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Coronavírus

Grandes bancos reservam R$ 21,7 bilhões para enfrentar aumento dos calotes com coronavírus

Provisão contra inadimplência no primeiro trimestre cresceu 51% em relação ao ano passado; movimento derrubou lucro das instituições em R$ 5 bilhões

5 mai 2020 - 08h56
(atualizado às 10h50)
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Os três maiores bancos privados brasileiros viram o resultado do primeiro trimestre encolher em mais de R$ 5 bilhões em relação ao registrado um ano antes com o impacto previsto nos calotes por causa da pandemia do novo coronavírus. Itaú Unibanco e Bradesco reforçaram suas provisões para devedores duvidosos (PDDs), o que comprimiu os lucros e a rentabilidade no período. O Santander preferiu postergar tais efeitos, protegendo o balanço local, que pode ter de apoiar a matriz espanhola em um futuro breve.

Juntos, os três bancos privados reportaram lucro líquido de R$ 11,4 bilhões no primeiro trimestre (Itaú, R$ 3,9 bilhões; Bradesco, R$ 3,7 bilhões; e Santander, R$ 3,8 bilhões), queda de 33,61% em relação à cifra anotada um ano antes, de R$ 16,6 bilhões. A redução dos resultados neste ano já era esperada por causa das mudanças nas regras do cheque especial associadas ao juro menor e ao aumento de impostos determinado na reforma da Previdência.

Os efeitos da pandemia, porém, fizeram com que os bancos privados sentissem a queda de forma mais intensa e bem mais cedo. Além disso, levaram as instituições - exceto o Santander, cuja projeção é para 2022 - a abandonarem as projeções de desempenho de 2020 devido à falta de clareza em relação ao cenário econômico futuro e à extensão da crise deflagrada pelo novo coronavírus.

Tanto Itaú quanto Bradesco viram seu resultado do primeiro trimestre despencar em torno dos 40% ante um ano atrás. Pesou, sobretudo, o reforço nas provisões que essas instituições fizeram, antecipando os reflexos da covid-19 nos calotes.

As despesas de provisão de Bradesco, Itaú e Santander totalizaram R$ 21,693 bilhões no primeiro trimestre, aumento de 51% em relação aos gastos registrados um ano antes de, R$ 14,352 bilhões.

Com tamanho impacto, a cifra superou o lucro combinado desses bancos no período, o que não ocorria desde a Operação Lava Jato, quando o setor bancário sentiu os reflexos da investigação do maior esquema de corrupção da história brasileira.

Fora da curva

O Santander Brasil, contudo, foi na contramão. O banco preferiu não reforçar suas provisões no período. Somente a matriz, na Espanha, optou por aumentar o colchão para perdas em 1,6 bilhão de euros. Entre especialistas, a posição do banco soou como um claro sinal de que a operação brasileira terá de apoiar o grupo em breve.

Como o Banco Central limitou a distribuição de dividendos dos bancos brasileiros no mínimo regulatório exigido, ou seja, de 25% do lucro líquido até setembro, se o Santander tivesse reforçado suas provisões, diminuiria ainda mais o resultado e, por consequência, os recursos que mandará para o conglomerado espanhol.

O Brasil é a maior fonte de geração de resultados global do grupo. "Isso fez do resultado do Santander o melhor de todos os bancos privados, mas, na prática é um outlier", avalia um especialista do setor bancário, referindo-se ao conceito na estatística usado para se referir a um valor atípico, fora da curva.

Com isso, o Santander conseguiu manter sua rentabilidade preservada frente aos pares e conseguiu assim a liderança - ainda que temporária, com retorno de 22,3% no primeiro trimestre.

O Itaú viu sua rentabilidade cair para 12,8% ante 23,6% ao fim de dezembro por causa do reforço nas provisões. O mesmo ocorreu com o Bradesco, cujo indicador foi a 11,7% ante 21,2% na mesma base de comparação.

Busca por crédito

Do lado do crédito, a procura das empresas por liquidez se materializou nas carteiras dos grandes bancos privados e também serviu de motor para o total de ativos nas mãos dessas instituições. Enquanto o Santander conseguiu atingir a marca histórica de R$ 1 trilhão com a sua operação brasileira, o Itaú, maior banco da América Latina, encostou nos R$ 2 trilhões.

Apesar de seu histórico conservador, o Itaú entregou o maior crescimento em crédito no primeiro trimestre frente aos três meses anteriores, seguido por Santander e Bradesco. No comparativo anual, o espanhol liderou, impulsionado pelos mais de R$ 70 bilhões em empréstimo para o setor corporativo. Na sequência, vieram Itaú e Bradesco, que antes da crise estava em ritmo superior ao de seus concorrentes.

Estadão
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