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Coronavírus

Análise: PIB surpreendeu, mas não esconde os desafios da economia em 2021

Projeções do Ibre/FGV apontam para retração de 0,5% do PIB no primeiro e segundo trimestres e crescimento de apenas 3,2% no ano

3 mar 2021 - 19h54
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O aquecimento da atividade econômica ao longo do segundo semestre de 2020 é de surpreender até mesmo os analistas mais otimistas. O PIB brasileiro cresceu, em média, 5,4% por trimestre na segunda metade do ano, encerrando 2020 com queda de 4,1%. Apesar do tombo expressivo, as expectativas no início da pandemia eram muito piores, concentravam-se entre 6% e 10% de queda do PIB. Nossa pior estimativa era de queda de 6,4%.

O governo não economizou nas políticas de estímulo: cerca de R$ 295 bilhões foram injetados na economia. As medidas do governo foram mais do que suficientes para compensar a perda de renda do trabalho gerada pela pandemia, fazendo com que a massa ampliada de rendimentos da economia crescesse mais de 3% em termos reais em 2020.

Essa abundância de recursos transferidos às famílias estimulou sobremaneira o consumo de bens, permitindo que setores como indústria e comércio rapidamente retomassem aos níveis pré-pandemia. Por outro lado, o setor de serviços permanece mais de 2% aquém do patamar do final de 2019, diretamente afetado pelas medidas de distanciamento social.

Os bons resultados do PIB do ano passado, contudo, não se sobrepõem às dificuldades que se apresentam neste ano. O agravamento da pandemia, o lento processo de imunização da população, nossas restrições fiscais que limitam a implementação de políticas de transferência de renda na magnitude observada no ano passado, em conjunto com o processo de normalização da política monetária, são alguns dos entraves ao crescimento econômico em 2021.

Nossas projeções atualizadas apontam para retração de 0,5% do PIB no primeiro e segundo trimestres deste ano. Mesmo considerando uma recuperação ao longo do segundo semestre, o PIB deve encerrar 2021 com crescimento de apenas 3,2%, abaixo do carregamento estatístico, estimado em 3,6%. Além dos desafios de curto prazo, o risco de normalização da política monetária norte-americana em um horizonte mais próximo do que o esperado impõe viés negativo sobre a recuperação dos países emergentes, principalmente nos países com fundamentos econômicos mais frágeis. Este é o caso do Brasil. Não temos tempo a perder.

*Economistas e pesquisadoras do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV)

Estadão
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