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Confusão no Ministério da Educação pode atrasar o Enem

A comissão criada para analisar as questões deve terminar o trabalho até segunda; mas o cargo de quem dará a resposta final está vago

29 mar 2019 - 03h11
(atualizado às 08h17)
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SÃO PAULO - A confusão no Ministério da Educação (MEC) está inviabilizando até a polêmica comissão criada para analisar as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que pode atrasar todo o cronograma do maior vestibular do País. O grupo começou a trabalhar no dia 20 e deve terminar nesta sexta-feira ou, no máximo, segunda-feira (a regra previa que a análise duraria dez dias).

Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez
Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez
Foto: MATEUS BONOMI/AGIF / Estadão

O problema é que as perguntas consideradas inadequadas pela comissão devem obrigatoriamente ter um parecer pelo responsável pela Diretoria de Avaliação de Educação Básica (Daeb), do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep). O diretor Paulo Roberto Cesar Teixeira pediu demissão nesta quinta-feira, 29, e ninguém foi nomeado para substituí-lo. Também seria do presidente do Inep a função de dar o parecer final para saber se as questões ficam ou não na prova.

Marcus Vinicius Rodrigues, que ocupava o cargo, foi exonerado terça-feira, depois de desentendimentos com o ministro Ricardo Vélez Rodríguez. O chefe da pasta disse que Rodrigues aprovou mudanças na avaliação para alfabetização sem o consentimento dele - "puxou o tapete", conforme afirmou nesta quarta-feira, 27, em audiência na Câmara dos Deputados.

Só depois de a comissão finalizar seus trabalhos é que serão escolhidas as 180 questões da prova deste ano, em um trabalho demorado porque envolve análises pedagógicas e técnicas, uma vez que o Enem mantém um rigoroso método estatístico. O exame será em novembro.

Conforme noticiou o Estado com exclusividade no dia 20 deste mês, a função da comissão com três membros era a de fazer uma análise transversal dos chamados itens - as questões. O objetivo era o de "identificar abordagens controversas com teor ofensivo a segmentos e grupos sociais, símbolos, tradições e costumes nacionais".

Os integrantes desse comitê são Marco Antônio Barroso Faria, ex-aluno de Vélez, que é assessor no MEC, Antônio Maurício Castanheira das Neves, diretor no Inep, e Gilberto Callado de Oliveira, procurador de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina, ligado a Eduardo Bolsonaro.

Quem está assumindo as funções de presidente de Inep, embora não nomeado ainda, é o general Francisco Mamede de Brito Filho. Ele não tem experiência específica na área da educação nem em avaliações. O militar serviu no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e comandou o Batalhão Brasileiro no Haiti. Até a demissão de Rodrigues ele era o chefe de gabinete no Inep e tinha apenas funções burocráticas.

Vélez nomeia dois 'olavistas' para seu gabinete

O ministro Ricardo Vélez Rodríguez nomeou ontem dois 'olavistas' para cargos de assessor em seu gabinete. Murilo Resende, que inicialmente havia sido indicado para a diretoria que cuida da Enem e, depois da repercussão negativa, acabou como assessor de outra secretaria, foi agora promovido para trabalhar diretamente com Vélez. Ele é ex- aluno de Olavo de Carvalho e um defensor do Escola sem Partido.

O outro é Ricardo Luiz Silveira da Costa, especialista em História Medieval e Inquisição. Foi publicada no Diário Oficial também a exoneração de Tânia Almeida da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC). Ela deixou o posto depois que a pasta publicou uma portaria que suspendia a avaliação da alfabetização no País. No lugar dela, ficou Alexandro Ferreira de Souza, que já era secretário de Educação Profissional e Tecnológica. /COLABOROU LUCI RIBEIRO

Estadão
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