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Coronavírus

Após coronavírus, empresas de capital aberto intensificam pedido de recompra de ações

Forte queda nos preços dos papéis na Bolsa estimula movimento de grupos comprando seus próprios ativos

31 mar 2020 - 07h11
(atualizado às 20h50)
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A forte queda do preço das ações na B3, a Bolsa de Valores brasileira, por conta do novo coronavírus, estimulou um movimento de empresas para a recompra de seus próprios papéis em circulação no mercado. No mês de março até ontem, 25 companhias registraram pedido de aquisição de suas ações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - volume cinco vezes maior que o observado em fevereiro.

Nesta lista, estão os três maiores frigoríficos do País - JBS, Marfrig e BRF -, construtoras, como Eztec, Trisul, Cyrela e Gafisa, além de bancos médios como Inter e BMG e a própria B3. Em todo o ano de 2019, 30 companhias abriram programas de recompra de ações, um movimento comum quando os mercados acionários perdem valor. Foi assim na crise global de 2008, durante a recessão de 2015 e logo após o Joesley Day, em maio de 2017, quando veio à tona as gravações do empresário Joesley Batista, dono da JBS, com o presidente Michel Temer.

A operação de recompra, prevista na Lei das S.A., serve como estabilizador de preços das ações, explica Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do Pinheiro Neto Advogados, um dos mais tradicionais escritórios de advocacia do País. "Esse movimento é uma aposta de que a empresa confia no seu negócio", disse. "Quem tem dinheiro em caixa pode avaliar a alocação de capital", disse.

"A queda (dos papéis) aumentou a atratividade de nossas ações", disse Marcelo Martins, vice-presidente de Finanças e de Relações com o Mercado do grupo Cosan. "Nós temos consistentemente investido na recompra de ações em linha com nossa estratégia de que essa é a melhor forma de investir o nosso capital no próprio grupo. Tem sido assim nos últimos quatro anos, sem perder foco em disciplina e nível de alavancagem."

Nas últimas semanas, o escritório Mattos Filho tem recebido quase que diariamente consultas de empresas sobre essa operação, informou Vanessa Fiusa, sócia de mercados de capitais do escritório. "É um movimento bom para os acionistas porque, desde que haja recursos em caixa, é uma forma adequada para administrar o capital", disse.

Na semana passada, o vice-presidente financeiro do grupo de educação Anima, André Tavares, afirmou em videoconferência com investidores que o ritmo de fusões e aquisições da companhia em meio à pandemia de coronavírus será avaliado ante o programa de recompra de ações. A ideia da companhia é pesar, de forma contínua, qual ação deve receber mais investimentos.

"É um momento em que precisamos ter mais clareza", afirma ele. Segundo o executivo, a Anima decidiu acelerar o programa de recompra de ações quando os papéis da companhia ficaram no patamar de R$ 18. Apesar disso, a Anima "tem mantido diálogo" com as instituições candidatas a fusões e aquisições.

Após lançar o pacote de ajuda às companhias, na semana passada, o presidente norte-americano Donald Trump também fez um alerta sobre oportunistas que querem sair no lucro em meio à pandemia. "Recomendo que seja proibido fazer recompra de ações de sua própria empresa, para aumentar o valor delas", declarou o presidente norte-americano. Aqui no Brasil não há nenhuma recomendação neste sentido.

Aquisições por meio de ações. Com mais ações em tesouraria, as empresas poderão dispor de um volume maior de papéis para serem oferecidos em caso de uma fusão ou aquisição, lembra Bertoldi, do Pinheiro Neto. "Depois que a crise passar, parte das empresas que fizeram a recompra pode utilizar no futuro essas ações como moeda de troca numa fusão ou aquisição sem a necessidade de fazer o desembolso da transação em dinheiro."/COLABOROU ANA LUIZA CARVALHO

Estadão
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