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'Clube da luta' de crianças órfãs divide redes sociais na China

Academia no sudoeste do país ensina artes marciais para meninos abandonados pela família, mas muitos debatem se o bem-estar dos jovens está sendo levado em conta.

25 jul 2017 - 16h30
(atualizado às 17h51)
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Um "clube da luta infantil" na Província de Sichuan, sudoeste da China, detonou uma grande discussão nas redes sociais do país.

Minidocumentário sobre crianças em academia de MMA abriu debate sobre direitos infantis
Minidocumentário sobre crianças em academia de MMA abriu debate sobre direitos infantis
Foto: BBC News Brasil

Um pequeno documentário exibido no Pear Video, um site popular em solo chinês, apresenta o Clube da Luta Enbo, na cidade de Chengdu, que treina mais de 400 jovens lutadores - muitos deles órfãos - em MMA (artes marciais mistas).

O vídeo mostra, por exemplo, dois meninos de 12 anos lutando entre si em uma arena enjaulada, diante de uma multidão. Em determinado momento, o treinador das crianças diz que é o clube que gerencia o dinheiro arrecadado com as lutas.

Na entrevista, o fundador do espaço diz que a Secretaria de Assuntos Civis envia ao local crianças órfãs e "deixadas para trás" - forma como os chineses se referem às crianças rurais cujos pais se mudaram para áreas urbanas.

Há estimadas 61 milhões de crianças "deixadas para trás" na China.

Aquelas que não cumprem os pré-requisitos exigidos pelo clube são devolvidas aos cuidados do Estado.

A polícia está investigando o caso. O supervisor do clube, Zhu Guanghui, disse que o local está cooperando com as autoridades, segundo edição desta segunda-feira do jornal Beijing Youth Daily.

Exploração ou oportunidade?

O documentário acompanha sobretudo dois meninos de 14 anos, chamados de Pequeno Long e Pequeno Wu. O primeiro conta que seu pai morreu e sua mãe "foi embora". O segundo foi levado ao clube por sua avó depois de seus pais terem morrido.

"Aqui você tem tudo", diz Wu a respeito do clube de MMA. "Comida, alojamento, roupas... Se eu voltasse para casa, provavelmente estaria fazendo algum trabalho braçal e também algum emprego de meio período."

Postagens com a hashtag #MMAFightClubForOrphans tiveram milhões de compartilhamento
Postagens com a hashtag #MMAFightClubForOrphans tiveram milhões de compartilhamento
Foto: BBC News Brasil

O vídeo teve mais de 12 milhões de visualizações na popular plataforma Miaopai, e milhares de pessoas comentaram o caso no serviço de microblogging Sina Weibo, onde há um acalorado debate sobre o trabalho do clube. A hashtag #MMAFightClubForOrphans foi usada milhões de vezes.

"Aprender a lutar desde cedo é um caminho para o futuro. Não vejo nada absurdamente errado", diz um usuário, cujo comentário recebeu mais de 2 mil curtidas.

Há quem concorde. "Se não fosse isso, para onde eles (meninos) iriam? Se tornariam mendigos?", diz outro usuário.

"(Os meninos) podem contar com isso para sobreviver e eventualmente se tornar atletas profissionais."

Mas muitos não estão convencidos de que o clube de MMA esteja trabalhando pelo bem das crianças.

"Isso me parece um tipo de abuso", queixa-se um internauta.

"As crianças deveriam estar na escola, e não nesse ambiente movido a lucros. O que estão aprendendo é que, nas regras de sobrevivência, o vencedor é que leva tudo. É algo desprezível, e onde estão as autoridades?", critica outro.

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O cineasta que tem uma câmera no lugar do olho:
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