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Contrários ao 'fundão' eleitoral recebem R$ 150 milhões para custear campanha

157 deputados que desaprovaram o projeto, mas usam verba pública

15 set 2018 - 15h47
(atualizado às 18h14)
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BRASÍLIA - Três de cada quatro deputados federais contrários à criação do fundo eleitoral abastecido com recurso público receberam dinheiro dessa fonte para custear despesas nas primeiras semanas de campanha. Ao todo, 157 parlamentares que votaram contra o fundão na Câmara fizeram pedidos expressos a seus partidos e já obtiveram R$ 150 milhões.

Nem todos os partidos distribuíram a parcela de recursos a que têm direito do fundo, orçado em R$ 1,7 bilhão neste ano. Por enquanto, o valor repassado a esses deputados equivale a 8% das verbas públicas remanejadas pelo governo para as campanhas.

Na Câmara, a votação ocorreu de forma simbólica, sob críticas dos deputados contrários, que conseguiram numa segunda etapa forçar uma votação nominal em plenário, o que permitiu a identificação de quem apoiou ou rejeitou o projeto: 233 deputados foram favoráveis, 209 contra e três se abstiveram. Quem era favorável passou a cobrar que os contrários abrissem mão da verba, por coerência.

Três dos quatro parlamentares que votaram contra e mais receberam dinheiro do Fundo Eleitoral até agora disputam cargos majoritários neste ano. O deputado Daniel Vilela (MDB), destinatário de R$ 3 milhões, é candidato a governador de Goiás. Colega de bancada dele, o deputado Mauro Mariani (MDB) recebeu R$ 2,5 milhões para concorrer ao governo de Santa Catarina. Em oposição a ele no Estado, o deputado Esperidião Amin (PP-SC) disputa o Senado com R$ 2,383 milhões. A única mulher no topo da lista é a deputada pelo Paraná Christiane Yared (PR). Ela teve direito a R$ 2,4 milhões repassados pelo partido para tentar a reeleição.

Entre os 55 deputados contrários ao fundo que não declararam à Justiça Eleitoral ter recebido verbas da fonte, há casos em que o pai do parlamentar ou algum filho recebeu em seu lugar. A reportagem também identificou que, em certos casos, a verba foi parar na conta do cabeça da chapa que o deputado compõe. Outros não concorrem à reeleição ou renunciaram.

O PTB, por exemplo, fez a triangulação entre familiares. Os deputados pastor Josué Bengston (PA) e Pedro Fernandes (MA) destinaram, cada um, R$ 1,15 milhão aos filhos que tentam se eleger para uma vaga na Câmara: pastor Paulo Bengston e Pedro Lucas Fernandes. Já no caso do deputado federal Wilson Filho (PB), que agora concorre à Assembleia Legislativa e ainda não declarou receitas, o dinheiro faz o caminho inverso. O pai dele, o ex-deputado e ex-senador José Wilson Santiago, é quem recebeu a bolada no mesmo valor para tentar retornar ao Congresso.

No PR, o deputado Marcelo Delaroli (RJ) era contra o fundo, mas hoje figura como candidato a vice-governador do Rio na chapa do senador Romário (Podemos). Delaroli não teve ainda receita declarada, mas Romário já indicou ter recebido R$ 2 milhões do fundão. O ex-jogador de futebol também era contra.

O deputado Jair Bolsonaro (RJ), presidenciável do PSL, disse que não usaria verbas do fundo eleitoral, embora seu partido tenha pedido os recursos ao Tribunal Superior Eleitoral. A parcela do PSL é de R$ 9,2 milhões. Aliado dele, o deputado Delegado Waldir (GO), à época no PR, votou contra o fundão e já recebeu um repasse de R$ 420 mil, apesar de a direção do partido ter anunciado que a bancada fechou acordo para não usar o dinheiro.

'Desvantagem'. A assessoria do deputado Daniel Vilela (MDB), candidato ao governo de Goiás, afirmou que ele se posicionou contra o Fundo Eleitoral durante as discussões na Câmara porque achava que o Fundo Partidário (R$ 888 milhões) - destinado ao custeio dos partidos, mas cujas reservas podem ser aplicadas em eleições - seria suficiente para o financiamento público das campanhas. "O candidato ficaria em desvantagem em relação aos concorrentes", disse a equipe do emedebista.

Candidato ao governo de Santa Catarina, o deputado Mauro Mariani (MDB) também disse que cumpre as regras vigentes. "Não faria sentido conduzir uma campanha com menos recursos que os demais concorrentes", disse o parlamentar.

A deputada Christiane Yared, que tenta a reeleição pelo Paraná, disse que o aporte de R$ 2,4 milhões a sua campanha é fruto de um acordo dela com o PR. O Estado não obteve retorno da assessoria do deputado Esperidião Amin (PP), candidato a senador por Santa Catarina.

O deputado delegado Waldir (PSL-GO) disse que pediu os recursos do Fundo Eleitoral, embora rejeitasse a proposta antes, porque não possui outra fonte de dinheiro e, como presidente do partido em Goiás, vai bancar despesas de outros candidatos da sigla. "Não possuo recursos próprios e não temos Fundo Partidário. Foi a única alternativa que tive para poder ser eleito e bancar os custos mínimos de uma campanha. Sou presidente do PSL e tenho hoje mais de 60 candidatos a deputado federal e estadual. A gente tem que ajudar esses candidatos, tem tempo de TV, rádio... Sem recursos ficaria impossível de viabilizar a minha candidatura e a dos nossos candidatos", disse ao Estado.

Estadão
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