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Coronavírus

Chegou o frio? Como ficam as aulas presenciais nas escolas de SP?

Especialistas dizem que o contexto de alta transmissão da covid e vacinação lenta exige que os alunos esperem um resultado negativo de um caso suspeito ou fiquem 14 dias em casa para voltar à sala de aula

24 mai 2021 - 18h02
(atualizado às 18h44)
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As aulas presenciais, que ainda caminham a passos lentos para retomar o ritmo normal, agora precisam enfrentar seu primeiro outono da pandemia. Nas últimas duas semanas, o tempo mais frio e seco no Estado trouxe o nariz escorrendo, a tosse, a dor de garganta - e o medo da covid-19 para as escolas.

Crianças passaram a ser mandadas para casa, turmas inteiras suspensas por causa da coriza de um colega. Mesmo com a reclamação de alguns pais, especialistas dizem que o contexto de alta transmissão do vírus e vacinação lenta exige que os alunos esperem um resultado negativo de um caso suspeito ou fiquem 14 dias em casa para voltar à sala de aula.

No ano passado, as escolas estavam fechadas nesse período. Agora, o maior problema está entre as crianças menores, com menos imunidade e que têm mais dificuldade para usar máscaras. "Os pais ficam nervosos, os professores, arrasados. Eles estão começando a desenvolver um trabalho e têm que parar tudo de novo", diz a diretora da Escola de Educação Infantil Jacarandá, Tânia Rezende, em Higienópolis.

Ela teve de suspender quatro das seis turmas nos últimos 15 dias. Um terço das crianças da escola teve algum sintoma respiratório no período. "A frustração é enorme, sabemos quanto é importante elas estarem na escola", diz Tânia. Todas que fizeram o teste deram negativo para covid.

"Toda vez que uma criança espirrar vai suspender a turma?", questiona Patrícia Portela, que é médica e mãe de Ana Teresa, de 6 anos, de outra escola. A menina teve de ficar em casa na semana passada por causa dos sintomas de um dos colegas da turma. Ao ser avisada que não poderia ir ao presencial, ela assistiu à aula online chorando, na cama. A mãe diz que a filha está com a saúde mental já abalada por tanto tempo em casa.

Para ela, as escolas deveriam ter um protocolo específico para essa época do ano, que considerasse mais de um sintoma. A turma de Ana Teresa foi liberada para voltar depois de alguns dias. "Eu fui dormir rezando para que não aparecesse mais nenhuma criança resfriada no dia seguinte", conta Patrícia.

Muitas das escolas particulares da capital contrataram consultorias para fazer protocolos e auxiliar em momentos de possíveis surtos. A confusão de normas - já que não há um protocolo nacional para a educação, como em muitos países - atrapalha as decisões. Há ainda regras diferentes, estaduais e municipais, e que mudam a cada fase da pandemia.

Atualmente, na capital, a recomendação é a suspensão da turma por 14 dias quando um aluno apresenta sintomas, ou até que tenha um resultado negativo. Em crianças, os documentos da Prefeitura dizem que até a "obstrução nasal" deve ser considerada como sintoma suspeito de covid "na ausência de outro diagnóstico específico".

A recomendação geral dos médicos também é de que qualquer sintoma seja tratado como um caso suspeito de covid. "Neste contexto epidemiológico, todos os cuidados devem ser tomados, não é um momento de flexibilizar uma criança sintomática dentro do ambiente escolar, mesmo que haja a possibilidade maior de serem outros vírus", diz o coordenador do pronto atendimento pediátrico e médico da saúde escolar do Hospital Sírio Libanês, Ricardo Fonseca.

Na semana passada, o governo do Estado anunciou a vacinação de professores de todas as idades em julho, o que, para alguns especialistas e educadores, deve melhorar a situação. "Infelizmente neste momento a escola está correta, se a criança tem sintoma respiratório, todas as medidas devem ocorrer até o diagnóstico", diz o pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein, Cláudio Schvartsman. Os médicos, no entanto, dizem que o mais comum neste período são infecções por rinovírus, adenovírus e outros que causam bronquiolite ou amidalite. "Tudo isso tinha desaparecido no ano passado."

