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Coronavírus

Caixa fortalecido da Azul após conclusão de captação joga pressão sobre Gol

Com Latam e Azul colocando o socorro do BNDES em segundo plano para buscar recursos direto no mercado, resta saber o que a Gol pretende fazer para superar a crise

27 out 2020 - 10h10
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A Azul deu um passo importante para sair da turbulência provocada pela pandemia de covid-19 e fortalecer o seu caixa ao anunciar o plano de emitir debêntures conversíveis em ações, que devem injetar cerca de R$ 1,6 bilhão na aérea. Ao contrário do que era esperado, a empresa usou praticamente o mesmo modelo proposto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas conquistou um custo mais vantajoso. Os olhares agora se voltam para a Gol, uma vez que suas concorrentes - além da Azul a Latam - conseguiram levantar recursos importantes para atravessar a crise.

Ao contrário do que se esperava quando a Azul começou a negociar um pacote de socorro junto ao BNDES, ao lado das outras duas aéreas, a Azul utilizou apenas o desenho elaborado pelo banco de fomento. A decisão, tomada após um processo de discussão que levou meses, foi levar a operação integralmente ao mercado, sem recursos do BNDES. Conseguiu atrair para a operação a Knighthead Capital Management LLC e a Certares Management LLC, que vão ser os investidores âncoras na emissão da Azul.

A Knighthead Capital Management LLC, por sinal, também participa do grupo de credores que ajudou a compor o empréstimo à Latam no processo de recuperação judicial da aérea nos Estados Unidos. Mesmo se não houver demanda de outros investidores, os dois âncoras garantirão toda a operação.

"A avaliação final foi de que um instrumento híbrido que mistura tanto a dívida como a ação seria a melhor saída. De um lado, se a empresa jogasse tudo em ação, ocorreria uma diluição muito alta. Já se fizesse tudo por dívida, a empresa continuaria muito alavancada", disse uma fonte que acompanhou de perto o processo, mas pediu para não ser identificada. A proposta desse instrumento híbrido partiu do desenho elaborado pelo BNDES.

"Com base da 'tecnologia' ou modelo de instrumento proposto pelo BNDES, as empresas vão pegar todo dinheiro a mercado, preservando recursos públicos da União e do BNDES", disse outra fonte ao Estadão/Broadcast. No começo da crise, o banco de fomento negociou com diversos setores afetados, mas as empresas acabaram conseguindo soluções de mercado.

No prospecto da oferta divulgado pela Azul, a companhia informa que as debêntures têm data de vencimento de cinco anos e irão pagar juros remuneratórios de 7,5% ao ano no primeiro ano, por meio de aumento no valor nominal das debêntures, e 6% de juros remuneratórios nos demais anos, a serem pagos semestralmente em espécie. O grupo agora vai começar a buscar por interessados. Os investidores âncoras, entretanto, já sinalizaram demanda para a emissão inteira, o que traz garantia ao processo.

Alívio financeiro

No início da crise, a Gol chegou a ser apontada por diversos especialistas e analistas como a melhor posicionada entre as aéreas no Brasil. De abril para cá, entretanto, suas concorrentes acabaram se mexendo e levantaram recursos importantes - e preciosos - para conseguir enfrentar o desafio da retomada do transporte aéreo.

Em dados prévios divulgados ao mercado, a Gol informou que fechou setembro com posição de liquidez total de R$ 2,2 bilhões. O grupo teve de honrar, no início de setembro, com um empréstimo de US$ 300 milhões que era garantido pela Delta. O mercado chegou até a especular que a empresa iria encontrar uma forma de postergar o pagamento por causa da crise, o que não ocorreu.

Muitas dúvidas ainda pairam sobre a ajuda do BNDES ao setor aéreo. Do lado da Azul, fontes próximas das negociações afirmaram que não faria mais sentido para a empresa continuar com as tratativas com o banco de fomento depois de levantar todo esse dinheiro no mercado. A lógica é a mesma para a Latam, que conquistou um alívio financeiro importante depois do empréstimo dentro da recuperação judicial. A dúvida agora é a Gol. A empresa evita dar detalhes sobre as negociações e sempre reforça que o tema está sobre a mesa.

Procurada, a Gol não se manifestou por estar em período de silêncio. Já a Latam disse que continua conversando com o BNDES.

Retomada

De forma geral, o desafio das aéreas agora é conseguir dinheiro para sair da inércia. A demanda por voos no mercado doméstico brasileiro apresentou queda de 55,2% em setembro na comparação com igual mês de 2019, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Apesar do recuo, setembro continuou a tendência de recuperação mês a mês do setor, depois do pior da crise, em abril. No relatório anterior, de agosto, a queda havia sido de 67,5% no ano.

Os analistas do BTG viram com bons olhos o anúncio da Azul. Na avaliação do banco, o movimento tende a fortalecer a posição de caixa da aérea no futuro. "Além disso, acreditamos que os termos obtidos são mais favoráveis do que os oferecidos pelo BNDES uma vez que a diluição potencial é menor (12-14% contra 15%) e a oferta já está ancorada", destacam Lucas Marquiori e Fernanda Recchia, em relatório.

A equipe do banco destaca ainda que a diretoria da Azul tem feito um bom trabalho para reduzir custos e a nova captação representaria um importante passo da empresa para reduzir o seu risco de liquidez. "A alavancagem tem sido uma das principais preocupações dos investidores", apontaram.

Estadão
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