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A guerra social no Brasil

"O morro não tem vez | Mas se derem vez ao morro | Toda cidade vai cantar". Tom Jobim

3 abr 2018 - 12h45
(atualizado às 12h52)
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Índios fazem manifestação em frente ao Congresso Nacional
Índios fazem manifestação em frente ao Congresso Nacional
Foto: Agência Brasil

Os caminhões militares chegam um a um. Abrindo a lona trazeira, deles saltavam os pára-quedistas franceses da 10ª divisão, a mando do coronel Massu (cel. Mathieu no filme de Portencovo). Vistos do alto pareciam formigas subindo as vielas da Cásbah, a colmeia árabe de Argel. Portas arrombadas e os indivíduos retirados a pescoções de suas modestas habitações e logo empilhados para interrogatório.

A cena é uma obra-prima do cinema anticolonialista (A batalha de Argel, 1966) e que antecipa as operações que assistimos agora no Rio de Janeiro. Na metrópole carioca a Cásbah chama-se Rocinha, Vidigal, Vila Kennedy e assim por diante. Mas não se trata de uma guerra entre ocupantes e dominados. É diferente, de muitos tempos e de larga história.

Rocinha, no Rio de Janeiro, é a maior favela da América do Sul
Rocinha, no Rio de Janeiro, é a maior favela da América do Sul
Foto: iStock

É uma guerra sim, uma guerra social com tiroteios, carros de combate, helicópteros pelos ares, incêndios de ônibus, assaltos diversos e arrastões, promovidos pelo lumpesinato com armas automáticas e não pelos trabalhadores. E, como pandemia, se espalha pelo Brasil. Até seus quadros pertecem a “comandos” (Comando Vermelho, PCC, ADA, TCP, etc.) que quando não enfrentam as forças do estado travam batalhas entre si nos presídios, periferias ou nos morros.

É neste caos que o Rio de Janeiro periodicamente mergulha e não é de hoje. Basta lembrar que durante a Revolta da Vacina em 1904, a população da época destruiu a cidade, ou pelo menos tudo o que lhe parecia identificado com o progresso (bondes virados, postes derrubados, esgotos estourados, no Centro nenhum vidro sobrou intacto, o inferno em fim).

Alguns, como foi o caso da peça de Antonio Callado lembraram ainda da Revolta da Cachaça, em 1661, o primeiro amotinamento realmente popular do Brasil. A folia terminou à la carioca: o governador João da Silva e Souza, recém empossado, tornou-se o maior contrabandista da ‘marvada’. É a nossa Guerra de Cem Anos e está longe de se encerrar algum dia, apesar do verso utópico de Tom Jobim.

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Fonte: Especial para Terra
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