estou em plena atividade. Estou naquilo que considero o auge da carreira. E estudar faz parte da minha rotina.

E por que gerenciamento de projetos (ele está fazendo MBA nessa área na FGV)? Sou engenheiro. Sempre tive uma mente voltada para resolução, projetos, prazos, metas, objetivos claros. E, mesmo fora da atividade de engenheiro, como gerente de vendas, sempre busquei trabalhar com projetos de vendas com clareza, trabalhar relacionamentos, trabalhar com stakeholders. Intuitivamente, mesmo sem conhecer a fundo as ferramentas, mas sempre buscando o prazo, a conclusão, metas e realizar o melhor negócio possível. E sempre por meio da equipe, ou seja, usando o perfil de liderança.

Tudo isso me levou, hoje, a refletir, me conhecer e também a projetar, para mim, lá para frente, quando eu estiver em outra etapa da minha vida profissional, como eu poderia me beneficiar de tudo isso. E aí eu cheguei à conclusão que gerenciamento de projetos, hoje, é a melhor ferramenta que eu posso ter para mim e também para passar isso para empresas ou outros profissionais, na resolução dos seus problemas no futuro.

No curso, nós temos disciplinas técnicas e não técnicas. As técnicas, como o próprio nome diz, vão me ajudar a ter um "raciocínio de projeto" e me dar ferramentas para eu desenvolver qualquer projeto, seja ele mais simples ou mais complexo. E é essa a habilidade que estou buscando.

E uma outra seria atualização em relação àquilo que já conheço. Já fiz vários cursos, incluindo outro MBA na Fundação Getulio Vargas (FGV). Mas este curso faz a atualização dessas informações. Por exemplo: liderança. Isso não é estanque. Lideramos pessoas. O gerente de um projeto vai liderar por influência. 

O mundo é dinâmico, as pessoas mudam, tudo muda: a diversidade, gerações. O curso tem uma série de pontos sobre comunicação que são abordados, sobre como um líder pode comunicar alguém sobre alguma coisa para que essa comunicação seja efetiva. Sempre há espaço para desenvolver melhor essas habilidades. 

Trabalhando como gerente de projetos, eu já estou utilizando essas técnicas e esses conceitos para trazer benefícios para a empresa. Para mim, profissionalmente também. O benefício que o curso está trazendo será mútuo, tanto para mim quanto para a empresa onde trabalho.

No meu caso, comecei meu primeiro curso de pós-graduação depois de bastante tempo de experiência. E a sensação que eu tinha é de que aquilo estava me beneficiando porque eu já tinha vivenciado em algum momento da minha vida profissional aquela situação (exposta em aula) e identifiquei que eu talvez não tenha tomado a melhor decisão, ou estava trabalhando em cima de uma linha que não era a mais adequada."

Estadão
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