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Chance de cumprir meta de Paris é de 5%

Limitar o aquecimento global a 2°C está cada vez mais difícil

1 ago 2017 - 13h02
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Por Observatório do Clima

Dois estudos publicados nesta segunda-feira traduzem em números algo que muita gente já sabe, mas ainda fica com vergonha de dizer em público: atingir a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, a de estabilizar o aquecimento global em 1,5°C, é virtualmente impossível agora. E mesmo o objetivo mais modesto de evitar que a Terra esquente 2°C não é muito mais simples.

Um dos estudos calculou a probabilidade de diversos graus de aquecimento no final do século dado o que nós sabemos sobre o crescimento da economia e da população e a tendência do sistema de energia. O outro olhou para o comportamento da Terra para entender quanto aquecimento já está "precificado" no sistema climático, mesmo se as emissões parassem todas hoje.

Nos dois casos a notícia é ruim. A probabilidade de a humanidade conseguir segurar o aquecimento em 1,5°C é de apenas 1%, mesmo considerando tudo o que já está sendo feito hoje para reduzir emissões de gases de efeito estufa. Para 2°C essa chance quintuplica, segundo uma equipe internacional de pesquisadores liderada por Adrian Raftery, da Universidade de Washington, nos EUA. Mesmo assim, 5% não é exatamente uma probabilidade em que se apostaria dinheiro.

Foto: Climatempo

Foto: Shutterstock

No caso do chamado "aquecimento comprometido", o alemão Thorsten Mauritsen, do Instituto Max Planck de Hamburgo, e o americano Robert Pincus, da Universidade do Colorado, descobriram que ele não é tão grande assim: se o mundo parasse de queimar combustíveis fósseis e destruir florestas enquanto você lê este texto, apenas a inércia do sistema climático e o tempo enorme que os oceanos levam para absorver calor causaria um aumento médio de 1,3°C em relação à era pré-industrial - e máximo de 2,3°C.

"Uma vez que nós provavelmente continuaremos queimando combustíveis fósseis, não acho que isso seja uma notícia muito boa", disse Pincus ao Observatório do Clima. O trabalho da dupla, diferentemente de outras estimativas do aquecimento comprometido, não usou modelos de computador. Eles partiram de observações diretas do comportamento da Terra nos últimos anos: o tempo de vida do CO2 no ar, suas interações com outros poluentes e com aerossóis e a inércia do oceano para absorver calor. Com base nisso, calcularam o aquecimento comprometido na escala de um século e puderam compará-lo aos objetivos do Acordo de Paris.

A estimativa depende muito do que os oceanos vão fazer daqui para a frente. Segundo os pesquisadores, uma absorção de calor pelos mares poderia reduzir esse aquecimento comprometido em 0,4°C. O resultado disso é que, hoje, a humanidade tem de 13% a 32% de chance de já ter excedido a meta de 1,5°C no futuro, mesmo com zero emissão adicional, mas 97% de chance de conseguir .

Mauritsen diz que achava que a situação fosse ser pior. "Antes de começar o estudo, eu estava convencido de que nós já estávamos comprometidos com 1,5°C, e por isso fiquei irritado com o fato de o Acordo de Paris cogitar isso como meta", afirmou. "Mas nós descobrimos que há uma janela, pequena, mas que está se fechando, de atingi-la."

Pequena mesmo, segundo Adrian Raftery. "É improvável que fiquemos abaixo de 2°C em 2100 e muito improvável que fiquemos abaixo da meta de 1,5°C do Acordo de Paris", afirmou. "O nível mais provável de aquecimento é 3,2°C, se os esforços atuais para limitar a mudança climática continuarem."

Em seu artigo, o pesquisador americano e seus colegas usaram como ponto de partida os quatro cenários de emissão do IPCC, o painel do clima da ONU. A eles foram aplicadas informações sobre taxa de crescimento do PIB, população e sobre a chamada intensidade de carbono do sistema energético (que vem caindo à medida que as energias renováveis e o gás natural, menos poluente que o carvão, entram na matriz).

O estudo descarta como pouco realistas os dois cenários extremos do IPCC: o chamado RCP 8.5, no qual o aquecimento no fim do século excede os 4,5°C; e o RCP 2.6, no qual a sonhada estabilização em menos de 2°C é obtida. O mais provável é que fiquemos na trajetória de emissões médias - que é suficiente para causar estragos substanciais ao planeta. Além disso, as estimativas feitas pelo grupo sugerem que o objetivo de reduzir a zero as emissões líquidas no meio do século é improvável.

Para que isso acontecesse, dizem os pesquisadores, as emissões teriam de cair a uma velocidade muito maior do que a atual. Eles ressaltam que não dá para descartar que isso ocorra - mas não é como o sistema energético global vem se comportando nos últimos 60 anos.

Os dois estudos foram publicados no periódico Nature Climate Change.

Climatempo
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