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EUA: Com ajuda da arte, inocente é solto após 27 anos preso

Condenado por crime que não cometeu, Valentino Dixon desenhava campos de golfe para passar o tempo na cadeia

20 set 2018 - 12h36
(atualizado às 13h12)
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Nos anos 1990, o americano Valentino Dixon foi condenado injustamente por um assassinato que não cometeu. Após 27 anos cumprindo pena, ele finalmente conquistou a absolvição - com ajuda de seu talento para arte e de uma reportagem publicada numa revista de golfe.

De calça jeans e camiseta e com um sorriso largo no rosto, Dixon deixou a prisão nesta quarta-feira (19/09) após um tribunal na cidade de Buffalo, no estado americano de Nova York, ter decidido revogar a pena imputada a ele décadas atrás, resultado de um pedido de revisão do caso.

O americano, hoje com 48 anos, foi condenado pela morte do jovem Torriano Jackson, de 17 anos, após uma discussão em Buffalo em agosto de 1991. A pena mínima era de 38 anos, que poderia ser estendida para prisão perpétua. Ele sempre se declarou inocente.

Condenação injusta por homicídio manteve homem inocente preso por quase 30 anos
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Foto: DW / Deutsche Welle

Sabendo que poderia ficar décadas preso, Dixon retomou na prisão uma paixão de infância: desenhar. A intenção era matar o tempo, mas seu talento acabou chamando a atenção dos funcionários da penitenciária Attica Correctional Facility, onde ela cumpria a pena.

Certa vez, o diretor da prisão entregou a Dixon uma foto de um clube de golfe e pediu, como um favor, que ele reproduzisse a paisagem. Depois disso, os campos verdes e os famosos buracos viraram seu objeto preferido, tendo resultado em dezenas de pinturas.

"Sentado na minha cela, eu disse: 'Quer saber? Esses desenhos de golfe estão salvando a minha vida. Estou sentado aqui por algo que não cometi e com os dias contados'", afirmou o americano ao jornal The Washington Post. "Esses desenhos animaram meu espírito de uma forma que não dá para descrever. Era quase como se eu estivesse num campo de golfe."

Dixon acabou encontrando inspiração numa edição da revista Golf Digest - publicada nos Estados Unidos para os amantes do esporte -, emprestada por um colega da prisão.

Após ler uma coluna escrita pelo diretor editorial da publicação, Max Adler, intitulada justamente "O golfe salvou minha vida", Dixon resolveu enviar alguns de seus desenhos - bem como o arquivo de seu caso na Justiça - para o jornalista.

Curioso, Adler passou a apurar o caso, e, em 2012, a Golf Digest publicou um extenso perfil contando a história do presidiário inocente. A reportagem chamou a atenção de estudantes de Direito da Universidade de Georgetown, que decidiram lutar pela liberdade de Dixon.

Esses estudantes participam de um projeto da universidade chamado Prisons and Justice Initiative, que representa legalmente condenados de forma gratuita e lutam contra o encarceramento em massa nos Estados Unidos.

A batalha pela absolvição de Dixon chegou ao fim nesta quarta-feira com a decisão do tribunal em Buffalo. Outro homem, Lamarr Scott, se declarou culpado pelos crimes.

Ao deixar o cárcere, o americano foi recebido por sua mãe, sua avó de 90 anos, uma filha de 27 e seus netos. Entre suas quatro filhas, todas com mais de 20 anos, três ainda usavam fraldas quando ele foi mandado à prisão.

"Eu sempre soube que esse dia chegaria", afirmou. "Mas nunca pensei que levaria tanto tempo. Sempre pensei que sairia no ano seguinte, ou no mês seguinte. Eu pensava: 'A evidência está lá. Como os tribunais podem negar isso?'."

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