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Política

CPI quer acesso a rede bolsonarista excluída pelo Facebook

Parlamentares à frente da comissão dizem que o banimento das contas está em linha com fatos revelados pela investigação

8 jul 2020 - 19h55
(atualizado às 20h46)
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BRASÍLIA - A cúpula da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News comemorou a derrubada de uma rede de perfis virtuais de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, comunicada nesta quarta-feira, dia 8, pelo Facebook. Parlamentares à frente da comissão afirmaram que o banimento das contas está em linha com fatos revelados pela investigação e que o caso reforça a necessidade de ter acesso ao conteúdo publicado por meio dessas contas excluídas.

O presidente da CPMI, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), afirmou que muitas das páginas já haviam sido denunciadas no colegiado. Segundo ele, os dados publicado nas contas, páginas e grupos virtuais são importantes para verificar se há indícios de crimes que poderiam ser relatados ao Ministério Público. Atualmente, o colegiado está com os trabalhos suspensos, mas a previsão é de que a retomada, presencial, ocorra em agosto. "Muitas dessas páginas foram fruto de denúncias na CPMI. Vamos solicitar o conteúdo", disse Coronel.

O presidente da CPI das 'fake news', senador Angelo Coronel (PSD-BA), durante reunião deliberativa da comissão.
O presidente da CPI das 'fake news', senador Angelo Coronel (PSD-BA), durante reunião deliberativa da comissão.
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado / Estadão Conteúdo

Nos bastidores da comissão, as empresas por trás das principais redes sociais usadas no País já prometiam uma reação aos indícios de irregularidades encontrados pela CPMI, nos moldes do banimento comunicado pelo Facebook, mas os parlamentares não tinham detalhes de como ocorreria.

O senador também disse que a iniciativa da empresa é "louvável" e corrobora a proposta contida na projeto de lei (PL) das Fake News, aprovado no Senado na semana passada e agora em tramitação na Câmara dos Deputados. "Essa ação está de acordo com o PL que aprovamos, no qual o banimento de contas inautênticas ficaria a cargo das plataformas. Esperamos que o WhatsApp atue também para descobrir autores de disparos em massa que vêm atacando a honra das pessoas e instituições", afirmou Coronel.

Relatora da CPMI, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA) considerou que a apuração do Facebook "não causa espanto". Para ela, a comissão parlamentar já apontava a suspeita de uma rede com "amplo apoio" do clã Bolsonaro. "Não chega a causar espanto para nós que temos trabalhado na CPMI das Fake News desde o ano passado. Nossas investigações sempre apontaram para uma rede de desinformação que pode sim ter influenciado o pleito eleitoral de 2018 e que continua atuante com fortes suspeitas de amplo apoio da família Bolsonaro", disse Lídice, em nota. "Neste momento, entendemos que as plataformas se juntam a todos aqueles e aquelas que lutam por liberdade de expressão, mas também por responsabilidade nas redes e pelo combate à desinformação e contra qualquer prática de discursos caluniosos e que espalham o ódio por todo o nosso País."

O Facebook, que também é dono da rede Instagram e do aplicativo de mensagens WhatsApp, disse ter excluído perfis, páginas e um grupo depois de ter identificado uma "atividade conectada" a partir de contas duplicadas e falsas. Em investigação própria, a empresa descobriu elos dessa rede com assessores de políticos do PSL, apoiadores de Bolsonaro, e da família presidencial. Eles se passavam por repórteres e veículos de imprensa e disseminavam conteúdos críticos a opositores, jornalistas, empresas de mídia e até sobre a pandemia da covid-19.

"Ainda que as pessoas por trás dessa atividade tentassem ocultar suas identidades e coordenação, nossa investigação encontrou ligações a pessoas associadas ao Partido Social Liberal (PSL) e a alguns dos funcionários nos gabinetes de Anderson Moraes, Alana Passos, Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro", disse o Facebook, em comunicado oficial. "A atividade incluiu a criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de páginas fingindo ser veículos de notícias. Os conteúdos publicados eram sobre notícias e eventos locais, incluindo política e eleições, memes políticos, críticas à oposição política, organizações de mídia e jornalistas, e mais recentemente sobre a pandemia do coronavírus."

Segundo a plataforma, as contas foram banidas por violar padrões, com discurso de ódio. O chamado "comportamento inautêntico coordenado no Brasil" foi apurado com base em notícias na imprensa e investigações no Congresso Nacional.

Do Facebook, foram apagadas 35 contas, 14 Páginas e um grupo. Do Instagram, a empresa removeu 38 contas. A rede associada ao bolsonarismo atingia 883 mil perfis no Facebook, e cerca de 350 pessoas se juntaram ao grupo excluído. No Instagram, o alcance era de 917 mil usuários. Houve até pagamento por anúncios para impulsionar conteúdos. O gasto com publicidade soma cerca de US$ 1,5 mil (cerca de R$ 8 mil). Entre os perfis deletados estão o Jogo Político e Bolsonaro News, no Facebook, e @bolsonaropr2022, no Instagram.

Estadão
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