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Coronavírus

Os 'rompedores do teto' estão ganhando a guerra, diz sócio da consultoria Tendências

Para o economista Nathan Blanche, a situação fiscal do Brasil nunca foi tão preocupante, exceto no período do governo de Fernando Collor de Mello

21 abr 2021 - 12h25
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BRASÍLIA - Mesmo com a perspectiva de acordo entre governo e Congresso para sanção do Orçamento de 2021 na quinta-feira (22), o problema fiscal brasileiro está longe de uma solução.

Para o economista Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria Integrada, uma das principais consultorias econômicas do País, a situação fiscal do Brasil nunca foi tão preocupante, exceto no período do governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992).

Ainda que considere o ministro da Economia, Paulo Guedes, um "grande economista", Blanche afirma que ele se tornou "refém" da política e está perdendo a guerra para os "furadores de teto" - referência a políticos e outros membros do governo que defendem uma flexibilização do cumprimento da regra que atrela o crescimento das despesas à inflação neste momento de crise.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Qual é a visão do sr. a respeito das discussões sobre o Orçamento de 2021?

Existe um lobby, por parte deste pessoal 'fura teto' do Orçamento, que está vencendo. É um desastre. Estes furadores de teto no Brasil estão sendo alimentados por interesses políticos. Nós nunca chegamos, afora no governo Collor, numa situação fiscal tão preocupante como agora. Estamos indo para uma situação que não tem solução. Não há força, alternativa política, que se oponha à anarquia fiscal.

O que o preocupa?

A pressão exercida sobre a economia, que é grande. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está decrescendo e, com a pandemia, o financiamento da dívida está piorando. O resultado disso, que se repete historicamente, é que não se resolve o problema com racionalidade fiscal, mas sim com a expansão do déficit, que gera inflação. E as classes baixas são as principais financiadoras da inflação. Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que em agosto do ano passado havia 9 milhões de brasileiros abaixo da linha de pobreza. Agora, já são 27 milhões. O número triplicou. Na coalizão feita pelo presidente Jair Bolsonaro com o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), ainda não surgiu nenhuma solução real para combater o aumento do déficit fiscal (o rombo das contas públicas).

Com a pressão inflacionária, o Banco Central elevou a Selic (a taxa básica de juros) em março e já sinalizou novo aumento em maio. Sem o ajuste fiscal, o BC conseguirá segurar a inflação?

Se o governo não controlar o déficit, não segura. E a corda vai arrebentar do lado das classes mais baixas. O Brasil corre o risco de ter uma inflação muito mais alta. Com a expansão fiscal, baseada em déficits, o resultado é queda do PIB e inflação. Não há outro caminho. Ou você faz o controle fiscal e gera a expectativa de que há um projeto real, ou é o caos.

Qual é a avaliação do senhor sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes?

É um grande economista, mas se tornou refém. Os 'rompedores de teto' estão ganhando a guerra.

Guedes está sendo competente como ministro?

Não. Longe de um Pedro Malan (ex-presidente do Banco Central e ministro da Fazenda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso). Tanto é que o governo continua aumentando o desequilíbrio fiscal. Não aprovaram nada em direção ao equilíbrio. Os integrantes da equipe econômica atual são competentes, mas não apitam nada em termos de Orçamento. São reféns dos acordos políticos. E não se esqueça de que estamos perto de um ano eleitoral.

O dólar está alto, apesar de o Brasil estar exportando mais commodities desde o início da pandemia. O que acontece?

O câmbio hoje, de equilíbrio, seria próximo de R$ 4,50. Tudo é culpa da insegurança fiscal.

Estadão
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