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Coronavírus

Mortes por covid-19 tiram R$ 5,1 bilhões das famílias em um ano

Apenas no Rio e em São Paulo, perdas chegaram a R$ 2,2 bilhões, segundo cálculo do Ibre/FGV

24 jan 2021 - 15h47
(atualizado às 15h56)
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RIO - A pandemia do novo coronavírus gerou perdas irreparáveis para as milhares de famílias brasileiras que se despediram de entes queridos vítimas da doença. O prejuízo afetivo é inestimável, mas há ainda uma importante consequência financeira, já que muitas das vítimas eram trabalhadores ou aposentados responsáveis pelo sustento familiar.

As mortes por covid de brasileiros a partir de 20 anos de idade enxugaram em R$ 5,1 bilhões a massa de renda potencial das famílias atingidas no período de um ano. A perda é de R$ 2,2 bilhões na renda potencial das famílias nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, calcula um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.

"Isso vai acabar lançando mais gente na pobreza", lamentou Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre/FGV, responsável pelo levantamento.

Os dois Estados concentram juntos mais de 40% das vítimas fatais da pandemia. O cálculo considera uma perda de cerca de R$ 1,1 bilhão em rendimentos do trabalho das vítimas na faixa etária de 20 a 69 anos, e mais R$ 1,1 bilhão em aposentadorias dos mortos com idade a partir de 70 anos.

"Morreram muitos idosos. A gente sabe que em muitas famílias a renda do idoso é a única disponível. Se não era a única, era a maior parte da renda familiar, porque nenhuma aposentadoria é menor que o salário mínimo. Essa pessoa podia estar ativa no mercado de trabalho. Tem muita gente em idade ativa que morreu. É menos gente para produzir, menos gente para gerar renda e riqueza. Essas famílias sentirão um impacto no consumo", avaliou Maria Andreia Lameiras, técnica de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O estudo do Ibre/FGV considerou a morte de 205,1 mil brasileiros vítimas da covid-19 entre 16 de março de 2020 e 15 de janeiro de 2021, sendo 14,7% dos óbitos ocorridos no Estado do Rio (30,2 mil) e 26,4% deles no Estado de São Paulo (54,1 mil).

A massa de rendimentos mensais totais das 91,3 mil pessoas falecidas no Brasil com idades entre 20 e 69 anos foi de R$ 204,0 milhões. No ano, a soma corresponde a R$ 2,4 bilhões. No Rio de Janeiro, a massa de renda das vítimas fatais entre 20 e 69 anos era de R$ 28,3 milhões mensais, ou seja, R$ 339,4 milhões em um ano. Em São Paulo, a massa de renda das vítimas nessa faixa etária era de R$ 62,9 milhões mensais, o equivalente a R$ 755,1 milhões em um ano. Na faixa etária de 20 a 69 anos, 45% da renda perdida foram decorrentes da morte de fluminenses e paulistas, resumiu Considera.

"As pessoas que estão falecendo estão deixando um buraco no seu emprego. Elas podem ser substituídas, mas por pessoas que não terão o mesmo nível de conhecimento e treinamento. Como tem muita gente bem formada desempregada, num primeiro momento você consegue substituir, mas depois eles farão falta. Reduz o número de pessoas treinadas e atrapalha a produtividade quando aumentar o nível de emprego", justificou Claudio Considera.

Já a renda das 112,2 mil vítimas no grupo de pessoas com mais de 70 anos somava R$ 220,3 milhões mensais, ou R$ 2,6 bilhões em um ano. No Rio de Janeiro, o rendimento mensal total das 16,5 mil pessoas falecidas com mais de 70 anos era de R$ 32,4 milhões, o que corresponde a R$ 388,8 milhões em um ano. Em São Paulo, a renda dos 30,0 mil idosos mortos nessa faixa etária era de R$ 58,8 milhões mensais, o equivalente a R$ 706,1 milhões em um ano.

"Mesmo que a economia volte a crescer, essa renda não volta mais, essas pessoas não estão mais aqui. Isso afeta a oferta de mão de obra mais adiante. São vários efeitos secundários, de queda na renda, que vão bater na demanda. Não é coisa pequena, são 200 mil mortos, é muita gente tanto pelo ponto de vista individual quanto pelo coletivo", ressaltou Maria Andreia Lameiras, do Ipea.

Para Marcelo Caparoz, economista da RC Consultores, o fim do pagamento do auxílio emergencial e a perda de renda por parte dos chefes de família vítimas da covid devem pressionar a taxa de desemprego ao longo do primeiro semestre de 2021.

"Algumas famílias podem ter dificuldade de sobrevivência, muitas dessas pessoas (de famílias atingidas) irão para a informalidade, ou vão começar a procurar emprego", previu Caparoz. "O ápice (da taxa de desemprego) deve ser por volta de maio de 2021, com a taxa rondando o patamar de 15,7%. Para o fim de 2021, com o avanço da vacinação e a redução das restrições econômicas, a atividade ganhará mais força, levando a taxa de desocupação para 14,3%. De qualquer forma, o número de desempregados ficará elevado, na casa de 15 milhões de pessoas", concluiu.

O levantamento da FGV considera os óbitos por suspeita ou confirmação de covid-19 na data da morte registrados no Portal de Transparência do Registro Civil, com indicação de sexo e intervalos de idade. Já o cálculo da renda mensal tem como base informações sobre o rendimento médio da Síntese de Indicadores Sociais de 2019 para Brasil, Rio e São Paulo, por sexo e nível de instrução, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Estadão
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