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Coronavírus

Famílias de vítimas da covid-19 criticam fala de Bolsonaro

'As pessoas estão morrendo. Ele não poderia ter falado desse jeito', diz dona de casa que perdeu a sogra

26 mar 2020 - 05h11
(atualizado às 07h23)
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Familiares de vítimas do coronavírus no Brasil reagiram ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, anteontem, no qual ele classificou a pandemia como "gripezinha" e resfriadozinho". Para eles, o presidente cometeu uma "loucura" e "está errado" ao minimizar os efeitos da doença no País.

Homens com máscara e roupa de proteção transportam caixão para cemitério em Bergamo
16/03/2020
REUTERS/Flavio Lo Scalzo
Homens com máscara e roupa de proteção transportam caixão para cemitério em Bergamo 16/03/2020 REUTERS/Flavio Lo Scalzo
Foto: Reuters

Na casa da família da aposentada Maria da Conceição Costa, de 73 anos, que morreu com suspeita de coronavírus, em Capão Bonito, no interior de São Paulo, no sábado, o clima era de inconformismo. "O presidente está errado. Ele não poderia ter falado desse jeito. As pessoas estão morrendo. Começou na China e está chegando aqui", disse a dona de casa Maria Valdirene Queiróz, nora da vítima. "A gente fica triste com tudo o que está acontecendo e ele tinha de ficar triste também."

Por causa da suspeita da doença, o corpo de dona Concebenta, como a aposentada era conhecida, foi velado em caixão fechado. O velório durou menos de duas horas. Morador de São Paulo, o filho mais velho entre nove irmãos não conseguiu chegar a tempo de acompanhar o sepultamento. O teste de coronavírus foi feito nos familiares no dia 19, quando a idosa foi internada. Os resultados ainda não foram divulgados.

A assistente de vendas Bruna Marques, de 24 anos, afirmou que o pronunciamento do presidente foi uma "loucura". No domingo, sua mãe, a auxiliar de enfermagem Cleide Renata Marques, de 43 anos, morreu no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, no litoral de São Paulo. Ela apresentava sintomas semelhantes ao do novo coronavírus, e aguardava o resultado do teste, que sairia nesta semana.

"Aquilo foi uma loucura. Eu vi o que aconteceu com a minha mãe. Nós vemos o que aconteceu na China e na Itália. O Brasil vai se transformar num caos, parando ou não parando. As pessoas não estão percebendo como a situação é grave", declarou a filha de Cleide.

A vítima tinha asma e passou a apresentar quadro de febre e falta de ar após passar cerca de três semanas em São Paulo. Ela foi à capital para ajudar familiares e voltou para a casa, em São Vicente (SP), no último dia 14, para uma festa surpresa de aniversário da filha. Após idas e vindas aos hospitais da região, ela morreu no domingo. Bruna relatou que os médicos apontaram a causa da morte como uma parada respiratória, por causa de uma pneumonia aguda e complicações respiratórias.

A família da primeira vítima do novo coronavírus no Brasil, um porteiro aposentado de 62 anos e morador do bairro da Bela Vista, na região central da cidade, não quis se manifestar sobre o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. Ele morreu no dia 16 de março. "Eles não vão se manifestar sobre essa questão", disse o advogado da família, Roberto Domingues Junior.

Estadão
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