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Vírus da zika inibe tumor de próstata, aponta estudo

Cientistas constataram que o vírus é capaz de inibir a proliferação de células desse tipo de câncer em pelo menos 50%

13 nov 2019 - 00h13
(atualizado às 08h46)
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Depois de provocar uma grave epidemia que resultou no nascimento de milhares de bebês com microcefalia, o vírus da zika vem revelando um aspecto tão inesperado quanto positivo: a capacidade de destruir tumores cancerígenos. Um novo estudo publicado na "Scientific Reports" por um grupo de pesquisadores da Unicamp constatou que o vírus é capaz de inibir a proliferação de células do câncer de próstata em pelo menos 50%.

O mosquito 'Aedes aegypti' é transmissor do zika vírus, da dengue e da chikungunya
O mosquito 'Aedes aegypti' é transmissor do zika vírus, da dengue e da chikungunya
Foto: USDA|Divulgação / Estadão Conteúdo

Não foi o primeiro estudo a constatar essa vocação benigna do vírus. O mesmo grupo da Unicamp, liderado por Rodrigo Ramos Catharino, já havia demonstrado que o patógeno também é eficaz no combate a células de tumores do cérebro. O grupo de especialistas está estudando o uso do vírus contra outros tipos de tumores malignos e espera que, em cinco anos, já tenha alguma terapia disponível para o público.

No último trabalho, publicado nesta terça-feira, 12, os cientistas da Unicamp usaram células de adenocarcinoma de próstata. Eles constataram que, mesmo depois de ser inativado, o vírus consegue inibir a replicação das células.

Os experimentos foram feitos com uma linhagem viral obtida a partir de amostras isoladas de um paciente infectado no Ceará, em 2015. Depois de cultivado em laboratório, o vírus foi aquecido a uma temperatura de 56ºC durante uma hora para que o seu potencial de causar uma infecção fosse inibido.

"Na versão 'selvagem' (sem passar pelo processo de inativação), o vírus poderia trazer efeitos indesejáveis e, portanto, não poderia ser usado como terapia", explicou Catharino.

O passo seguinte foi colocar uma cultura de células tumorais em contato com o vírus inativado. Após períodos de 24h e 48h, os cientistas compararam essa solução a um outro grupo de células cancerígenas que não tinham sido expostas ao vírus. Na análise feita após 48h, a linhagem que ficou em contato com o vírus inativado apresentou um crescimento 50% menor do que a linhagem controle.

"A gente avalia esses resultados como excelentes: uma redução real na atividade das células do tumor em mais ou menos 50%, o que já é excelente", disse o especialista. "Vemos, no futuro, uma terapia promissora."

O trabalho foi feito pela estudante de doutorado Jeany Delafiori com a colaboração do doutorando Carlos Fernando Odir Rodrigues e com apoio da Fapesp.

A linha de pesquisa do grupo teve início há cerca de quatro anos, quando foi descoberta a relação entre a epidemia de zika e o aumento dos casos de microcefalia no país. Depois que estudos confirmaram que o vírus era capaz de infectar as células neurais dos embriões, Catharino resolveu testar o vírus em linhagens de glioblastoma - o tipo mais comum e agressivo de câncer do sistema nervoso central. A redução, neste caso, foi de 40%

"O próximo passo da investigação envolve testes em animais", contou Rodrigo Catharino, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp e coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores. "Caso os resultados sejam positivos, pretendemos buscar parcerias com empresas para viabilizar os ensaios clínicos."

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 60 mil novos casos de câncer de próstata são registrados todos os anos no país. Trata-se do segundo tipo de câncer mais incidente entre os homens, atrás apenas do câncer de pele. O novembro azul é uma campanha internacional que visa chamar atenção para a prevenção e diagnóstico precoce da doença.

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