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Escolas particulares do Rio criticam vídeo de sindicato que defende volta às aulas agora

Peça dizia que 'trancar pessoas em casa não é ciência'; entidade afirmou que vai respeitar decisão de cada colégio e família

30 jul 2020 - 23h17
(atualizado em 5/8/2020 às 10h40)
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RIO - Um vídeo divulgado pelo Sindicato das Escolas Particulares do Estado do Rio (Sinepe-Rio), em que a entidade defende a volta imediata às aulas e critica orientações científicas de combate ao novo coronavírus, motivou reações negativas de tradicionais colégios privados cariocas. Logo após a peça começar a circular no último fim de semana, muitas escolas desautorizaram o material e negaram a intenção de retomar atividades na próxima semana, como autorizado pela prefeitura. Especialistas também consideram arriscado retornar agora.

No vídeo, o Sinepe-Rio usa frases como "ciência é a vacina, estudos só confundiram, trancar pessoas em casa não é ciência". Também diz que "confinar é desconhecer, ignorar, subtrair vida, é fragilizar, debilitar, mexer com o emocional. As crianças precisam voltar a se relacionar". Anteontem, o Sinepe afirmou, em nota, que respeitará as decisões de cada escola e família. Também ressaltou que não há data definida para que a volta às aulas e disse que serão seguidos os protocolos.

Colégios como o Santo Inácio, Escola Parque, Centro Educacional Anísio Teixeira e Sá Pereira reagiram. Em notas oficiais, repudiaram o vídeo e ressaltaram que pretendem retomar atividades presenciais só quando tiverem amparo da comunidade científica para fazê-lo em segurança.

"Chega a ser patético e assustador que tal discurso seja usado por representantes de donos de estabelecimentos de ensino. Trata-se de uma contradição, pois educadores ou os que os representam não deveriam replicar tais discursos", disse a Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (que congrega sindicatos dos professores de escolas privadas locais), em nota. "Além de causar perplexidade, é ilegal, pois vai de encontro à política pública de combate ao vírus em nosso País."

A prefeitura autorizou escolas privadas a retomarem atividades a partir da próxima semana, mas ressaltou que se trata de "medida autorizativa, facultativa e não impositiva, porque escolas privadas voltam se quiserem". Ainda não há previsão sobre retorno na rede pública.

Especialista vê risco alto em retomar classes

Estudo divulgado na semana passada pelo Fiocruz apontou que o retorno da atividade escolar coloca os estudantes em situação potencial de transmitir o coronavírus. Mesmo que escolas e colégios adotem as medidas de segurança, o transporte público e a falta de controle sobre o comportamento de adolescentes e crianças que andam sozinhos representam potenciais situações de contaminação por covid-19.

Para o epidemiologista Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e coordenador do grupo de trabalho de combate ao coronavírus da universidade, a retomada das aulas presenciais neste momento é precipitada, apesar de a curva de transmissão estar em queda na cidade. "O número de casos de covid está numa tendência de queda, mas mais lenta desde que o prefeito anunciou a flexibilização", afirmou,. "Temo que com a reabertura das escolas aconteça uma inflexão dessa curva, porque para reabrir é necessária a mobilização de milhões de pessoas - alunos, professores, familiares, tem a questão do transporte, e por aí vai."

Para Medronho, o ideal é que a reabertura aconteça seguindo o que aconteceu nos países europeus. Lá, o critério adotado foi voltar às atividades somente quando a taxa de transmissão do vírus estivese abaixo de 1. Ou seja, cada infectado contaminaria menos de uma pessoa. No Rio, esse indicador tem oscilado entre 1,2 e 1,3.

O epidemiologista criticou ainda o vídeo divulgado pelo Sinepe-Rio no fim de semana. "Não tenho mais filho em idade escolar, mas se tivesse e um deles estudasse em alguma escola signatária daquele vídeo, eu tirava de lá na mesma hora", afirmou. "Eu sou epidemiologista agora, mas fui pediatra por muitos anos. E o que eu fazia para os meus filhos eu indicava para os meus pacientes."

Estadão
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