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E se Trump fechar a fronteira com o México?

3 abr 2019 - 08h05
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Nos últimos dias, presidente americano vem ameaçando cerrar divisa com o vizinho do sul, e isso pode acontecer a qualquer momento, mesmo diante das crescentes advertências de que as perdas econômicas seriam enormes.Em novembro do ano passado teve-se uma pequena amostra do que pode acontecer se os Estados Unidos fecharem a sua fronteira com o México: um total de 650 empresas no lado americano da fronteira entre San Diego e Tijuana perderam, segundo dados da Câmara de Comércio local, mais de 5 milhões de dólares - num só dia.

Possível encerramento da fronteira EUA-México teria consequências negativas para ambos os lados
Possível encerramento da fronteira EUA-México teria consequências negativas para ambos os lados
Foto: DW / Deutsche Welle

Pouco antes, autoridades de segurança dos EUA dispararam gás lacrimogêneo contra os centro-americanos que tentaram romper a cerca entre o México e os Estados Unidos. A fronteira permaneceu fechada por várias horas.

As perdas econômicas foram causadas pelo bloqueio de um único posto de fronteira num só dia. No total, a divisa EUA-México entre a costa do Pacífico e o Golfo do México tem mais de 3.100 quilômetros de extensão e há 48 locais de passagem.

O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou fechar todos esses postos de fronteira. Ele já ameaçou fazer isso várias vezes. De acordo com suas declarações mais recentes, isso pode acontecer ainda esta semana. A probabilidade é alta, tuitou o presidente. Seu chefe de gabinete, Mick Mulvaney, disse à emissora ABC que é preciso que algo "dramático" aconteça para que Trump não cumpra sua ameaça.

Basicamente, o presidente dos EUA está preocupado com a migração da América Central. "Nossas instalações de acolhimento estão lotadas e não aceitaremos mais ilegais, então o próximo passo é fechar a fronteira", escreveu Trump no Twitter.

O número de detenções na fronteira EUA-México aumentou nos últimos meses. De 58 mil pessoas detidas em janeiro, esse número subiu para 76 mil em fevereiro. Em março, ele pode ser ainda maior. Diante desses números, Mulvaney falou de uma crise de segurança.

A secretária de Segurança Interna dos EUA, Kirstjen Nielsen, anunciou que as fronteiras seriam reforçadas. Já na semana passada foram anunciados 750 guardas adicionais.

Mas enquanto a Casa Branca aumenta as abordagens verbais do tema, os prefeitos das cidades fronteiriças dizem estar chocados. Por exemplo, Dee Margo, prefeito republicano de El Paso, disse ao jornal britânico The Guardian que estremece quando pensa num possível fechamento: "Seria extremamente prejudicial à nossa economia".

De acordo com a argumentação de Trump, um fechamento de fronteira teria um efeito positivo sobre o déficit comercial dos EUA. Porque os americanos exportam significativamente menos bens para o México do que importam de lá. Trump já acusou várias vezes os países que exportam mais mercadorias para os Estados Unidos do importam deles de serem culpados pelo déficit americano.

Mas a conta não é assim tão simples. Segundo dados oficiais do governo em Washington, como terceiro maior parceiro comercial dos EUA, o México também é extremamente importante para os americanos.

Em 2018 foram trocados bens e serviços no valor de quase 2,5 trilhões de reais. Isso corresponde a cerca a 6,5 bilhões de reais todos os dias, anunciou a Câmara de Comércio dos EUA.

Depois da China, o México é o segundo maior consumidor de produtos americanos. O que Trump quer agora é um absurdo, disse ao jornal The New York Times Gary Hufbauer, do Instituto Peterson de Economia Internacional. "Fechar a fronteira sul equivaleria a uma catástrofe."

Os preços das frutas e legumes podem subir de uma para a outra nos EUA. Mais de 80% dos tomates vendidos nos Estados Unidos vêm do México. O que também vale para os abacates, tão amados pelos americanos.

No entanto, o setor automotivo poderia ser o mais atingido, já que muitas peças são fabricadas no México e posteriormente utilizadas nos EUA. Como as cadeias de fornecimento são extremamente interligadas, as linhas de produção poderiam parar com um fechamento de fronteira.

Muitos mexicanos que vão trabalhar nos EUA também não poderiam mais fazer a travessia. Em vários lugares, as regiões fronteiriças estão intimamente interligadas. Uma média de 90 mil pessoas atravessam a fronteira entre San Diego e Tijuana todos os dias.

Diariamente, 23 mil pessoas vêm de Ciudad Juarez para trabalhar em El Paso, no lado americano. Em Nogales, no Arizona, por volta de 300 mil pessoas atravessaram a pé e quase o mesmo número de carros particulares atravessou a fronteira em direção aos EUA em dezembro.

Num aspecto, o plano de Trump pode de fato ter um efeito positivo: embora os grandes cartéis de drogas possuam aviões e uma rede de túneis, a maior parte do produto passa pelos postos de fronteira. Regularmente, as autoridades apreendem grandes quantidades de drogas em caminhões ou carros.

Seria, no entanto, ingênuo supor que o encerramento das fronteiras poderia realmente alterar alguma coisa no poder dos cartéis. Porque os bilhões da indústria do tráfico permitem que se encontrem rapidamente novas alternativas.

Mas Trump poderia ser bem-sucedido na sua tentativa de limitar a imigração? No passado, ficou demonstrado que o reforço das instalações de fronteira levou os migrantes a encontrarem outras rotas com a ajuda de atravessadores.

Se Trump realmente vier a fechar a fronteira, apesar das críticas de muitos especialistas, provavelmente isso deverá abalar também a economia mexicana. "Tudo que leve a mais pobreza no México também aumenta a pressão migratória", aponta Hufbauer. Então a investida de Trump poderia sair pela culatra.

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