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Coronavírus

Atividades culturais inspiram idosos na pandemia

Lares voltados para a terceira idade apostam em programações online que são direcionadas ao universo da música e das artes cênicas em tempos de isolamento

18 mai 2021 - 05h10
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Quando era criança, Ana Maria Benavente, 84 anos, estudou balé. Apesar do talento natural e o amor pela dança, ela não seguiu o caminho da profissionalização. Na época, a família se opôs à possibilidade de uma carreira na área. "Minha mãe não deixou continuar. Naquele tempo, ser bailarina era uma coisa estranha", contou.

Ainda assim, Ana nunca abandonou sua sensibilidade artística. Estudou piano, tomando gosto pela música clássica e tornou-se uma frequentadora de musicais da Broadway. Em suas viagens para Nova York, pôde assistir a O Quebra Nozes, Cats, O Fantasma da Ópera e a outras peças.

Recentemente, Ana assistiu ao espetáculo Cantos de Xícaras no lar de idosos em que mora, uma unidade da Cora Residencial Sênior, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. A peça, seguindo as normas e protocolos de combate à covid-19, foi transmitida ao vivo pelo YouTube. Trata-se da história de uma xícara centenária que foi esquecida em uma estante empoeirada, mas decide compartilhar suas vivências com o público.

A receptividade dos residentes ao espetáculo é um indicativo de como as atividades culturais, mesmo no contexto da covid, são importantes para o bem-estar e saúde dos idosos. Pensando nisso, lares voltados para a permanência deste público têm criado programações direcionadas ao universo do teatro, cinema, música e da arte.

Ao assistir à peça de teatro, Ana Maria Benavente, por exemplo, lembrou das xícaras que a própria mãe trouxe da Europa. Já a Anna Guidi Pessoa, 79 anos, recordou do tempo em que ia ao teatro com o marido. E Hermínia Oliveira, 103 anos, diz que cultura é parte fundamental da vida - e que gosta tanto de teatro quanto de bingo.

Coordenadora do projeto teatral que resultou no espetáculo Cantos de Xícaras, Helena Miguel contou que a resposta dos idosos tem sido emocionante: "Eles se envolvem com a história, relembram do próprio passado e cantam com a gente. Tudo acontece como em um chá da tarde", disse. Para Helena, o público idoso tem características que o tornam especial. "É uma audiência que sabe contemplar, que ouve as histórias. Eles têm esse templo da contemplação que é algo muito bonito", disse.

Veridiana Chaves, diretora de marketing da Cora Residencial, afirmou que um dos desafios durante o período pandêmico é manter uma rotina de atividades culturais com segurança. Entre as atividades da casa, Veridiana destacou as rodas de leitura virtual. "Nossos residentes recebem um Ipad e podem, por exemplo, se aprofundar em autores. Com o Ipad, eles fazem pesquisas sobre os personagens e livros de Clarice Lispector - bem como temas relacionados com as obras de Clarice, como empatia, distância familiar e outros", disse.

O Lar Sant'Ana, administrado pela Liga Solidária, no bairro Alto de Pinheiros, em São Paulo, também oferece uma série de atividades culturais para os seus residentes. O gerente executivo de longevidade da Liga Solidária, Gilberto Camilo, destaca uma delas. "A gincana musical é algo que faz muito sucesso entre os idosos. Ela estimula a memória e faz com que eles revivam momentos passados", disse. A brincadeira funciona como uma espécie de Qual É a Música?, com os idosos brincando de adivinhar o nome da música, intérpretes ou continuar a letra da canção. Atividade manuais e, principalmente, de pintura também fazem parte do cardápio da instituição.

"No lar, estamos todos vacinados. Temos protocolos para atividades presenciais, mas ainda não realizamos atividades externas, como cinema, teatro ou passeios ao shopping", falou Camilo. Ana Guimarães de Carvalho, 95 anos, é residente do lar Sant'Ana e fã de música brasileira. Assim como outras colegas de residência, não perde uma atividade cultural. "Gosto de tudo o que a vida tem para nos oferecer. Gosto de passear, gosto de teatro, de cinema e até mesmo de circo. Estou vacinada, mas esperando meus filhos se vacinarem também. Quero poder fazer tudo isso com eles e abraçá-los muito", disse.

Estadão
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