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Índice de felicidade entra no foco das empresas

Com a pandemia, cresce interesse por ferramentas para medir o bem-estar dos funcionários

18 jan 2021 - 12h42
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Se antes da pandemia o bem-estar dos profissionais já era visto como ativo estratégico por um número crescente de empresas, agora a questão deixou de ser tendência para se tornar urgência. Uma pesquisa realizada pela clínica Med-Rio Check-up, no Rio de Janeiro, mostrou que o estresse crônico se tornou o principal fator de risco para a saúde dos executivos. Três em cada cinco homens e uma em cada três mulheres sofrem do mal.

Na direção oposta, a felicidade passou a ser considerada um índice objetivo de medição do bem-estar. "Quando o grau de felicidade do colaborador se eleva, é possível verificar a elevação de outros indicadores, como a satisfação dos clientes e, consequentemente, o lucro da empresa", afirma Fernando Brancaccio, fundador da plataforma de humanização organizacional FairJob.

Para ajudar as organizações a mensurar o nível de bem-estar e identificar que práticas precisam de ajustes, a plataforma usa o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) - conceito criado no Butão como contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) ocidental. Transposto para a realidade corporativa, o FIB analisa o grau de felicidade dos colaboradores a partir de 62 perguntas que avaliam a percepção sobre dimensões como bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, educação, cultura, padrão de vida e governança.

Na sequência, a FairJob relaciona os resultados com o indicador NPS (Net Promoter Score), que mede a experiência dos clientes, e o EBITDA, que quantifica o lucro operacional das empresas. Paralelamente, alinham-se os indicadores internos ao ESG (Environmental, Social and Governance), que mede a intenção e a percepção externa sobre as áreas ambiental, social e de governança da empresa. "Deixa de ser uma construção subjetiva para refletir o dia a dia do que o gestor está fazendo certo e do que deveria fazer", diz Brancaccio. "A falta de bem-estar psicológico é a próxima pandemia pela qual vamos passar, por isso está acontecendo uma mudança de comportamento", acredita.

Fundadora do Instituto Feliciência, a psicóloga Carla Furtado ressalta que o processo de reconhecimento do bem-estar como fator estratégico é parte de uma transformação sistêmica na forma de fazer e gerir negócios. Ela fala ainda que a escala FIB não avalia a felicidade em si, mas as condições sociais de felicidade. "Afinal, somos seres inteiros, não somos um indivíduo dentro e outro fora do trabalho", lembra.

"Outro ponto relevante é a segurança psicológica, que preconiza que, quando as pessoas se sentem seguras para contribuir com ideias e compartilhar preocupações, há maior probabilidade de incremento em inovação e performance", explica. Já onde o medo é fator dominante, ela afirma que as oportunidades de crescimento são reduzidas e os riscos de erros, ampliados.

Tecnologias corporativas

A startup Hisnek, desenvolvedora da Ivi (assistente de saúde e bem-estar que ajuda o mercado corporativo a cuidar dos colaboradores e conta com clientes como Pearson, Suzano e Ambev), cresceu 60% no período da pandemia. Construída em cima de protocolos rígidos de saúde, a tecnologia atua como funil para identificar e direcionar o tratamento de casos mais graves e oferecer apoio para que casos mais simples não avancem.

Com a chegada da pandemia, um mapeamento feito a partir das respostas de mais de 700 colaboradores da base da Ivi mostrou que algumas emoções se tornaram mais homogêneas. Começaram a aparecer queixas como cansaço (30%), preocupação (10%), insegurança (9%) e ansiedade (15%).

Em 30 dias de interação com a tecnologia, os resultados diminuíram significativamente, segundo a Hisnek. No segmento educacional, a ansiedade passou de 15% para 11%; o cansaço, de 25% para 21%; a preocupação, de 10% para 4%. Já no setor de seguros, os colaboradores passaram a ter como principal sentimento o engajamento (37%) e o aumento no índice de felicidade foi de 3%. A área de tecnologia - uma das mais atingidas pela ansiedade -, teve alta de 15% no mesmo índice.

Outro exemplo de apoio é o Well One, aplicativo da Aon Brasil que permite promover e monitorar a saúde em uma perspectiva holística, nas dimensões física, social, emocional e financeira. "Ele ajuda os colaboradores a compreenderem o que é necessário para administrar melhor estilo de vida e finanças", diz o vice-presidente executivo de health & retirement solutions, Paulo Jorge Cardoso.

Autora do livro Dá um Tempo! (Ed. Principium), a jornalista Izabella Camargo estudou a fundo as consequências que uma agenda sobrecarregada pode trazer à saúde. Após entrevistar especialistas e personalidades como Fernanda Montenegro, Nelson Motta e Padre Fábio de Melo e viver ela mesma a experiência da síndrome de burnout, ela fala sobre estabelecer limites em um mundo sem limites. "Naquele conceito de que o trabalho engrandece a pessoa, a gente glamouriza uma agenda cheia", reflete. "Só que está muito claro que ou a gente aprende a descansar e ter momentos de pausa ou vai ter de aprender a trabalhar doente."

Estadão
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