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Bolsonaro adia decisão sobre MEC e candidatos buscam apoio

Candidatos ao posto se movimentam nos bastidores em busca de apoio político e de entidades educacionais que possam ajudar na escolha

8 jul 2020 - 21h52
(atualizado às 22h04)
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Ministério da Educação
Ministério da Educação
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado / Estadão Conteúdo

Na tentativa de agradar ideológicos, militares e evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro tem adiado a sua decisão para indicar o novo ministro da Educação. O cargo está vago há 20 dias desde que Abraham Weintraub deixou o governo sob pressão. Enquanto isso, candidatos ao posto se movimentam nos bastidores em busca de apoio político e de entidades educacionais que possam ajudar na escolha do presidente.

Auxiliares do Planalto evitam determinar uma data para o anúncio do novo titular da Educação, mas Bolsonaro, diagnosticado com a covid-19, já fez as últimas entrevistas para o cargo e faz as derradeiras análises antes de indicação. De acordo com assessores próximos, o presidente reconhece que não há mais chances para errar.

O mais recente cotado é o ex-vice reitor da Universidade Mackenzie, Milton Ribeiro. Pastor presbiteriano em Santos (SP) e doutor em Educação, ele conversou por videoconferência na terça-feira, 7, com o presidente. Momentos antes da reunião virtual, Bolsonaro indicou, sem mencionar nome, que falaria com um "candidato do Estadão de São Paulo" e que ele "talvez" fosse o escolhido.

No ano passado, Ribeiro foi indicado por Bolsonaro para integrar a Comissão de Ética da Presidência (CEP). A sugestão para quw ele seja o novo comandante do MEC é atribuída ao ministro-chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira. A chancela de Oliveira tem sido determinante para nomeações no governo.

Apesar de pastor, Milton Ribeiro não agrada a todos os evangélicos. "No segmento evangélico o Mackenzie é a pior referência conservadora que eu conheço. De todo o ensino confessional, é o menos conservador", disse o deputado federal Sóstenes Calvante, que quer ver nomeado o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correia. Ex presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ele é membro da Igreja Batista e teria o apoio de parte de militares.

O pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, admite a torcida por Correia, mas diz que para ele não faz diferença que o novo ministro seja evangélico. O religioso tem telefonado ao presidente para passar sua opinião sobre os rumos da Educação no País. "Meu candidato é aquele que seja competente e alinhado ideologicamente com o presidente, seja ele evangélico ou não. Nunca me preocupei com isso", disse Malafaia ao Estadão.

Apontado pelo presidente como "reserva" para o cargo de ministro, o líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-SP), vem buscando apoio de parlamentares para assumir o posto e tem se apresentado a integrantes de entidades educacionais, como a a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e a Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif).

Integrante da Comissão da Educação, o deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES) pondera que o líder pode ser considerado um avanço no MEC por ter capacidade de diálogo. "Ele não tem experiência na área e é um defensor do governo, mas ele ouve e dá para dialogar. Comparando com o que tínhamos vamos ter um grande avanço", disse Rigoni. "É bom nome, técnico e é preparado para o cargo. Vitor Hugo é bom, faria uma boa parceria com parlamento e o presidente Jair Bolsonaro", líder do Republicanos, Jhonatan de Jesus.

A ida de Vitor Hugo para o MEC é de interesse também de parte do Centrão que quer assumir a liderança do governo na casa. Bolsonaro, no entanto, resiste em tirar o aliado do posto sem encontrar uma nova posição. O parlamentar é considerado de extrema confiança do presidente. Caso a liderança fique vaga, o nome mais especulado para o cargo é do deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR).

Segue correndo por fora o secretário-executivo do MEC, Antonio Vogel, que tenta se cacifar para ser efetivado como ministro. A divulgação da nova data nesta quarta-feira, 8, deverá ser usada para se promover como um nome competente para fazer entregas e e diálogo com secretários estaduais, universidades públicas e privadas. Eles espera também o apoio da bancada da educação.

Presidente da Comissão da Educação na Câmara, o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-BA) critica a indecisão do presidente. "Acho que nem Bolsonaro sabe para que lado vai. Total descaso com a educação", disse.

Na terça-feira, 7, Bolsonaro disse que tem recebido "excelente currículos", mas muitos candidatos "declinam e outros pedem tempo para pensar" ao serem apresentados aos problemas da pasta.

Foram avaliados para o cargo Sérgio Sant'Ana, ex-assessor de Weintraub, e Ilona Becskeházy, secretária de Educação Básica do MEC. Há ainda o evangélico Benedito Guimarães Aguiar Neto, que foi reitor da Universidade Mackenzie e hoje é presidente da Capes. Na segunda-feira, Bolsonaro também recebeu o reitor da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Aristides Cimadon.

O Ministério da Educação está sem um titular desde a saída de Abraham Weintraub, anunciada no dia 18 de junho. Bolsonaro chegou a nomear o professor Carlos Alberto Decotelli, ex-presidente do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE). Cinco dia depois, no entanto, ele pediu demissão após informações falsas serem apontadas em seu currículo.

Na última quinta-feira, 3, Bolsonaro convidou para o MEC o secretário estadual de Educação do Paraná, Renato Feder, que havia aceitado. Entretanto, com a divulgação o convite, Feder passou a ser alvo de fritura de grupos ideológicos, evangélicos e até militar. No domingo, 5, o secretário usou as redes sociais para rebater as críticas e disse que declinou a proposta do presidente.

Também na terça-feira, o opresidente se negou a dizer se tinha um preferido para o posto. "Não posso falar. O mundo cai na cabeça do favorito. Todo mundo vai para cima dele até o que ele fez quando ele tinha 5 anos", destacou. / COLABOROU CAMILA TURTELLI

Estadão
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