PUBLICIDADE

Coronavírus

Com pandemia, juros recuam e inadimplência sobe em abril, aponta BC

Com famílias e empresas com dificuldades para fechar as contas, taxa de inadimplência nas operações de crédito livre passou de 3,8% para 4% de março para abril

28 mai 2020 - 10h34
(atualizado às 11h10)
Compartilhar
Exibir comentários

BRASÍLIA - Em meio aos efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia, a taxa média de juros no crédito livre caiu de 33,3% ao ano em março para 31,3% ao ano em abril, informou nesta quinta-feira, 28, o Banco Central (BC). Em abril de 2019, essa taxa estava em 38,3% ao ano.

Os dados apresentados pelo BC são influenciados pelos efeitos da pandemia, que colocou em isolamento social boa parte da população e reduziu a atividade das empresas. Em meio à carência de recursos, famílias e empresas aumentaram a demanda por algumas linhas de crédito nos bancos.

Repasse de lucros do Banco Central já foi feito antes.
Repasse de lucros do Banco Central já foi feito antes.
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil / Estadão

Para as pessoas físicas, a taxa média de juros no crédito livre passou de 46,1% para 44,5% ao ano de março para abril, enquanto para as pessoas jurídicas foi de 16,6% para 15,8% ao ano.

Entre as principais linhas de crédito livre para a pessoa física, há destaque para o cheque especial, cuja taxa passou de 130% ao ano para 119,3% ao ano de março para abril. No crédito pessoal, a taxa passou de 37,4% para 34,7% ao ano.

Desde julho de 2018, os bancos estão oferecendo um parcelamento para dívidas no cheque especial. A opção vale para débitos superiores a R$ 200. A expectativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) era de que essa migração do cheque especial para linhas mais baratas acelerasse a tendência de queda do juro cobrado ao consumidor.

Em função da ineficácia da autorregulação da Febraban, o BC anunciou a limitação dos juros do cheque especial em 8% ao ano (151,82% ao ano). A nova regra começou a valer em 6 de janeiro.

Além da limitação do juro, os dados desta quinta também refletem uma revisão realizada na série histórica do BC. De acordo com a autarquia, os números passaram a considerar o fato de alguns bancos cobrarem juro no cheque especial apenas após dez dias de atraso no pagamento da fatura. Antes, era considerado todo o período de atraso. Esta mudança fez com que o nível do juro no cheque especial, na nova série histórica, fosse menor em anos anteriores.

Os dados divulgados pelo Banco Central mostraram ainda que, para aquisição de veículos, os juros foram de 19,8% ao ano em março para 20,4% em abril.

A taxa média de juros no crédito total, que inclui operações livres e direcionadas (com recursos da poupança e do BNDES), foi de 22,7% ao ano em março para 21,5% ao ano em abril. Em abril de 2019, estava em 25,0%.

Cartão de crédito

O juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito caiu 13,7 pontos porcentuais de março para abril. A taxa passou de 327,1% para 313,4% ao ano.

O juro do rotativo já é uma das taxas mais elevadas entre as avaliadas pelo BC. Dentro desta rubrica, a taxa da modalidade rotativo regular passou de 297,9% para 269,0% ao ano de março para abril. Neste caso, são consideradas as operações com cartão rotativo em que houve o pagamento mínimo da fatura.

Já a taxa de juros da modalidade rotativo não regular passou de 345,3% para 339,3% ao ano. O rotativo não regular inclui as operações nas quais o pagamento mínimo da fatura não foi realizado.

No caso do parcelado, ainda dentro de cartão de crédito, o juro passou de 187,1% para 148,6% ao ano.

Considerando o juro total do cartão de crédito, que leva em conta operações do rotativo e do parcelado, a taxa passou de 75,6% para 78,9%.

Em abril de 2017, começou a valer a regra que obriga os bancos a transferir, após um mês, a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, a juros mais baixos. A intenção do governo com a nova regra era permitir que a taxa de juros para o rotativo do cartão de crédito recuasse, já que o risco de inadimplência, em tese, cai com a migração para o parcelado.

Atualmente, porém, o risco de inadimplência aumentou, justamente porque muitas famílias estão enfrentando redução de renda, na esteira da pandemia.

Inadimplência

Com famílias e empresas com dificuldades para fechar as contas, em meio à pandemia do novo coronavírus, a taxa de inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos passou de 3,8% para 4% de março para abril. Em abril de 2019, a taxa estava em 3,8%.

Para as pessoas físicas, a taxa de inadimplência foi de 5,2% para 5,4% no período. No caso das empresas, a taxa passou de 2,3% para 2,4%.

A inadimplência do crédito direcionado (recursos da poupança e do BNDES) passou de 2,2% para 2,3% na passagem de março para abril.

Já o dado que considera o crédito livre mais o direcionado mostra que a taxa de inadimplência foi de 3,2% para 3,3%.

Já o Indicador de Custo de Crédito (ICC) caiu 0,4 ponto porcentual em abril ante março, aos 19,7% ao ano. O porcentual reflete o volume de juros pagos, em reais, por consumidores e empresas no mês, considerando todo o estoque de operações, dividido pelo próprio estoque.

Na prática, o indicador reflete a taxa de juros média efetivamente paga pelo brasileiro nas operações de crédito contratadas no passado e ainda em andamento.

O spread bancário médio no crédito livre passou de 27,6 pontos porcentuais em março para 26,2 pontos porcentuais em abril. O da pessoa física no crédito livre foi de 40,2 para 38,7 pontos porcentuais no período. Para pessoa jurídica, passou de 11,3 para 11,4 pontos porcentuais. O spread é calculado com base na diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o que é efetivamente cobrado dos clientes finais (famílias e empresas) em operações de crédito.

Endividamento

O endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro ficou em 45,9% em março, ante 45,6% em fevereiro. Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 27,1% em março, ante 26,9% em fevereiro.

O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas dividido pela renda no período de 12 meses. Além disso, incorpora os dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE.

Em função da metodologia utilizada, os números de endividamento sempre são divulgados com um mês de defasagem. Assim, os dados de hoje têm como referência o mês de março, quando se intensificou os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia.

Segundo o BC, o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu 20,6% em março, ante 20,2% em fevereiro. Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda ficou em 18,2% em março, ante 17,9% em fevereiro.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade