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Bolsa tem queda de 1,46% e dólar vai a R$ 5,50 com movimento de realização de lucros

'Fuga' dos ativos de risco aconteceu também em Nova York nesta segunda; no câmbio, situação fiscal do País preocupa o investidor

11 jan 2021 - 09h22
(atualizado às 19h08)
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O mercado brasileiro opera em sintonia com o clima de fuga de ativos de risco no mercado internacional, que realiza lucros devido ao avanço da covid-19 no mundo. Nesta segunda-feira, 11, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou com queda de 1,46%, aos 123.255,13 pontos, após bater dois recordes de fechamento seguidos na semana passada. De olho no cenário fiscal do País, o dólar ganhou força e saltou 1,61%, a R$ 5,5036.

O ajuste negativo desta segunda-feira foi o maior desde a sessão de 21 de dezembro, quando o índice cedeu 1,86%. A correção, que alcançou segmentos de peso, como bancos, commodities e siderurgia, ocorre após duas sessões de renovação de picos históricos, tanto no intradia como no fechamento, que lançaram o Ibovespa aos 125,3 mil pontos no melhor momento. Assim, o dia negativo para commodities e os mercados acionários de Estados Unidos e Europa resultou em pausa na escalada do índice, que ainda avança 3,56% no ano.

Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq fecharam com quedas de 0,29%, 0,66% e 1,25%.

"O Ibovespa foi puxado para baixo pela movimentação das ações de grande peso da Bolsa, com uma correção global. Desde a abertura, empresas muito beneficiadas pelo bom humor da semana passada registraram perdas, caso de Vale (ON apenas -0,02% no fechamento), Petrobrás (PN -0,84%, ON -0,95%) e bancos (Itaú PN -2,25%). Além da realização, normal após altas fortes, adicionou cautela o pedido de impeachment do presidente Donald Trump, dias antes da transição de governo nos EUA - movimento que teria como objetivo final impedir que ele dispute novamente as eleições no futuro", aponta Paula Zogbi, especialista da Rico Investimentos. "Na política doméstica, as falas do candidato à presidência da Câmara apoiado por Rodrigo Maia, Baleia Rossi, geram sentimentos dúbios. Ele tem mencionado medidas como a extensão do auxílio emergencial, mas também defende responsabilidade fiscal."

"Após ter se mantido desconectada, a Bolsa, em dia negativo lá fora, acompanhou hoje o que ocorre no câmbio e juros, que têm se mantido mais alinhados às incertezas internas, especialmente sobre o fiscal. O mercado tem olhado muito para fluxo e para vacina, é o que tem movido o Ibovespa desde novembro. Internamente, a situação continua difícil, tanto na política como na economia, então será necessário continuar monitorando o fluxo bem de perto, porque pode chegar um momento em que o estrangeiro decida começar a sair", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, chamando atenção para a persistente indefinição sobre as contas públicas, o orçamento e se haverá ou não auxílio excepcional aos mais pobres - em caso afirmativo, a dúvida é quanto ao volume.

Por enquanto, neste início de ano, o estrangeiro continua a mostrar interesse por ações brasileiras. Na sessão do dia 7, o ingresso externo chegou a R$ 4,436 bilhões na B3, em termos líquidos: a quarta maior entrada registrada no levantamento diário feito pelo Broadcast desde 2007. Na ocasião, o Ibovespa teve alta de 2,76%, a 122.385,92 pontos, e giro de R$ 43,6 bilhões, sustentado pelas ações ligadas a commodities, com a perspectiva de maiores estímulos após a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos e a confirmação de maioria do Partido Democrata no Senado e na Câmara.

Pelo segundo dia, Notredame Intermédica (+11,00%) e Hapvida (+8,46%) seguraram a ponta do Ibovespa, impulsionadas pela proposta de combinação de negócios das empresas em uma nova companhia. No lado oposto, CPFL cedeu 5,47%, à frente de Yduqs (-5,12%) e Energisa (-4,88%).

Câmbio

O Banco Central conseguiu acalmar pontualmente o estresse no mercado de câmbio na tarde de hoje, ao fazer intervenção de US$ 500 milhões em swap (venda de dólar no mercado futuro), mas não impediu que a moeda americana terminasse o dia no maior valor em mais de dois meses. Em dia de fuga de ativos de risco no mercado internacional, por conta do avanço dos casos de coronavírus, os ativos brasileiros, incluindo o real, foram especialmente penalizados pelos investidores, por conta da incerteza fiscal e da falta de definição sobre o processo de vacinação nacional. Com isso, o real teve um dos piores desempenhos do dia no mercado internacional.

No pior momento da segunda-feira, o dólar chegou a encostar em R$ 5,52, o que não acontecia desde meados de novembro. No fechamento, o dólar à vista terminou o dia em alta de 1,61%, a R$ 5,5036, o maior valor desde 5 de novembro (R$ 5,54). No mercado futuro, o dólar para fevereiro teve alta de 1,23%, a R$ 5,4910

"Tem duas coisas fundamentais para o Brasil, o teto de gastos e a vacinação. Se conseguir manter o teto e vacinar, vamos ter um ano muito melhor", afirmou o economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo. Em live nesta tarde, ele observou que tem uma forte pressão no Congresso para estender o auxílio emergencial, movimento que vai prosseguir mesmo após a definição dos presidentes de Câmara e Senado, que, segundo Camargo, devem enfrentar eleição bastante disputada.

Sobre a vacinação, Camargo destaca que o Brasil está atrasado neste processo, o que causa intranquilidade. Ao mesmo tempo, o economista lembra que o Brasil tem tradição em vacinar e pode conseguir fazer o processo rapidamente, enquanto países avançados estão tendo dificuldade de avançar na velocidade que o mercado esperava. "O Brasil tem estrutura de vacinação muito bem desenvolvida. O problema é a falta de vacina."

No exterior, o dólar teve novo dia de valorização ante moedas fortes e emergentes. O analista sênior do banco Western Union, Joe Manimbo, observa que o crescimento de casos de coronavírus, agora também ma China, ajuda a embaralhar o cenário econômico. Além disso, o ambiente de tensão política em Washington não ajuda. Com isso, o dólar testou as máximas em três semanas ante o euro e subiu de forma generalizada nos emergentes, enquanto a curva de juros futuros dos Estados Unidos passou a ficar ainda mais inclinada. A diferença entre as taxas de rendimento dos papéis de 2 e 10 anos aumentou para o maior nível desde julho de 2017.

Estadão
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