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Coronavírus

Para analistas, dados sólidos nos EUA fortalecem tese de que recuperação vem com vacina e estímulos

Eleito em meio à maior crise sanitária do século, Joe Biden está conseguindo, em pouco tempo, controlar a pandemia, melhorar o quadro do desemprego e reaquecer a economia americana, uma das mais afetadas pela covid

15 abr 2021 - 19h53
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A saraivada de indicadores da economia americana publicados nesta quinta-feira, 15, se tornou um ativo político do presidente Joe Biden. Eleito em meio à maior crise sanitária do século, o líder da Casa Branca apresentou, ainda na campanha eleitoral, uma receita para vencer o descontrole da pandemia e o salto do desemprego, "heranças malditas" do governo Donald Trump: vacinação em massa contra a covid-19, aliada a socorros fiscais e estímulos monetários. Os dados de hoje, segundo analistas, comprovam o resultado da estratégia, ainda que o impacto da injeção de liquidez sobre a inflação e as contas públicas seja um ponto de cautela.

Passado um ano de pandemia, a recuperação econômica nos Estados Unidos mostra ritmo galopante. As solicitações de auxílio-desemprego, termômetro semanal do mercado de trabalho, caíram a 576 mil solicitações, menor número desde março de 2020. Já as vendas no varejo saltaram 9,8% entre fevereiro e março, 3,7 pontos porcentuais a mais do que o esperado. O índice de atividade industrial Empire State, publicado pela distrital de Nova York do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), subiu de 17,4 em março para 26,3 em abril, superando a projeção de alta a 20 e até mesmo o nível pré-pandemia.

Analistas consultados pelo Estadão/Broadcast são unânimes: os dados refletem a vacinação acelerada contra a covid-19 nos EUA e os fortes estímulos fiscais e monetários. Na sua posse, em janeiro, Biden assumiu como meta aplicar 100 milhões de doses de vacinas contra o novo coronavírus antes do final de abril, quando completa seus cem primeiros dias de mandato. A meta já foi dobrada e, no prazo, serão mais de 200 milhões de doses aplicadas. O coordenador da resposta à pandemia da Casa Branca, Jeff Zients, anunciou ontem que a média móvel de vacinação nos EUA está em 3,3 milhões de pessoas por dia. Para efeitos de comparação, no Brasil, essa média foi de 501.513 nesta quarta-feira, como informado mais cedo pelo Estadão/Broadcast Vacinas.

Além disso, Biden aprovou o pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão, com repasses - aos moldes do auxílio emergencial brasileiro - de US$ 1.400 por americano elegível. E, agora, tenta passar no Congresso um pacote de US$ 2,2 trilhões em fomento à infraestrutura. Na seara monetária, o Fed mantém os juros básicos na faixa de 0 a 0,25% e tem um robusto programa de compras de ativos.

A soma das iniciativas se mostra positiva para a atividade. O índice de recuperação da economia americana elaborado pela Oxford Economics subiu 0,8 ponto porcentual, para 89,1, a sexta alta consecutiva. "A vacinação e os estímulos fiscais devem continuar puxando o indicador", estima o economista-chefe da consultoria, Gregory Daco.

Na avaliação de Michael Pearce, economista-sênior da Capital Economics, os "cheques de US$ 1.400" estimularam gastos inclusive em itens de alto valor agregado, impulsionando, sobretudo, o salto nas vendas no varejo. "A combinação de relaxamentos de restrições e diminuição do medo em relação ao vírus, graças às vacinas, está levando a um rápido retorno à normalidade", avalia. "Com a vacinação rápida e a renda das famílias em forma, espero que o crescimento do consumo continue se recuperando no segundo trimestre", acrescenta.

O economista-chefe do ING Economics, James Knightleym, por sua vez, ressalta o sinal positivo vindo dos dados de auxílio-desemprego. "É o fundamento que sustenta uma perspectiva robusta", afirma. "O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) americano no segundo trimestre pode atingir dois dígitos. Isso o deixaria acima dos níveis pré-covid, sublinhando a eficácia da resposta dos EUA à pandemia".

Cautela

Apesar do horizonte otimista, o mercado também vem precificando os possíveis desdobramentos da recuperação econômica americana. O avanço da inflação é um dos focos, com a curva de juros dos títulos do Tesouro americano em tendência de alta, como consequência. Mas, investidores diminuíram as apostas de que a alta de preços atual vá forçar um aperto monetário por parte do Fed.

Pelo lado das contas públicas, o "cofre aberto" de Biden também é monitorado, considerando que o déficit fiscal americano já bateu os 130% do PIB. O aparente descontrole das finanças, porém, ainda não parece ser um grande problema para os mercados. "Os leilões de títulos do Tesouro melhores do que o esperado acalmaram preocupações", diz o analista Boris Schlossberg, do BK Asset Management, referindo-se à disposição de investidores em seguir financiando a dívida americana.

Estadão
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