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Coronavírus

Apesar das incertezas, executivos acreditam na recuperação econômica em 2021, aponta pesquisa

Levantamento realizado pela Deloitte com 663 organizações mostra que os investimentos em tecnologia e em segurança digital devem seguir em alta este ano

21 jan 2021 - 15h39
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A maioria dos executivos brasileiros apostam em uma retomada da atividade econômica em 2021, aponta a pesquisa Agenda 2021, feita pela consultoria Deloitte: 42% dos entrevistados acreditam que, neste ano, a atividade econômica no Brasil voltará a ser igual ao nível pré-crise da covid-19, enquanto 18% acreditam que haverá crescimento e que a atividade econômica será superior ao nível pré-pandemia.

Um número considerável de empresários, porém, se mostra mais pessimista: 37% acham que a economia não terá grande recuperação em 2021, ficando abaixo do nível de antes da crise causada pelo novo coronavírus. Apenas 3% dos entrevistados disseram esperar que a economia terá queda em relação ao fechamento de 2020.

A Agenda 2021 ouviu, entre os dias 10 e 24 de novembro de 2020, representantes de 663 empresas, de 36 segmentos econômicos, cujas receitas somaram R$ 1,5 trilhão no ano passado. Dos executivos que participaram da pesquisa, 65% ocupam cargos de conselho, presidência e diretoria.

"A nossa conclusão é que não existe um consenso entre os empresários. Alguns estão mais otimistas e outros, pessimistas. Nas conversas, nas reuniões que nós temos feito e também segundo a pesquisa mostra, olhando como um todo, a gente entende que a maioria dos executivos acredita que este ano será de recuperação", explica João Maurício Gumiero, sócio-líder de Market Development da Deloitte.

Na pesquisa, os desafios para retomar investimentos em novos projetos em 2021 mais citados pelas empresas foram a volatilidade macroeconômica, a imprevisibilidade na geração de receita e os riscos operacionais. "O grande esforço deverá ser a retomada da receita no primeiro trimestre. É muito importante a retomada dos empregos e da receita. Se as empresas tiverem a receita, é possível ter alguma certeza em meio ao ambiente volátil, de pelo menos voltar a operar como no momento pré-pandemia", comenta Gumiero.

Para os executivos ouvidos, as prioridades para a retomada da atividade econômica em 2021 são o estímulo à geração de empregos (81%), a manutenção da inflação abaixo dos 4% (64%), investimentos governamentais em infraestrutura, como ferrovias, rodovias, hidrovias e portos (63%) e o estímulo à oferta de crédito à população (46%).

"Nossa economia depende muito do comércio interno, então, sem a geração de empregos e o aumento da renda, realmente o crescimento não vem. Mas um ponto muito destacado pelos empresários é a necessidade de créditos, principalmente para a pequena e média empresa. Os entrevistados acreditam que infraestrutura e retomada de emprego são padrão, já que, sem isso, não conseguimos andar. Mas o diferencial para o estímulo da economia neste ano seria o crédito", diz Gumiero.

Em relação a vagas de emprego, o levantamento aponta que 44% das empresas aumentarão o quadro de funcionários em 2021; 24% manterão o mesmo quadro, sem substituições; 23% manterão o quadro, com substituições; e apenas 9% diminuirão o quadro de funcionários, indicando o foco das empresas na recuperação durante o ano.

Gumiero destaca que haverá uma migração de cargos, especialmente para serviços mais digitais, cenário impulsionado pelo e-commerce. "As vendas pela internet estão subindo mais que o normal. Uma empresa X, que tinha 30 funcionários na frente de loja, vai passar a ter 20 na loja e 10 vão trabalhar vendendo pela internet. É uma tendência que identificamos", afirma.

A pesquisa mostra que 40% das empresas realizaram vendas online após o início da crise da covid-19. Também foi identificado aumento das vendas nos canais online durante a crise por 67% das empresas que já vendiam online antes da crise, enquanto apenas 21% relataram que as vendas se mantiveram no mesmo patamar e 12% relataram uma diminuição das vendas online.

Os investimentos em tecnologia continuarão fortes em 2021 para as empresas, principalmente em cloud, equipamentos, telecomunicações e serviços de TI (96%); sistemas, ferramentas e softwares de gestão (95%); e gestão de dados, como big data, analytics e inteligência artificial (95%).

"Todos os assuntos relacionados ao mundo digital estavam em projetos das empresas, mas o mercado tratava como algo para daqui cinco ou dez anos. Certamente a pandemia acelerou os investimentos na área e agora todos vão investir para quando o mundo voltar ao normal, sem essa doença", opina o sócio da Deloitte. Para ele, as vendas digitais serão mais relevantes do que antes da pandemia e outras práticas, como home office (em modelo híbrido, que mistura trabalho remoto e presencial) e assinatura de documentos digitais, também estarão um nível acima que o cenário anterior ao coronavírus.

A pesquisa também aborda os investimentos em segurança digital: 56% das empresas aumentarão esses investimentos, enquanto 38% delas manterão os investimentos do ano passado. "O investimento em segurança digital para novas ferramentas, para novos sistemas e para armazenamento de dados será uma realidade que não volta mais, a pesquisa também mostra isso muito claramente", diz Gumiero.

"Com a pandemia, todo mundo foi obrigado a investir em tecnologia em geral, TI, cyber security (segurança digital) e também na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)", acrescenta. A LGPD terá prioridade muito alta em 2021 para 30% das empresas; para 28%, nível alto de prioridade; para outros 28%, nível moderado de prioridade; apenas 14% das empresas classificaram a LGPD com nível de prioridade baixo ou muito baixo em 2021.

Em relação à pauta ESG, que se refere a aspectos ambientais, sociais e de governança das empresas, 16% delas pretendem adotar indicadores de sustentabilidade para as decisões estratégicas da liderança em 2021, 14% pretendem adotar indicadores de gerenciamento de impacto ambiental, 14% pretendem adotar relatórios de sustentabilidade e 12% pretendem adotar políticas de inclusão social.

"A pauta ESG também veio para ficar, o mercado está forçando as empresas a ter políticas de ESG. Por exemplo, alguns fundos internacionais já colocaram publicamente que só investem em empresas que têm práticas ESG. A maioria das empresas não têm nada estruturado em ESG, mas todas elas têm alguma coisa relacionada à pauta. Diante das prioridades deste ano, desse cenário de incerteza, assuntos como tecnologia e recuperação econômica aparecem na frente. Mas o ESG aparece citado de uma forma importante para as empresas, ele está na pauta da maioria das empresas", explica Gumiero.

Apesar das intenções e expectativas dos empresários para 2021, o sócio da Deloitte destaca que o momento é de muita incerteza. "Não temos domínio do que acontecerá na área da saúde, então é um momento único. Nunca vi, em minha trajetória, uma situação de saúde como essa, que interferisse tanto nos negócios. O cenário que vivemos tem muitas variáveis", conclui.

Outros dados trazidos pela pesquisa são que 29 das empresas entrevistadas pretendem fazer IPO em 2021, enquanto 29% irão participar de licitações ou privatizações, 24% irão adquirir outras empresas e 18% irão adquirir produtos ou marcas de outras empresas.

Estadão
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