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Jogos de Paris

Com café, energético e cochilo de dia, fãs encaram as madrugadas dos Jogos de Tóquio

Especialistas recomendam uma soneca após o almoço para recuperar as energias de quem torce pelas medalhas do Brasil nas transmissões de madrugada

30 jul 2021 - 08h01
(atualizado às 20h34)
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As 12 horas de diferença entre o fuso horário do Brasil e do Japão estão mudando a rotina de quem quer ver ao vivo as disputas dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, mas precisa trabalhar no dia seguinte. Para não ficar "pescando" na frente do computador, os amantes dos esportes apostam em estimulantes, como café e bebidas energéticas. Especialistas apontam que o ideal é tirar um cochilo depois do almoço e escolher os eventos imperdíveis. Não dá para ver tudo sob o risco de causar danos à saúde. Um dos problemas é enfraquecer o sistema imunológico, que se tornou ainda mais importante por conta da pandemia de covid-19.

Cada torcedor encontra uma maneira particular de driblar o sono. Na madrugada de segunda-feira, a publicitária Renata Rodrigues, de 23 anos, assistiu à conquista da medalha de Rayssa Leal no skate feminino e, em seguida, emendou duas partidas dos brasileiros no badminton, modalidade que ama e pratica. Na segunda-feira, ela passou o dia de trabalho na assessoria de imprensa à base de café e energético.

Espectador dos Jogos Olímpicos desde 1980, o professor Marcelo Assofra mudou a rotina pela sua paixão olímpica. Isso ficou mais fácil porque seus horários são flexíveis nas aulas de História que leciona no Colégio Vitta Vivace, no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo. Ele procura dormir à tarde para tentar antecipar o sono. Assim, consegue ver as disputas até 2h da madrugada, dorme mais um pouco e acorda cedo para ver o restante, como os jogos de futebol, por exemplo. Foi assim que ele fez para não perder a vitória do Brasil sobre a Arábia Saudita no masculino. O café faz parte do seu dia a dia. "Agora mesmo estou tomando", escreveu na troca de mensagens com o Estadão no final da tarde de quarta-feira.

Assofra não está sozinho. O filho mais velho, Marcello de Abreu Assofra, de 13 anos, faz questão de acompanhar o pai nas madrugadas. Para desespero da mãe. "Sou apaixonado pelos Jogos Olímpicos. Acompanho desde adolescente. Meu sonho era estar lá, no Japão. Durante as férias, eu vi bastante. Agora, com a volta ao trabalho, estou mexendo nos horários para continuar a maratona. Meu filho está me acompanhando, mas a mãe dele não gosta muito disso", sorri o professor.

Para assistir às disputas do Brasil, o videografista Dennnis Padial, de 31 anos, acorda no meio da madrugada, vê o que lhe interessa e volta a dormir. Videografista é um editor de video. "Se a madrugada está cheia, eu a invado mesmo, como no dia do ouro do Italo Ferreira no surfe. Fiquei praticamente 'virado' até a hora de trabalhar. Dormi um pouquinho no horário de almoço, trabalhei e dormi de novo até o Brasil voltar a competir", conta o morador de Valinhos (SP) que trabalha entre 8h e 17h em uma empresa de cursos à distância para profissionais de vendas.

A tática de lutar contra o sono nem sempre dá certo. Nesta quinta-feira, Dennis cochilou e, por isso, perdeu a final de Ana Sátila na canoagem, a derrota da dupla feminina no tênis e metade da prova em que Rebeca Andrade conquistou a primeira prata na ginástica feminina. Sua receita para não dormir durante o dia envolve andar pela casa (ele trabalha em home office), tomar água e se distrair cinco minutos com algo fora do trabalho.

Riscos à saúde

A privação de sono pode trazer danos à saúde. Mônica Levy Andersen, professora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp, explica que os efeitos imediatos são dificuldade de concentração, irritabilidade, propensão à ingestão de comidas calóricas, além de menor disposição para as atividades cotidianas. "A saúde vai pagar o preço da privação de sono", diz.

O sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo, também fica debilitado. Andersen lembra que o enfrentamento da pandemia exige um sistema de defesa íntegro, seja para receber a vacina, seja para não se contaminar com o coronavírus.

Por outro lado, a especialista reconhece são permitidos alguns excessos para acompanhar um evento excepcional como a Olimpíada, que dura poucas semanas. "Considerando o momento especial que estamos vivendo, uma Olimpíada sem precedentes, essas semanas podem ser amenizadas com recuperação de sono em outros dias sem jogos de madrugada", contemporiza.

Para minimizar os efeitos, Rosa Hasan, coordenadora do Laboratório do Sono do IPq - Instituto de Psiquiatria da USP, recomenda um cochilo depois do almoço. A necessidade de dormir após a refeição, chamada de sonolência pós prandial, é uma necessidade fisiológia, uma janela de oportunidade para um sono reparador. Mas ele não pode ultrapassar 30 minutos para não comprometer o sono noturno. Além disso, é preciso dormir mais cedo no dia seguinte.

Outra saída - essa mais difícil - é programar as férias e entrar de cabeça no fuso horário onde a competição está sendo realizada. O professor Assofra fez isso nos Jogos de Barcelona-1992 e Sydney-2000. Para Monica Andersen, o mais importante é fazer escolhas. Não dá para assitir tudo todos os dias. "Os amantes de esportes devem definir prioridades para satisfazer a paixão sem perder a qualidade de vida e de saúde".

Estadão
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