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Coronavírus

Minha Casa Minha Vida salva venda de imóveis durante a pandemia

Segmento responde por 71% das vendas no País; empresas com empreendimentos de médio e alto padrão tiveram queda de 65% nas transações

18 mai 2020 - 13h12
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As construtoras que atuam no Minha Casa Minha Vida estão sentindo impacto menor nas vendas durante a crise provocada pela pandemia de covid-19 em comparação com as empresas que atuam com empreendimentos de médio e alto padrão, nos quais as transações despencaram cerca de 65%. Assim como na crise econômica iniciada em 2014, o programa habitacional tem segurado os negócios agora, evidenciando ainda mais a sua importância, enquanto passa por uma reformulação no governo federal.

A construtora Tenda informou que, a despeito de muitos estandes de venda fechados, registrou em abril o melhor mês de vendas do ano. Focada no Minha Casa Minha Vida, a companhia tem encontrado demanda apesar da crise. "Nosso cliente é resiliente", afirmou o diretor de relações com investidores, Renan Sanches. A companhia tem conseguido dar vazão aos negócios essencialmente pelos canais digitais.

A Direcional, que também atua no programa, antecipou que suas vendas em abril e maio estão em um nível semelhante ao registrado no primeiro trimestre. "As vendas estão saudáveis dentro do contexto em que estamos vivendo", avaliou o presidente da companhia, Ricardo Ribeiro, em conferência com investidores.

A principal explicação para a blindagem do mercado de imóveis populares é que os consumidores desse segmento desejam sair da moradia atual - seja porque é compartilhada com outras famílias, ou porque o imóvel está em más condições.

Há também o interesse em trocar o aluguel pela prestação da casa própria, uma vez que os valores são semelhantes. Outro ponto é que o ritmo de formação de novas famílias nesse estrato social ainda é maior do que a quantidade de imóveis novos produzidos a cada ano. "Ou seja, tem demanda suficiente para absorver a oferta", disse Ribeiro.

Com isso, a tendência é que o Minha Casa Minha Vida ganhe ainda mais representatividade no total de negócios nos próximos meses. Atualmente, o programa responde por 79% dos lançamentos e 71% das vendas no País, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Mas esse peso tende a crescer ao longo dos próximos meses, assim como ocorreu na crise de 2014, quando o programa respondeu por mais de 80% dos negócios.

Enquanto isso, o Ministério do Desenvolvimento Regional prepara ajustes no programa, que devem ser anunciados assim que a pandemia der uma trégua. O novo Minha Casa terá uma nova modalidade, dedicada à regularização fundiária, substituindo a faixa 1, que foi paralisada por falta de recursos da União. O objetivo é fazer um mapeamento de casas que já existem em áreas que sejam regularizáveis e conceder o título da propriedade e do terreno.

O governo federal também estuda reduzir as taxas de juros do programa. Empresários do setor propuseram crédito com taxas entre 4% e 6% ao ano, ante a regra vigente, com juros de 5,5% a 8,16% ao ano. Mas a governo deve adotar um corte mais enxuto, que fique em torno de 0,5 ponto porcentual a 0,75 ponto porcentual, segundo fontes.

Média e alta renda

No segmento de imóveis para população de renda média e alta, o clima é de maior apreensão por causa da queda nas vendas. "Nas classes média e alta, as vendas certamente foram muito mais afetadas, porque esse cliente se isolou dentro de casa. Ele não tem a urgência para comprar como no segmento de baixa renda", disse Raphael Horn, copresidente da Cyrela, tradicional em empreendimentos de alto padrão.

Horn explicou que os canais digitais até ajudam na apresentação dos projetos, tramitação dos documentos e assinatura do contrato, mas o problema é que esses clientes não têm motivação para compra diante das incertezas sobre os rumos do País. "É o mesmo caso da venda de veículos, que também caiu. Dá para comprar carro online, mas ninguém está com humor para gastar R$ 50 mil ou R$ 100 mil em um carro novo", comparou. A Cyrela informou que as vendas caíram significativamente no pós-pandemia, mas não antecipou números.

A Tecnisa relatou que as vendas em abril foram 55% menores do que o previsto para o mês, antes da crise. "Sentimos um efeito nas vendas, uma vez que os estandes estão fechados. Quando o sujeito não pode ir ao estande ver a planta decorada, desiste de comprar", explicou o diretor presidente, Joseph Meyer Nigri, em entrevista. O executivo conta que as vendas efetivadas em abril já estavam sendo tratadas com os clientes nas semanas anteriores.

A Eztec registrava vendas médias de R$ 40 milhões por semana até a primeira quinzena de março. Com a chegada da crise, esse patamar despencou 90%, para R$ 4 milhões por semana. "As pessoas ficaram em choque, entraram em um estado de perplexidade", disse o diretor de relações com investidores, Emílio Fugazza.

A boa notícia, segundo ele, é que desde o fim de abril, as vendas estão se aproximando de um patamar um pouco mais alto, de R$ 10 milhões por semana. "Ainda estamos abaixo do nível pré-crise, mas é, honestamente, um sinal positivo de melhora para o setor." Na avaliação do executivo, as pessoas estão retomando os negócios pouco a pouco, à medida em que vão se acostumando à nova realidade.

Estadão
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