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Coronavírus

País tem deflação de 0,38% em maio, menor resultado do IPCA desde 1998

Recuo foi puxado pela queda de 4,56% nos combustíveis; aumento no preço dos alimentos perdeu força, ficando em 0,24%

10 jun 2020 - 09h20
(atualizado às 22h59)
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RIO e SÃO PAULO - Em meio ao cenário da pandemia do novo coronavírus, os preços da economia recuaram pelo segundo mês consecutivo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação do País, saiu de uma deflação de 0,31% em abril para uma queda de 0,38% em maio, o menor resultado desde agosto de 1998, quando foi de -0,51%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Essa é a segunda maior deflação do Plano Real", ressaltou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

As quedas nos preços dos combustíveis e das passagens aéreas puxaram o resultado, mas as famílias também gastaram menos com habitação, vestuário, saúde e despesas pessoais. Os alimentos subiram menos, embora os preços ainda persistam em patamar elevado. Cenoura e frutas ficaram mais baratas, enquanto cebola, batata-inglesa, feijão carioca e carnes pesaram mais no orçamento.

"O nível de preços continua alto, e ficou um pouquinho mais alto. Essa demanda elevada também ajuda a segurar os preços lá em cima. O resultado (de alimentos) foi de 0,24% acima do de abril, que já tinha subido 1,79%", lembrou Kislanov.

Para ele, os últimos reajustes dos combustíveis nas refinarias e a flexibilização das medidas de isolamento social podem pressionar a inflação em junho. "De fato houve uma série de aumentos concedidos pela Petrobrás nas refinarias em maio que podem ser sentidos nas bombas em junho", disse Kislanov. "Em relação ao isolamento social, a gente tem que aguardar para ver, pode ser que haja maior movimentação na economia e que possa se refletir nos preços de serviços."

De janeiro a maio, os combustíveis contribuíram para conter o IPCA. A gasolina acumulou uma queda de preços de 14,64% nos cinco primeiros meses do ano. O etanol recuou 18,14% no período, enquanto o óleo diesel diminuiu 14,43%.

O economista Vitor Vidal, da corretora XP Investimentos, a recuperação dos preços de petróleo, por causa da retomada econômica no mundo, e, em consequência da gasolina, é o maior risco de pressão sobre a inflação neste ano. Com os reajustes já promovidos pela Petrobrás, a XP elevou a projeção de 0,70% para o IPCA de 2020 para 0,80%, ou seja, ainda indicando a menor taxa anual do Plano Real, inferior à de 1998 (1,65%).

Vidal avalia que, embora os números de atividade estejam se mostrando menos piores do que a expectativa, com alguma retomada a partir da metade de maio, a recuperação ainda deve ser lenta, mantendo os preços em níveis baixos.

"As medidas de distanciamento social estão pesando na inflação, mas os próprios fundamentos - o hiato do produto aberto, a inércia - devem manter esse cenário benigno", concorda a economista Julia Passabom, do Itaú Unibanco.

A taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses desacelerou de 2,40% em abril para 1,88% em maio, ante uma meta de 4% perseguida pelo Banco Central ao fim deste ano. O resultado de maio foi o mais baixo desde janeiro de 1999, quando a taxa em 12 meses estava em 1,65%.

"De uma maneira geral, a deflação em maio e abril mostrou a pressão da recessão causada pelas medidas de distanciamento social nos preços de serviços e produtos. Mas, como parece que a abril foi o fundo do poço para a atividade, já trabalhamos com expectativa de uma taxa positiva em junho (no IPCA do mês)", afirmou o economista-sênior do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso.

Estadão
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