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Código de barras e o poder tecnológico de umas linhas pretas

19 fev 2020 - 14h04
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Mais de 40 anos atrás, George Laurer não fazia ideia do impacto que sua invenção teria para o comércio e o rastreamento de objetos, além de outras aplicações. Ele não ganhou um centavo com a criação.As linhas verticais pretas sobre fundo branco estão por todo lado: como zebras digitais, os códigos de barra saúdam o comprador desde as lojas de brinquedos até as bananas nos supermercados; e a Amazon nunca poderia entregar tantas coisas sem eles. Eles facilitam a vida, e ninguém realmente repara neles até que o caixa não consegue ler um e precisa - com relutância - digitar manualmente o número do produto.

"Apesar de toda a conversa sobre avanços tecnológicos de hoje, o triunfo silencioso da tecnologia do século 20 para o setor de varejo tem sido, sem dúvida, o código de barras. O varejo pode ser simples, mas não é fácil", comenta Jonathan Reynolds, diretor acadêmico do Instituto Oxford de Gerenciamento de Varejo, da Universidade de Oxford. O código de barras é uma "solução compacta, elegante e flexível", acrescenta.

Ele é tão universal que é difícil acreditar que foi preciso mesmo alguém inventá-lo. Mas foi: a pedido do setor de mercearia e aperfeiçoando o trabalho anterior de outros pesquisadores, o engenheiro americano George Laurer chefiou a equipe criadoras do "universal product code" (UPC, código universal do produtos) e do equipamento de leitura necessário. Ele foi usado pela primeira vez para comprar um pacote de chiclete num supermercado de Ohio, em 1974.

O setor de mercearia, que vende cestas cheias de produtos baratos, teve um incentivo real para tornar o processo de aquisição mais fácil, rápido e preciso. De acordo com fontes da época, os códigos de barra tornaram as filas dos caixas 40% mais rápidas, ao mesmo tempo eliminando a necessidade de pregar etiquetas de preço individuais em cada item - ou alterá-las quando os preços subiam ou desciam. Eles também impediam que clientes trocassem etiquetas de preços dos produtos. Com software mais avançado, logo foi possível ver o que estava vendendo bem e ter inventários atualizados.

Venda inicial difícil

Apesar de todas as vantagens prometidas, a implantação dos códigos de barras foi lenta. Os varejistas estavam relutantes em investir nos scanners necessários, uma tecnologia que possivelmente não duraria muito.

Além disso, muitos compradores estavam desconfiados de que suas compras poderiam ser rastreadas, ou pior, de serem enganados por o preço não estar mais impresso em cada item. Outras teorias da conspiração se seguiram. Com a vigilância constante de hoje, isso parece uma ideia ingênua, mas na época os códigos de barra tiveram venda difícil.

No entanto eles começaram lentamente a tomar conta do mundo nos anos 1980. E, apesar de agora cobrirem desde o norte da China até o sul do Chile e serem escaneados bilhões de vezes por dia, Laurer nunca viu um centavo. A empresa deixou o código de barras no domínio público para vender seu equipamento de leitura.

"A IBM não fez nenhuma tentativa de patentear ou proteger o símbolo e o código, porque não queríamos nada que impedisse o uso ou atrasasse a implementação do símbolo UPC. Nós o demos à indústria", escreveu Laurer em sua autobiografia Engineering WAS Fun! (Engenharia ERA divertida!).

Para a IBM, foi um golpe de mestre; para Laurer, foi a invenção mais duradoura de sua carreira de 36 anos na empresa. O inventor morreu em 5 de dezembro de 2019, aos 94 anos.

Impondo ordem

O nascimento do código de barras não foi fácil. "Na época, a IBM não tinha no mercado um código de barras ótico ou um equipamento ótico para lê-lo. Não tínhamos nenhum equipamento próprio para vender, proteger ou adequar a pré-requisitos. Esses fatos me deram uma chance de começar do zero", escreveu Laurer. Até aquele momento, as duas propostas que podiam ser lidas em qualquer direção eram "códigos circulares que eram impraticáveis para imprimir com as tolerâncias exigidas". Laurer tinha que inventar algo diferente.

Em sua forma mais simples, seu código de barra é um conjunto unidimensional de 30 linhas verticais pretas e 29 espaços brancos de espessuras variáveis - em todas as 59 barras pretas e brancas. As linhas representam números, que eram impressos abaixo. Cada sequência contém 95 bit de código binário e corresponde a informações de um banco de dados.

O código de barras original saiu lentamente dos supermercados e foi adotado por diversos setores, e tomou numerosos tamanhos diferentes. "O código de barras é o padrão de negócios mais popular do mundo. Nós o usamos regularmente, como consumidores, ao escanear itens nos caixas dos supermercados. Mas o código de barras é muito mais do que isso", afirma Alistair Milne, professor de economia financeira da Universidade de Loughborough, Inglaterra, em entrevista à DW.

Embora a primeira geração de código de barras unidimensional tenha mudado ao longo dos anos, o básico permaneceu igual, seja para rastrear inventário vivo ou inanimado - de pulseiras para recém-nascidos e amostras de sangue em hospitais até o pacote que o destinatário não estava em casa para receber.

"Desde sua primeira aplicação comercial nos mercados, o código de barras e os padrões relacionados se tornaram ferramentas indispensáveis para o gerenciamento das cadeias globais de abastecimento, proporcionando transparência antes inimaginável sobre a localização e o progresso de bens e materiais", frisa Milne.

Os desenvolvimentos mais recentes, como os códigos de matriz bidimensional mais complexos, têm usos mais amplos. Eles também têm aparência diversa, e integram retângulos, pontos, cores e padrões geométricos, contendo muito mais informações.

As versões mais recentes de código de barras são usadas em cartões de embarque e bancos online, sendo uma forma de as empresas compartilharem informações diretamente com os clientes através de seus telefones celulares. Eles também permitem alugar bicicletas ou destrancar as portas de um carro alugado, com um rápido rastreamento.

"Erros de máquinas são imperdoáveis"

O sucesso global do código de barras mostra a grande responsabilidade que pode vir com uma tecnologia onipresente. "Uma chave para elevar e manter os padrões de vida é aproveitar ao máximo a tecnologia digital e a padronização", afirma Milne. "As empresas, porém, muitas vezes resistem à padronização. O código de barras UPC e seus sucessores ilustram quão grande pode ser o impacto."

Ao mesmo tempo, os legisladores precisam entender a importância dos padrões universais e as sociedades devem promover inovação verdadeira. "Certamente não é por acaso que na Alemanha, onde a excelência em engenharia continua merecendo grande estima e respeito no mundo dos negócios, a renda per capita é 20% maior do que no Reino Unido, onde engenharia é muitas vezes considerada um aspecto secundário e rotineiro dos negócios", afirmou Milne.

Para a IBM e George Laurer, uma das lições mais importantes foi outra: os clientes perdoariam um funcionário por digitar a soma errada, mas há uma cobrança muito maior em relação às soluções tecnológicas. "As pessoas simplesmente não perdoam máquinas por cometerem erros", concluiu Laurer em sua autobiografia.

É claro que a vida moderna seria possível sem o código de barras. Ela simplesmente não seria tão moderna, organizada ou rápida: não haveria entrega de pacotes no prazo, e os clientes passariam muito mais tempo na fila do caixa.

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