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Coronavírus

Maior preocupação dos brasileiros é contaminar, diz pesquisa

Entrevistados preocupam-se mais com a saúde de parentes e amigos do com a deles mesmos

1 abr 2020 - 11h11
(atualizado às 11h52)
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RIO - Vera Lúcia Oliveira, de 60 anos, é médica pediatra e trabalha no Hospital Souza Aguiar. Desde sábado, 28, está resfriada e, por isso, nem foi trabalhar esta semana. Ainda não dá para saber se é Covid19 - provavelmente ela nunca saberá. Mas o maior temor de Vera neste momento nem é com sua própria saúde. Ela se preocupa com a mãe, de 89 anos, que mora com ela.

"Trabalho há muitos anos em hospital, estou acostumada a ter contato com doenças infecciosas; mas agora é outra coisa, somos idosas, o vírus é muito agressivo, e esse negócio de transmitir dá um medo ainda maior do que o de contrair a doença", disse a médica. "E eu não posso ficar sem ela, isso seria uma tragédia."

Vera Lúcia não está sozinha em seu temor. Uma pesquisa feita pela Demanda Pesquisa e Desenvolvimento de Marketing com mais de mil pessoas em todas as regiões do País revelou que, na pandemia do novo coronavírus, os entrevistados preocupam-se mais com a saúde de parentes e amigos do com a deles mesmos. Pelo menos 76% das pessoas declararam ter medo de contaminar alguém com a doença. Outra preocupação é com a possibilidade de que alguém próximo tenha a covid-19 (59%). O temor de ser contaminado é mais baixo: 55%.

Essa preocupação se reflete diretamente na adoção de medidas mais rígidas de higiene pessoal. Segundo a pesquisa, 93% disseram estar lavando as mãos com mais frequência, 90% estão evitando abraços e beijos, e 90% aumentaram o uso de álcool em gel.

"Estou lavando as mãos o tempo todo e toda vez que estou no mesmo cômodo que a minha mãe, uso máscara e mantenho uma distância", confirmou Vera Lúcia.

Responsável pela pesquisa, o presidente da Demanda, Sílvio Pires de Paula, acredita que alguns cuidados devem acabar sendo incorporados pelos brasileiros após a epidemia. "Por causa dessa ansiedade de ser infectado e de infectar os parentes, as pessoas procuram se cercar de mais cuidados", avalia. "Acredito que algumas tendências de mudança devem ficar, como lavar mais as mãos e ter mais cuidados ao se aproximar das outras pessoas."

A maior preocupação é justamente com a velocidade da disseminação do vírus. Pelo menos 80% dos entrevistados citaram esse temor em primeiro lugar. Metade das pessoas ouvidas afirmou ter medo de que um imunizante (ou um remédio) nunca seja descoberto.

Sobre os impactos sociais da epidemia, os mais temidos são o colapso do sistema de saúde (52%) e a falta de leitos em UTIs (31%). Do ponto de vista econômico, as pessoas temem o aumento do desemprego (50%), a recessão (43%), a quebra de empresas (41%) e o aumento da pobreza (16%).

A coleta de dados foi feita entre os dias 18 e 21 de março, online. Foram ouvidas 1.065 pessoas, a maioria das classes A, B e C. Houve possibilidade de mais de uma resposta às perguntas, então há casos em que a soma das escolhas ultrapassou 100%. O objetivo era avaliar os efeitos da pandemia na sociedade brasileira, sobretudo entre aqueles que estão em isolamento parcial ou total.

Em geral, as pessoas se consideram bem informadas sobre a epidemia. A grande maioria diz estar se informando por sites noticiosos, pela televisão e por jornais - em oposição às redes sociais.

As alterações na rotina cotidiana são bem marcantes, como revela o levantamento. Pelo menos 87% afirmaram que deixaram de ter atividades de lazer, como cinema e teatro, e de encontrar com amigos e parentes (83%).

Para quem fica em casa o dia todo, as compras online podem ser uma tentação. Embora a pesquisa tenha constatado que a maioria (64%) afirmou não ter alterado seu padrão de consumo, 36% disseram que houve mudanças. Entre os itens mais comprados citados pelos entrevistados estão alimentos não perecíveis (76%), produtos de higiene pessoal (60%), produtos de limpeza doméstica (56%). A percepção empírica de que as pessoas estavam comprando muito papel higiênico se confirma: 39% citaram o produto. Bebidas alcóolicas e chocolates foram, curiosamente, os menos citados: 15%.

"Com tantas pessoas em quarentena, às vezes a gente não tem a referência do vizinho, a visão do entorno", afirmou a cordenadora do estudo, a socióloga Gabriela de Paula Prado, ao explicar as razões que levaram a empresa a fazer o levantamento. "O nosso estudo cumpre esse papel de aproximar as pessoas pelo compartilhamento de suas iniciativas e opiniões."

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