"A escola fica muito fragilizada. Tem mães que ficam insistindo para a criança voltar antes do prazo ou não querem fazer o teste", diz a diretora da Escola Projeto Vida, na Casa Verde, Mônica Padroni, que também teve vários casos de alunos com sintomas respiratórios nos últimos dias. "Não cabe à escola avaliar a criança, essa avaliação tem que ser do médico que a acompanha e das autoridades".

A coordenadora nacional do programa Escola Segura, Letícia Tapina, afirma que os gestores escolares - que raramente tinham de lidar com situações de saúde antes - estão confusos e sobrecarregados. A empresa atende mais de 400 escolas no País, privadas e públicas, durante a pandemia. Letícia recomenda que os colégios montem comitês para ajudar nas decisões neste período de outono e inverno.

Mesmo em casos de alergia, também comuns nesta época, ela diz que é difícil a criança permanecer na sala de aula. O melhor é tratar da crise alérgica antes. "A família precisa entender, imagina ficar com coriza e máscara? A criança põe a mão na máscara o tempo todo, fica molhada, coça olho, o nariz."

Para liberar logo o aluno para voltar para a escola e descartar o diagnóstico de covid, pais de escolas particulares têm usado os testes de farmácia - que custam em torno de R$ 150 e são menos sensíveis que o PCR. Ou ainda exames feitos por hospitais privados que saem no mesmo dia.

Nas redes públicas, no entanto, o acesso ao teste é mais difícil. A família precisa procurar uma Unidade Básica de Saúde e esperar o prazo do resultado, que costuma ser de alguns dias. "Enquanto não tivermos capacidade de testagem, a rede pública principalmente será bem prejudicada, porque as crianças vão ser afastadas por 14 dias e isso dificulta a retomada das aulas presenciais", diz Letícia.

A coriza de Nina, de 3 anos, foi o motivo da suspensão da sala toda, de 10 alunos, no Colégio Oswald de Andrade, na Vila Madalena. "É uma sensação muito ruim, todas as crianças estão sem aula, você se sente obrigada a fazer o teste mesmo sendo só uma coriza", diz a mãe, a cineasta Isabel Ribeiro. Ela também testou o filho mais velho João, de 6 anos, por causa do contato com a irmã. Foi preciso ainda esperar o terceiro dia de sintomas para realizar o exame. "É difícil, demora, mas não tem jeito, é a única forma de proceder", diz.

A designer Helena Rios, mãe de Domenico, de 2 anos, concorda. "Mas na hora que leio a mensagem de aula suspensa, fico mal. Depois respiro, e vejo que tudo bem", conta. Por causa das paralisações durante a pandemia, o menino já começou a adaptação na escola quatro vezes. Ele voltou em abril e, na semana passada, teve que ficar dias em casa por causa de sintomas de colegas.

"Eu sei que é muito ruim estar preparado para levar o filho na escola e ter de cancelar, mas estamos vivendo tempos muitos ruins", diz a diretora da educação infantil e fundamental 1 do Oswald, Rosane Reinert. Ela tem feito reuniões de pais nos últimos dias e falado sobre as dificuldades desta época do ano em plena pandemia.

Algumas salas da escola também tiveram que ser suspensas por casos de crianças com sintomas nos últimos dias, que acabaram dando negativo. Desde a reabertura, em 19 de abril, só um aluno testou positivo para covid no colégio e nenhum funcionário. "A gente nunca exercitou tanto os nossos pilares, de colaboração, da autonomia responsável, de considerar sempre o outro para fazer as escolhas", afirma. "Agora mais do que nunca vale aquele ditado: é preciso uma aldeia para educar uma criança."

Associação orienta afastamento por dez dias

Em nota divulgada nesta segunda-feira, 24, a Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar) disse que, diante de um caso sintomático, a escola deve "orientar o aluno envolvido, através de sua família, a não frequentar as aulas presenciais por 10 dias". "A 'bolha' ou a classe só deverá ter as suas atividades presenciais suspensas em caso de teste positivo para covid-19."

A associação disse que o afastamento do aluno sintomático e de toda a sala de aula representa "um enorme transtorno para os próprios alunos e suas famílias". "É comum, nesse período do ano, que as crianças da educação infantil e os estudantes das séries iniciais do ensino fundamental apresentem sintomas de gripe, resfriados, dor de garganta, coriza", detalhou. A recomendação das autoridades, pontuou a Abepar, é de um afastamento por 10 dias e não mais de 14 dias, como antes recomendado.

Estadão
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