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Coronavírus

'Acredito que consumo vai voltar ao normal', afirma presidente da JHSF

Para empresa voltada ao setor de luxo, descoberta de vacina ou tratamento para o coronavírus deve trazer hábitos da população de volta ao padrão tradicional

7 abr 2020 - 17h49
(atualizado às 19h28)
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Chacoalhada pelo coronavírus, que afetou severamente dois de seus negócios - o de shopping centers e o de hotelaria -, o grupo JHSF, dono dos hotéis e restaurantes Fasano e de centros comerciais como o Cidade Jardim, está usando o período da pandemia para se reinventar. Segundo Thiago Alonso Oliveira, presidente da JHSF, a empresa está conseguindo fazer adaptações à sua atuação, com descobertas especialmente na área digital.

Enquanto mantém seu aeroporto executivo e a área de incorporação imobiliária em funcionamento, o grupo sabe que depende do fim do período de isolamento para que o cliente volte a circular pelos shoppings, a comer em restaurantes e a se hospedar em seus hotéis. Embora admita que o fator medo vá influenciar o consumidor por um bom tempo, Oliveira diz que uma vacina ou um tratamento para a covid-19 poderá mudar o jogo, fazendo o mundo voltar ao "antigo normal".

"Eu acredito que a vida vai voltar ao normal. E cada segmento vai tirar um aprendizado desse período, vai tentar se reinventar", afirmou o executivo, nesta terça-feira, 7, em entrevista ao vivo ao Estadão.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

A JHSF atua em setores que são altamente impactados com o coronavírus, como hotelaria e shoppings. Como a empresa está se estruturando nesta crise?

Estávamos acompanhando os efeitos da crise já pelos funcionários do grupo fora do Brasil. O fato de termos um contato prévio do que estava acontecendo nos permitiu sair na frente e organizarmos a empresa. Temos absoluta normalidade no aeroporto executivo Catarina, mantendo o protocolo de distanciamento. Em nossos projetos de incorporação imobiliária, mantivemos as obras. A única obra que tivemos suspensão temporária é da Fazenda Boa Vista (interior de São Paulo), que está com uma taxa de ocupação de moradores que nunca tínhamos visto.

Como está a questão específica dos shoppings?

Estamos acompanhando os decretos (das prefeituras e governos de Estado). Nem shoppings nem restaurantes foram absolutamente fechados. Nos shoppings, mantivemos em funcionamento as atividades essenciais - como farmácias e bancos. O grupo tem um braço digital, o CJ Fashion, e a nossa atividade foi fortalecida nesse canal, ajudando os lojistas a continuar a vender. Nos restaurantes, tínhamos uma operação de delivery que estava restrita ao Gero Panini, do Itaim (área nobre da capital paulista), que foi ampliada. Não dá para dizer, claro, que essa atuação online compense a suspensão temporária de nossas atividades.

Quais foram os principais procedimentos da JHSF com seus funcionários e fornecedores?

Empregamos 3 mil pessoas. A nossa primeira preocupação foi com as pessoas fora que voltaram de fora do País. Hoje, temos parte dos funcionários trabalhando em home office. Os do aeroporto e incorporadora seguem trabalhando, mas obedecendo as diretrizes de distanciamento. Também estamos imunizando funcionários com vacinas. A empresa tem sido muito prudente com (a questão da) saúde.

Como a empresa vê a retomada das atividades?

Quem vai autorizar a volta não é a administração da empresa, mas o poder público. Para nós, a saúde vem na frente, mas temos um desejo de voltar à normalidade. Esperamos fazer isso de uma forma bem segura. Olhando para o que está acontecendo fora do Brasil, a gente já vê as principais cidades chinesas e alguns outros países voltando à normalidade. Talvez a diferença é o fato que as pessoas (de lá) estão circulando com máscaras.

Em um cenário de retorno, o consumidor deve voltar às compras?

O perfil de clientes que consome nosso tipo de produto costuma ter maior disponibilidade de renda. As pessoas precisam primeiro se sentir seguras para depois retornar à normalidade, com suas rotinas e gostos. Eu consigo ver as pessoas voltando a frequentar os nossos shoppings. Temos a vantagem de que nossos dois principais shoppings - o Cidade Jardim e o Catarina Fashion Outlet - são abertos, com mais circulação de ar, então achamos que existe a chance de uma retomada um pouco mais rápida (em relação à concorrência).

Existe uma demanda reprimida de certos tipos de consumo?

É só olhar o que está acontecendo na Ásia, onde as pessoas já começaram a retomar o consumo. Olhe o setor de serviços, por exemplo. Na situação em que estamos, eu tive de cortar o cabelo do meu filho em casa, o que foi insólito. Então, é algo que, assim que possível, as pessoas vão voltar a fazer fora de casa. Já o setor de turismo vai ter uma retomada um pouco mais lenta, mas as pessoas vão voltar a fazer o que normalmente faziam. Eu, por exemplo, quero logo voltar a viajar a trabalho e retomar a minha rotina de até um mês atrás.

Mas certos setores não vão ser afetados por ferramentas virtuais, como o de turismo de negócios?

Acho que a questão do medo (será superada) quando tivermos um remédio ou uma vacina (para o coronavírus). Enquanto não tivermos um ou outro, temos a situação que está dada hoje (no turismo), tanto que a maioria dos hotéis se encontram fechados. Quanto ao uso de ferramentas (tecnológicas), como a videoconferência, não vejo guinadas de comportamento - é algo que já existia e agora vai se tornar mais proeminente. Eu acredito que a vida vai voltar ao normal. E cada segmento vai tirar um aprendizado desse período, vai tentar se reinventar.

E o que a JHSF está aprendendo nessa crise?

A gente tem um braço da empresa que vinha trabalhando em digitalização de processos. Temos 20 projetos de digitalização, sendo que 3 deles já estão lançados. Os outros estão ganhando mais velocidade. Migramos cada vez mais para um híbrido de atuação física e digital. Por conta da situação de curto prazo, estamos num período muito digital. Isso está nos dando a oportunidade de experimentar, o que tem gerado um bom retorno para entendermos o que estava na direção correta e o que precisa de correção de rota.

Estadão
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