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'Não adianta estar no escritório e ficar fechado numa sala', diz executiva da Basf

Para executiva que acabou de assumir comando da multinacional na Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, modelo híbrido reúne o melhor dos dois mundos

19 ago 2022 - 15h11
(atualizado em 1/9/2022 às 11h11)
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Primeira brasileira a alcançar o posto de CEO na multinacional Basf, Renata Milanese, está no comando dos negócios da Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguay desde julho. A mudança, segundo a executiva, que foi jogadora profissional de vôlei do antigo Banespa e São Paulo, ocorre em tempos de grandes desafios, com muitas transformações no mundo corporativo. E um dele é ser um líder moderno que contagie toda a equipe mesmo em tempos de home office.

Na avaliação dela, a pandemia mostrou novas possibilidades no mercado de trabalho. Hoje, passado o pior da crise sanitária, está claro que o modelo híbrido, com home office e trabalho presencial, reúne o melhor dos dois mundos, diz a executiva. "No home office, você consegue combinar qualidade de vida e uma alta performance. Mas quando se está no escritório você tem uma conexão e a discussão, positivas à inovação."

Ela destaca, no entanto, que não adianta trabalho presencial se não houver interação. "Não adianta estar no escritório e ficar fechado numa sala de reunião o dia inteiro." Confira trechos da entrevista:

Como é assumir um posto tão relevante em tempos de grandes transformações?

É um desafio, mas também uma grande oportunidade. Meu papel é conseguir trazer as pessoas para esse momento que o mundo e as indústrias estão vivendo, de evoluir junto com digitalização, com a tecnologia. É um momento desafiador, mas muito legal, de realmente poder somar e contribuir com a organização, de convidar todo mundo a subir nessa evolução e nessa transformação. O momento não poderia ser mais interessante. Porque honestamente, se fosse para manter o status quo, eu não seria a pessoa certa.

Essas transformações também exigem uma mudança significativa do executivo?

Estamos passando por essa transformação. E um dos grandes desafios é aprender a se transformar e reaprender. Como executiva tenho de estar aberta a escutar o que está acontecendo e aprender a se adaptar a esse novo macro ambiente que vivemos. Hoje temos muita abertura para trabalhar em conjunto. A relação de hierarquia mudou muito. A liderança não é mais só pelo poder. Passa por conseguir colaborar e entender qual o momento da empresa. É realmente estar junto com as pessoas. Digo que meu maior papel como líder é remover as barreiras e abrir os caminhos.

Qual a dica para os executivos conseguirem fazer essa transformação?

Tem de ter muita abertura e trabalhar com espírito colaborativo para juntar cabeças diferentes. Adoro trabalhar com o tema de diversidade. Quando juntamos cabeças diferentes temos soluções diferentes. Também é preciso ter muita resiliência, pois nem tudo dá certo. É importante aprender com os erros.

Para Renata Milanese, se um executivo quer fazer sucesso, ele precisa aprender a ler o macro ambiente Foto: Artur Calazans

O que precisamos aprender e desaprender nos tempos atuais?

Temos de aprender coisas novas que estão vindo por ai, sobretudo relacionadas à tecnologia. E precisamos desaprender modelos antigos de como fazer as coisas. Falamos de agile methodology (método ágil) contra o sistema que fazíamos em fase. Hoje temos novas metodologias que trazem muita agilidade. O tempo com que as coisas acontecem é muito mais veloz. Para isso, é preciso desburocratizar processos e conseguir implementar metodologias ágeis para evoluir num tempo de mercado adequado.

Na sua opinião, é possível aprender a se tornar um profissional moderno, flexível?

Acredito que sim. Se um executivo quer ter sucesso, ele precisa aprender a ler o macro ambiente, faz parte do nosso papel. Não é só a caixa em que a gente atua. Temos de ler o macro ambiente, a economia, o mundo, que está evoluindo muito mais rápido. Então é preciso aprender a se adaptar, aprender a ter flexibilidade. A pandemia é o exemplo mais recente disso. Já vínhamos adotando um ou dois dias de home office, mas quando veio a pandemia ninguém teve escolha. Todo mundo começou a trabalhar de casa e foi sensacional. Todos tiveram de se adaptar. Temos de ser flexíveis. Talvez aqueles que conseguem entender isso antes podem ter melhores resultados.

Qual a sua opinião sobre o home office? Há quem acredite que o home office pode atrapalhar o crescimento profissional.

Para mim, o híbrido soma o melhor dos dois mundos. No home office, você consegue combinar qualidade de vida e uma alta performance. Conseguimos através de disciplina e ferramentas um alto rendimento. Mas quando se está no escritório você tem uma conexão, você tem a discussão. E inovação acontece por acaso. O Onono é o nosso centro de experiências científicas digitais. É um espaço físico que a gente tem ideias só por estar lá conversando com as pessoas e recebendo clientes. Agora não adianta estar no escritório e ficar fechado numa sala de reunião o dia inteiro. O modelo híbrido exige uma boa forma de conduzir esse híbrido.

A criatividade está associada a interação social?

Diria que a criatividade e o compartilhamento de ideias dependem disso, porque em ambientes grandes como o da Basf ninguém faz nada sozinho. É preciso interagir com as pessoas. Muito da Inovação e da criação vem do acaso. Mas não é só gerar ideias. Inovação que vale a pena é inovação implementada. É preciso ter essa mistura, de entender as necessidades, pensar as soluções e executar. Por isso, acredito muito no modelo híbrido. Na Basf, fiz parte da implementação desse modelo. Hoje no mundo inteiro as pessoas trabalham duas, três ou quatro vezes por semana em casa. Vemos que há pessoas que querem ir para o escritório. É uma coisa de estar junto, pensar junto, almoçar junto. Entendemos que é importante também se conectar com a cultura da empresa. Para isso, é preciso se conectar com pessoas e gerar espírito de equipe. Isso não ocorre se for 100% remoto. Pode até ocorrer, mas vai levar mais tempo.

E como tem sido trabalhar com diferentes gerações dentro da empresa?

Trabalhar com jovens é uma injeção de energia. Aprendemos muito com eles e grande parte do sucesso que temos hoje é por ter jovens integrados à experiência. Equilíbrio é conseguir extrair o melhor de cada um. Temos pessoas que entendem a cultura da empresa, entendem o mercado e os clientes, mas temos jovens trazendo muitas inovações. Quando você consegue fazer o match desses mundos tão diferentes realmente você tem soluções que são evolutivas, com grande senso de realidade. É preciso entender as diferenças e também saber conectá-las.

Que habilidades uma pessoa precisa ter para ser considerado um talento para vocês?

Não é uma ciência exata. O que a gente tem procurado muito nos talentos é criatividade, abertura, responsabilidade e empreendedorismo. Todos os funcionários têm esse olhar. Quando fiz MBA no Canadá, eu fiz empreendedorismo. Eu sou muito empreendedora. Fui jogadora de vôlei. Então tenho essa coisa de atleta de querer se juntar com as pessoas para fazer acontecer algo grande.

A nova geração é vista como pessoas que não têm muita responsabilidade. Isso é só um estereótipo?

Hoje os jovens chegam preocupados em criar alguma coisa, em ser empreendedor e usar a criatividade. Se você consegue abrir esse espaço e gerar essa conexão, eles são super responsáveis. Mas, se você não consegue fazer isso, fica mais difícil. Para mim, os jovens são uma fonte de muito conhecimento. Sabem coisas de tecnologia que talvez em nossa vida inteira não saberemos.

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Estadão
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