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Crise em Berlim: há saída para Merkel?

16 jun 2018 - 15h46
(atualizado às 18h40)
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Desde que chegou ao poder, há mais de uma década, chanceler alemã jamais foi tão testada dentro de seu próprio governo. Revolta de aliados bávaros pode gerar terremoto político, lhe custar o cargo e forçar nova eleição.Não é a primeira vez nos últimos anos que Horst Seehofer, líder da União Social Cristã (CSU) - aliado bávaro do partido de Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU) - é uma pedra no sapado da chanceler federal alemã. Ele vem se revelando muito mais complicado do que deveria ser como parceiro de governo.

Foto: DW / Deutsche Welle

Há apenas uma diferença tênue entre os valores conservadores cristãos dos dois partidos e, ainda assim, a retórica mais abertamente anti-imigrantes da CSU, mais uma vez, empurrou a aliança para uma crise, uma disputa exacerbada pelas eleições estaduais na Baviera, agendadas para outubro. Na quinta-feira, deputados se reuniram separadamente para determinar o próximo passo a ser dado.

Um breve alarme falso na tarde de sexta-feira, desencadeado por uma revista satírica que divulgou no Twitter a afirmação falsa de que a CSU estava se separando da CDU de Merkel, tocou num profundo medo da centro-direita alemã. Isso seria um grande terremoto político, e suas consequências durariam mais do que as eleições preparadas às pressas que viriam a seguir.

Mas os políticos do partido da Baviera já fizeram tal ameaça antes - mais recentemente em 2015, a última vez que Seehofer se confrontou publicamente com a chanceler sobre a política migratória. Mas desta vez, o fato de que ele também é ministro do Interior e tão diretamente responsável pelos controles de fronteira dá ao caso uma nova urgência. Quais os cenários mais prováveis na crise atual?

Acordo com aliados

A crise está centrada no chamado "plano condutor para a imigração", que o ministro do Interior, Seehofer, quis apresentar na terça-feira, Mas a apresentação foi suspensa por Merkel em cima da hora, porque um dos 63 pontos do documento - rejeitar requerentes de refúgio na fronteira alemã - violaria acordos da União Europeia e seria muito difícil de implementar na prática.

Seehofer poderia simplesmente ter cedido neste ponto - afinal, o plano ainda representa o tipo de marca política que ele gostaria de imprimir em seu novo papel como ministro.

Por um tempo, parecia que a CSU estava mais propensa a recuar: a agência de notícias alemã DPA informou nesta semana que o partido da Baviera ofereceu duas propostas de acordo em uma reunião de emergência na noite de quarta-feira. Ambas envolviam rejeitar solicitantes de refúgio na fronteira, com a esperança de que a decisão seria revertida após a próxima cúpula da UE, dentro de algumas semanas.

Merkel rejeitou ambas as ideias. Para ela, é imperativo ganhar tempo até a cúpula - se tudo correr bem, ela poderá preservar os acordos internacionais, enquanto mantém feliz a ala direita de sua própria coalizão.

Rebelião bávara

Mas os políticos da CSU estão informando aos repórteres que Merkel precisa tomar uma decisão até esta segunda-feira. Se nenhum acordo for alcançado, dizem eles, Seehofer simplesmente imporá o regulamento usando sua autoridade como ministro do Interior - um cargo que lhe dá autoridade sobre a polícia federal e, portanto, sobre os controles nas fronteiras.

Mas a medida só desencadearia uma nova crise, porque Merkel, como chanceler, tem o poder final para determinar as diretrizes políticas do governo. Em outras palavras, Merkel tem o direito constitucional de se impor a Seehofer e determinar que ele faça o que ela diz.

Renúncia de ministro

Se ocorrer mesmo um impasse direto entre os dois líderes partidários, e Merkel simplesmente impor sua vontade a Seehofer, então a renúncia do ministro do Interior (ou sua demissão) parece ser o próximo e inevitável passo.

Isso, segundo os especialistas, significaria o colapso do governo de coalizão e, provavelmente, também o racha final entre a CDU e a CSU. Nas eleições subsequentes, o mapa político teria que ser redesenhado, porque presumivelmente a CDU colocaria candidatos na Baviera.

Isso significaria inevitavelmente um enfraquecimento drástico da CSU - e seu potencial rebaixamento a um partido regional, em vez de um partido regional dentro do partido federal, como é agora. Isso é essencialmente impensável no contexto de sua aliança histórica - mas não pode ser descartado nesse momento.

Moção de confiança

Outra saída para o impasse seria Merkel se submeter a uma moção de desconfiança no Parlamento alemão, testando, assim, a lealdade dos parlamentares da CDU - e, por consequência, também a lealdade dos membros do Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, a terceira legenda na coalizão de governo do país. De fato, do jeito que a coisa vai, os votos do SPD podem ser os mais confiáveis para Merkel. Isso, obviamente, implica certo risco - se ela perder, renunciaria e haveria uma nova eleição.

O comitê executivo da CDU apoia solidamente a chanceler - pelo menos é isso que o governador do estado de Schleswig-Holstein, Daniel Günther, disse ao jornal Neue Osnabrücker Zeitung.

E, mesmo assim, há abutres circulando a CDU: Jens Spahn, ministro da Saúde e crítico interno mais contundente de Merkel, manteve distância na reunião do Parlamento e foi o único membro do comitê executivo do partido a votar contra a própria proposta de acordo de Merkel.

E o que é mais amargo para a chanceler é o fato de Spahn manter boas relações com outra grande figura da CSU, Alexander Dobrindt, e com o chefe do Partido Liberal (FDP), Christian Lindner - que desencadeou a crise política do ano passado bloqueando qualquer coalizão com uma CDU sob liderança de Merkel. Todos os três querem que a Alemanha assuma uma posição mais dura em relação à política para refugiados. Se o tempo de Merkel chegar ao fim, esse triunvirato conservador-neoliberal provavelmente aproveitará a brecha.

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