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Coronavírus

Pandemia desafia gestão da saúde e expõe urgência de pauta ambiental

Evitar novos vírus e doenças depende da forma como lidamos com a natureza; risco é de que retorno à normalidade tire foco de problemas

16 jun 2021 - 20h15
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Só agora o mundo começa a enxergar uma luz no fim do túnel para superar o período mais agudo da pandemia de covid-19. E os países ainda devem sofrer uma série de consequências da doença no curto e médio prazo. O contingente de pessoas com sequelas e os problemas de saúde decorrentes de outras enfermidades não tratadas durante o isolamento são apenas algumas delas.

No Brasil, tudo isso ocorre em um contexto de redução do orçamento para a saúde e desarticulação entre os entes federativos. Enquanto se tenta arrumar a casa devastada pelo vírus, não se pode deixar de lado o trabalho para evitar o surgimento de novas pandemias. Cientistas já afirmam que os desequilíbrios ambientais podem estar por trás das infecções - o que impõe urgência a uma agenda de preservação ambiental e desenvolvimento de ciência e tecnologia.

No último painel desta quarta-feira no Summit ESG, evento realizado pelo Estadão, especialistas discutiram os caminhos para garantir qualidade na atenção à saúde e destacaram mudanças induzidas pela pandemia. Participaram do debate Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde e professor na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Edi Souza, diretor executivo do Hospital Sírio-Libanês, Gonzalo Vecina, médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, e Raquel Giglio, vice-presidente de Saúde e Odonto da SulAmérica.

"Relações interfederativas para colocar o SUS (Sistema Único de Saúde) para funcionar sempre foram desafiadoras. Hoje vivemos um momento em que essas relações estão praticamente implodidas", afirmou Chioro. O descompasso entre ações municipais, estaduais e federais cria entraves até mesmo para o avanço da vacinação no Brasil e, segundo o ex-ministro, falta coordenação nacional. Outro problema, de acordo com Vecina, é a nossa "capacidade de esquecer". Se hoje há atenção à desigualdade de acesso aos serviços de saúde, escancarada pela pandemia, com o retorno à normalidade, o risco é de que essas questões saiam do foco.

O País já começa a se deparar com o desafio de tratar pacientes com sequelas da covid-19, aumento de transtornos mentais e as consequências da falta de acompanhamento de doentes crônicos durante o isolamento. "Um ponto que tem nos preocupado demais são exames periódicos preventivos", diz Raquel. Segundo a vice-presidente de Saúde da SulAmérica, houve redução de 60% dos exames para detecção de câncer de mama e colo de útero.

Painel online do Summit ESG discutiu saúde e qualidade dos serviços.
Painel online do Summit ESG discutiu saúde e qualidade dos serviços.
Foto: Reprodução / Estadão

Pacientes diagnosticados tardiamente tendem a pressionar mais os serviços de saúde e há ainda demanda maior por atendimentos para transtornos mentais. A telemedicina, que explodiu na pandemia e deve perdurar, pode desafogar o fluxo, segundo Raquel. As consultas remotas, antes realizadas sob forma de orientações, passaram de 500 por mês para 1,5 mil por dia durante a emergência sanitária na SulAmérica. Grande parte dessas consultas não demanda atendimento presencial subsequente.

Outro ponto para fortalecer a atenção à saúde é entendê-la de forma mais ampla, ou seja, algo que vai além de apenas diagnosticar e tratar doenças. Segundo os especialistas, o paciente precisa ser visto como agente de sua própria saúde. Incentivar hábitos saudáveis e oferecer condições para que a população cuide da alimentação e possa fazer atividades físicas tem consequência direta na redução da incidência de doenças e consumo de medicamentos.

O cuidado ao meio ambiente também melhora a saúde, embora as duas áreas ainda sejam vistas de forma dissociada. Souza lembrou que a poluição do ar causa 50 mil mortes por ano no Brasil e onera os cofres públicos. Para diminuir os impactos ao meio ambiente, o Sírio-Libanês tem as metas de reduzir em 50% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e em 100% até 2050, segundo detalhou o diretor executivo do hospital.

A saúde passa, ainda, por investimentos em saneamento básico. E evitar o surgimento de novos vírus, que podem paralisar o mundo outra vez, depende de ações ambientais urgentes. "Se continuarmos destruindo o meio ambiente, vamos continuar tendo pandemias", diz Vecina. "Já tivemos gripe aviária, suína, gripe do camelo, um monte de eventos. Podem não ter tido a mesma magnitude do Sars-Cov-2, mas foram importantes e preocupantes do ponto de vista de saúde pública", completou.

Estadão
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