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Cotado para ministro, Ciro Nogueira apoiou PT em 2018 e chamou Bolsonaro de 'fascista'

Presidente do Progressistas, senador aderiu à base governista junto com Centrão; rompimento com petistas ocorreu no ano passado

21 jul 2021 - 15h14
(atualizado às 20h56)
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BRASÍLIA - Em quatro anos, o presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir o comando da Casa Civil, passou de alguém que chamava o chefe do Executivo de "fascista" para, agora, ocupar uma sala ao lado dele, dentro do Palácio do Planalto.

Até 2018, o senador era ligado aos principais adversários de Bolsonaro. Nas eleições presidenciais, Nogueira apoiou Fernando Haddad (PT) desde o primeiro turno, inclusive com a participação de comícios do petista no Piauí. A decisão de apoiar o PT contrariou a própria legenda dirigida pelo parlamentar. Isso porque o Progressistas fez parte da coligação do então candidato Geraldo Alckmin (PSDB).

Ciro Nogueira apoiou Fernando Haddad (PT) em 2018
Ciro Nogueira apoiou Fernando Haddad (PT) em 2018
Foto: Reprodução / Estadão

Apesar de ter apoiado Haddad, Nogueira participou das reuniões que sacramentaram o apoio ao tucano. Durante a eleição de 2018, após a candidatura de Lula ter sido barrada pela Justiça Eleitoral, o senador declarou que ficaria com o ex-presidente "até o fim".

Críticas a Bolsonaro não faltaram. "O Bolsonaro, eu tenho muita restrição, porque é fascista, ele tem um caráter fascista, preconceituoso, é muito fácil ir para a televisão e dizer que vai matar bandido", afirmou Nogueira em 2017, em entrevista à TV Meio Norte, emissora do Piauí, sobre o então presidenciável pelo PSL.

De uma família com forte presença na política, o novo ministro da Casa Civil herdou o nome do pai, Ciro Nogueira Lima, que foi deputado federal pelo Piauí nas décadas de 1980 e 1990. Etevaldo Nogueira Lima, tio do senador, foi deputado pelo Ceará no mesmo período. O avô Manuel Nogueira Lima foi prefeito da cidade piauiense de Pedro II.

Antes de ser filiado ao Progressistas, o parlamentar do Piauí foi do PFL (hoje DEM) e do PTB, tendo iniciado sua carreira política em 1994, ao ser eleito para uma vaga na Câmara dos Deputados. Em 2009, tentou ser presidente da Casa e ficou em segundo lugar, com 129 votos, atrás de Michel Temer (MDB), que foi eleito com 304 votos. Exerceu o cargo de deputado até 2010, quando foi eleito senador.

A entrada no Progressistas se deu em 2002 pelas mãos de seu então sogro, Lucídio Portella, ex-governador e ex-senador do Estado. Nogueira foi casado até 2019 com a deputada Iracema Portela (Progressistas-PI), filha de Lucídio.

Nordeste

Nogueira preside o Progressistas desde 2013, dando início a uma era de influência da bancada do Nordeste no partido. Antes dele, a sigla era comandada por Francisco Dornelles, que já foi vice-governador do Rio, e tinha Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, como maior líder nacional. A legenda faz parte do Centrão, grupo de partidos conhecido por sua atuação fisiológica.

Foi no ano passado, em meio ao início da aproximação de Bolsonaro com o Centrão, que o senador rompeu com o PT e se declarou oposição ao governador Wellington Dias (PT-PI). Bolsonaro já foi filiado por mais de dez anos ao Progressistas. Apesar do longo tempo de mandato de deputado exercido pelo partido, o hoje presidente da República nunca foi escolhido pela sigla para exercer cargo de liderança ou comandar comissões.

Ex-presidente do time de futebol piauiense River, o senador já entregou uma camisa do clube a Bolsonaro, que costuma colecionar camisas de time, durante visita do presidente ao Estado, em 2020.

Além das mudanças políticas do período das eleições de 2018 até hoje, a postura "camaleônica" de Nogueira já transpareceu em outras ocasiões. Ele foi da base da então presidente Dilma, mas decidiu apoiar o impeachment da petista.

"É uma decisão que eu não defendia, não vou negar. Mas não vejo alternativa do que acatar a decisão da bancada", disse o presidente do partido em abril de 2016, nas vésperas do afastamento de Dilma. Após Temer assumir o Planalto, o senador continuou na base governista mesmo com a mudança de governo.

Nogueira é anfitrião frequente de reuniões para alianças políticas. Em 2018, sua casa em Brasília foi sede de vários encontros com caciques de DEM, PSDB, Republicanos, PL e Solidariedade.

Sua influência no governo Bolsonaro não começou agora. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kássio Nunes, conterrâneo do senador, foi escolhido para a vaga por indicação do parlamentar, que intercedeu ao presidente.

Lava Jato

O senador é um dos principais alvos no mundo político da Operação Lava Jato, mas tem se beneficiado do enfraquecimento sofrido pelas investigações. Em março, o Supremo decidiu arquivar a denúncia por organização criminosa apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra Nogueira e mais três deputados no caso conhecido como "quadrilhão do PP".

De acordo com a acusação da Procuradoria-Geral da República, o esquema também teria atingido a Caixa Econômica Federal e o extinto Ministério das Cidades, hoje parte Ministério do Desenvolvimento Regional, com objetivo de obter propina de forma estável e "profissionalizada".

O político é ainda alvo de inquéritos que investigam propina recebida da Odebrecht e da JBS, mas nega irregularidades. "O senador Ciro Nogueira foi colocado sob foco de investigação num momento no qual havia, claramente, uma tendência de criminalização da política. Uma estratégia vulgar adotada pela tal Operação Lava Jato e que já foi condenada pelo Supremo Tribunal", disse o advogado do parlamentar, Antônio Almeida de Castro, o Kakay.

Estadão
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